Na Europa Ocidental, a história da Alta Idade Média foi marcada

A Idade Média pode ser definida como o período compreendido entre a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e a queda de Constantinopla, capital do Império Bizantino. A cidade foi conquistada pelos turcos-otomanos em 1453, havendo ao mesmo tempo a formação dos Estados Nacionais europeus, dando início ao período chamado de Idade Moderna.

Porém, essa divisão temporal diz respeito à Europa, já que não se pode falar de uma Idade Média na América pré-colombiana, por exemplo. Foram historiados europeus que procederam a essa divisão da história do mundo, tendo por base as alterações verificadas ao longo do tempo nesse continente.

A Idade Média é dividida em dois períodos. O primeiro período é o da Alta Idade Média, compreendido entre os séculos V ao XI, e o segundo é o da Baixa Idade Média, ocorrido entre os séculos XII ao XV.

A Alta Idade Média, iniciada com a queda do Império Romano do Ocidente, em decorrência das invasões dos povos bárbaros, foi marcada pelo processo de ruralização da sociedade europeia. Fugindo dos ataques bárbaros, os povos do Império Romano que viviam nas cidades passaram a se dirigir para o campo, como forma de se protegerem dos ataques. Com os ataques e a permanência dos bárbaros nos territórios conquistados, aos poucos foi surgindo uma nova formação social, resultando da mistura das instituições romanas e germânicas.

Foi nesse período que se formaram os reinos bárbaros, como o Reino dos Francos, que após um processo de unificação de algumas regiões deu origem ao Império Carolíngio. Foi também na Alta Idade Média que a Igreja católica passou a ter a supremacia religiosa e cultural do continente, transformando-se na grande instituição dominante do período, já que também possuía grandes quantidades de terras.

No aspecto da organização econômica e social, foi na Alta Idade Média que se consolidou o feudalismo enquanto sistema de produção. As relações de servidão entre senhores e camponeses, e as relações de vassalagem entre distintos senhores feudais fortaleceram-se nesse longo período da história europeia. É válido ressaltar ainda que foi nesse período que houve o auge do Império Bizantino e a expansão da civilização mulçumana.

Na Europa Ocidental, a história da Alta Idade Média foi marcada

Afresco do monastério de Mileseva, na Sérvia. A religião foi o principal tema tratado nas obras de arte da Idade Média

A Baixa Idade Média foi o período em que se iniciou a desintegração do mundo feudal europeu. As consequências das cruzadas no âmbito comercial proporcionaram um renascimento do comércio com o Oriente a partir do século XII. Outro renascimento do período foi o Renascimento Urbano, decorrente do comércio nas feiras do interior do continente, que levou à expansão das cidades. Essas mudanças resultaram aos poucos na diminuição do poder cultural católico, abrindo espaço ao conhecimento baseado no que sobrou da cultura produzida por gregos e romanos, que encontraram difusão nas universidades criadas a partir do século XII.

O renascimento comercial e urbano levou ainda à paulatina desintegração do sistema feudal, transformando as relações pessoais de servidão e vassalagem em relações impessoais mediadas pelo dinheiro, principalmente dentro das cidades. As alterações nos regimes de trabalho, como o artesanato nas corporações de ofício, criaram as bases para o surgimento do capitalismo. O fim da Baixa Idade Média foi ainda marcado pela realização das Grandes Navegações e pelo início da centralização do poder político que resultou na formação dos Estados Nacionais.

A Idade Média chegou a ser chamada pelos pensadores do Renascimento de Idade das Trevas, devido ao suposto desaparecimento da cultura greco-romana efetuado pelas invasões bárbaras e o domínio da Igreja. Para esses pensadores, a dominação religiosa havia deixado na escuridão os conhecimentos antigos. Essa perspectiva não corresponde ao que realmente aconteceu, já que os conhecimentos antigos foram mantidos, pois caso contrário esses pensadores não saberiam da existência do conhecimento produzido por gregos e romanos.

Por Tales Pinto

Graduado em História

A Alta Idade Média é uma das fases da Idade Média, sendo estabelecida pelos historiadores como uma parte da divisão do período. Ela engloba os acontecimentos relativos ao século V até o século X e é marcada como um período de grandes modificações na Europa Ocidental. Essas mudanças levaram à construção do modelo clássico quando se refere ao medievo: o feudalismo.

A Alta Idade Média teve como ponto de partida a desagregação do Império Romano do Ocidente e a fixação dos povos germânicos nesses territórios. Novas características foram sendo desenvolvidas na Europa por conta da fusão da cultura de germânicos e romanos. Durante esse período, destacou-se a consolidação da Igreja e sua projeção como importante instituição.

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Divisão da Idade Média

A Idade Média é um dos períodos da história humana, segundo a divisão feita pelos historiadores, e esse período em específico é dividido em duas grandes fases que apontam momentos diferentes da Europa Ocidental. Ao todo, a Idade Média estendeu-se do século V, com a destituição de Rômulo Augusto do trono romano, em 476, ao século XV, com a queda de Constantinopla para os otomanos, em 1453.

Dentro da Idade Média, temos:

  • Alta Idade Média: século V ao século X;

  • Baixa Idade Média: século XI ao século XV.

Nesse texto, analisaremos especificamente a Alta Idade Média.

Início da Idade Média e o fim do Império Romano

Na Europa Ocidental, a história da Alta Idade Média foi marcada
Ruínas do foro romano como símbolo da decadência que levou ao fim do Império Romano do Ocidente, no século V.

A Idade Média e, por consequência, a Alta Idade Média, iniciou-se com a desagregação (o fim) do Império Romano do Ocidente. Esse acontecimento não determinou que as mudanças acontecessem de imediato, mas iniciou um processo que se estendeu por séculos e gerou modificações profundas na Europa Ocidental.

O fim do Império Romano do Ocidente foi o resultado final de uma crise que se estendeu desde o século III. A decadência romana é explicada por uma série de crises que atingiu o império: crise política, crise econômica e convulsão social. O último elemento dessa decadência foi a chegada de dezenas de povos germânicos.

A crise da economia romana está diretamente relacionada com a crise do sistema escravista do império. A produtividade romana dependia, em grande parte, do trabalho escravo, e quando o número de escravos começou a cair, a partir do século II, a economia romana sentiu o peso dessa queda. Com produtividade reduzida, o preço dos itens mais básicos aumentou e a economia desregulou-se.

A crise política também é um fator relevante, pois a corrupção e a disputa pelo poder em Roma eram fatores que traziam instabilidade para um império que já sofria com uma forte crise econômica e crescente insatisfação social. Essa insatisfação era causada pela desigualdade social que existia no império. A insatisfação dos pobres com Roma fez com que eles apoiassem grupos de invasores que chegavam às terras do império: os germânicos.

As invasões germânicas aconteciam havia séculos, mas ganharam força a partir do século III. Os germânicos eram povos que habitavam o norte das terras romanas e que começaram a migrar para as terras de Roma. Como não tinham autorização para entrar nelas, a saída dava-se por meio da guerra.

As invasões germânicas foram o grande fator que desestruturou um império que já estava bastante desorganizado. Cada povo germânico que migrava poderia contar com até 80 mil pessoas (incluindo guerreiros e não guerreiros). Eram dezenas de povos migrando, tais como os vândalos, os francos, os saxões, entre outros.

Os motivos que explicam as migrações dos germânicos são debatidos pelos historiadores até hoje, mas acredita-se que os eles estavam em fuga: primeiramente, devido à chegada de povos mais poderosos, como os hunos (que estavam migrando da Ásia Central); depois, para procurarem climas mais amenos e terras mais férteis a fim de sobreviverem.

Os germânicos saquearam e destruíram constantemente as terras romanas e chegaram a Roma, a capital do império. Em 410, os visigodos saquearam Roma; em 453, os hunos foram subornados para não atacar Roma; em 455, foi a vez dos vândalos saquearem a capital do império; por fim, os hérulos atacaram-na, em 476, e derrubaram o último imperador romano.

O vácuo de poder que se seguiu ao desmoronamento do Império Romano possibilitou os germânicos a instalarem-se na Europa Ocidental e a formar seus próprios reinos. Esses locais desenvolveram-se misturando a tradição germânica com a romana, e essa mistura formatou as características da Europa na Idade Média.

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Contexto europeu na Alta Idade Média

A Alta Idade Média foi um período de grandes transformações para a Europa, o modo de vida baseado na tradição romana modificou-se e novas realidades foram surgindo com a chegada dos germânicos. Seguem-se algumas informações que podemos destacar:

Depois que o Império Romano do Ocidente deixou de existir, a Europa passou por uma forte ruralização. Com isso, as grandes cidades esvaziaram-se e a população migrou, em massa, para o campo. Isso foi causado, sobretudo, pela devastação trazida pelos germânicos, uma vez que esses atacavam as grandes cidades com o objetivo de saqueá-las.

Além disso, a chegada dos germânicos afetou os locais produtores de alimentos (como a Península Ibérica) e o comércio. Com menor produção e um comércio instável, começou a faltar comida nas cidades. Em resumo, os germânicos trouxeram fome e violência para as grandes cidades romanas, e isso fez com que milhares de pessoas buscassem refúgio em locais isolados.

A desagregação do Império Romano foi um acontecimento tão catastrófico que resultou inclusive em redução no número da população europeia. Essa queda no número de habitantes foi resultado das guerras, entre romanos e germânicos; da fome, causada pela falta de alimentos; e das doenças que se espalharam por conta da guerra e da fome. Só em meados da Alta Idade Média (século VIII) é que a população começou a crescer de novo na Europa.

A Alta Idade Média também foi marcada pela consolidação de uma nova forma de trabalho na Europa: a servidão. Essa forma de trabalho estruturou-se como uma consequência da ruralização da Europa, pois milhões de pessoas mudaram-se para o campo e começaram a estabelecer-se ao redor de grandes propriedades rurais de romanos ricos.

Elas faziam isso para procurar a comida e a segurança que não tinham nas cidades romanas. Com isso, estabeleceu-se uma relação de dependência e exploração, na qual o servo/camponês dependia da terra para sobreviver e o dono das terras permitia que esse camponês tirasse seu sustento da terra, desde que ele pagasse impostos para utilizá-la, bem como suas instalações.

Essa forma de trabalho moldou de maneira bem consistente a sociedade medieval. Era uma sociedade estamental, e, portanto, existia pouca possibilidade de mobilidade social. A riqueza era algo definido, sobretudo, pela nobreza, e a nobreza vinha de sangue. Existia, portanto, o nobre e o camponês, mas também existia o clero, isto é, os representantes da Igreja Católica.

Na questão política, desenvolveu-se, na Alta Idade Média, uma relação de poder que foi uma das grandes marcas do período medieval: a vassalagem. Essa relação deu-se como uma necessidade dos reis de garantir a fidelidade de seus súditos. Foi desenvolvida durante a existência do Império Carolíngio, entre os séculos VII e VIII.

A vassalagem era necessária porque, na Alta Idade Média, o rei não era um governante absoluto e todo poderoso. Sendo assim, ele precisava reforçar o seu poder, e o apoio dos nobres que formavam seu reino era algo essencial para isso. Sendo assim, uma relação de fidelidade surgiu para alicerçar reis e nobres.

Na vassalagem, rei e nobre juravam fidelidade um ao outro. O rei (suserano) dava parte de suas terras para o nobre (vassalo) e, em troca, este lhe prestava auxílio para governar o reino e juntava-se para a guerra quando fosse necessário.

Acesse também: A origem do termo “idade das trevas", usado vulgarmente para definir a Idade Média

Na Europa Ocidental, a história da Alta Idade Média foi marcada
Uma das marcas da Alta Idade Média é a pouca utilização de moeda.

Por ser um mundo ruralizado, a economia na Alta Idade Média era basicamente dependente da agricultura. Assim, a riqueza obtida dava-se por meio do plantio de grãos, realizado pelos camponeses. Por ser um mundo marcado pelo isolamento e pela produtividade da agricultura ser baixa, o comércio era bastante fraco.

Existiam algumas trocas entre feudos vizinhos e alguns comerciantes itinerantes que instalavam pequenas feiras temporárias. Parte considerável desse comércio fazia-se pela troca, e a moeda circulante era quase inexistente. Quando se utilizava moedas, era sobretudo para momentos emergenciais.

Como as cidades eram pouco habitadas, o artesanato e outros tipos de ofícios eram pouco presentes. O artesanato era pouco produtivo por uma série de fatores: havia poucos consumidores, pouca matéria-prima e pouca mão de obra qualificada para a atividade.