Quais destes fatores podem ocasionar a surdez classificada como adquirida?

Exames audiométricos são necessários para todas as pessoas que têm perda auditiva, pois esses testes normalmente incluem

  • Medição de limiares tonais nas vias aérea e óssea

  • Limiar de recepção da fala

  • Teste do reflexo acústico

As informações obtidas a partir desses testes ajudam a determinar a necessidade de maior diferenciação entre perda auditiva neural e sensorial.

A audiometria tonal quantifica a perda auditiva. Um audiômetro proporciona sons de frequências específicas (tons puros) em intensidades diferentes, para determinar o limiar de audição do paciente (o quão alto deve ser o som, para ser percebido) para cada frequência. A audição em cada orelha é testada a partir de 125 ou 250 até 8.000 Hz por via respiratória (usando fones de ouvido) e até 4 kHz por via óssea (utilizando um oscilador em contato com o processo mastoide ou na testa). Os resultados dos testes são colocados em gráficos chamados audiogramas (ver figura Audiometria Audiograma da orelha direita em paciente com audição normal

Quais destes fatores podem ocasionar a surdez classificada como adquirida?
), que mostram a diferença entre o limiar auditivo do paciente e a audição normal em cada frequência. A diferença é medida em dB. O limite normal é considerado 0 dB nível de audição (NA); perda auditiva é considerada presente se o limiar do paciente é > 25 dB NA. Quando a perda auditiva é grave ao ponto de exigir tons fortes, sons intensos apresentados a uma orelha podem ser ouvidos na outra orelha. Em tais casos, um som de mascaramento, geralmente ruído de banda estreita, é apresentado para a orelha não testada, a fim de isolá-lo.

A logoaudiometria avalia o limiar de recepção de fala (SRT) e o índice de reconhecimento de palavras faladas. O SRT é a medida da intensidade na qual a fala é reconhecida. Para determinar o SRT, o examinador apresenta ao paciente uma lista de palavras em intensidades sonoras específicas. Essas palavras costumam ter 2 sílabas igualmente acentuadas. O examinador registra a intensidade com que o paciente repete 50% das palavras corretamente. O SRT estima, em média, o nível de audição nas frequências da fala (p. ex., 500, 1.000, 2.000 Hz).

O índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF) testa a capacidade de discriminar os vários sons da fala ou fonemas. Ela é determinada pela apresentação de 50 palavras monossilábicas, foneticamente equilibradas, à intensidade de 35 a 40 dB acima do SRT do paciente. A lista de palavras contém fonemas na mesma frequência. A pontuação é a porcentagem de palavras corretamente repetidas pelo paciente e reflete a capacidade de entender a fala em condições ideais de escuta. Pontuação normal varia de 90 a 100%. O IPRF é normal com perda auditiva condutiva, embora em nível maior de intensidade, mas pode ser reduzido em todos os níveis em casos de perda auditiva neurossensorial. A discriminação é ainda pior na perda auditiva neural do que na sensorial. Teste de palavras entendidas dentro de frases completas é outro tipo de teste de reconhecimento que é muitas vezes utilizado para avaliar candidatos a dispositivos implantáveis (quando o benefício do aparelho auditivo é insuficiente).

A timpanometria mede a impedância da orelha média quanto à energia acústica e não requer a participação do paciente. É comumente usada para triagem de crianças com efusões em orelha média. Uma sonda contendo uma fonte de som, microfone e um regulador de pressão de ar é colocada firmemente com um selo hermético dentro do canal auditivo. O microfone-sonda registra o som refletido a partir da membrana timpânica enquanto a pressão no canal é variada. Em geral, a complacência máxima da MT ocorre quando a pressão no canal auditivo é igual à pressão atmosférica. Padrões de conformidade anormais sugerem perturbações anatômicas específicas. Em obstrução tubária e efusão da orelha média, máximo de complacência ocorre com pressão negativa no canal da orelha. Quando a cadeia ossicular é interrompida, como em necrose ou deslocamento do processo longo da bigorna, a orelha média é excessivamente complacente. Quando a cadeia ossicular é fixa, como na ancilose do estribo na otosclerose, a complacência pode ser normal ou reduzida.

O reflexo acústico é a contração do músculo estapédio em resposta aos sons intensos, o que altera a conformidade da membrana timpânica, protegendo a orelha média de trauma acústico. O reflexo é testado por meio da apresentação de um tom e medindo qual intensidade provoca alteração na impedância da orelha média, notado pelo movimento da membrana timpânica. Um reflexo ausente pode indicar doença da orelha média ou um tumor do nervo auditivo. Qualquer perda auditiva condutiva abole o reflexo acústico. Além disso, a paralisia facial abole o reflexo porque o nervo facial inerva o músculo estapédio.

As linhas verticais representam as frequências que são testadas de 125 a 8.000 Hz. As linhas horizontais marcam os limiares nos quais o paciente ouve o som.

Limiares normais são 0 dB +/- 10 dB. Os pacientes com limiar auditivo abaixo de 20 dB são considerados tendo audição média ou melhor do que a média. Quanto maior o dB, mais alto é o som e pior é a audição.

"O" é o símbolo padrão para a condução do ar da orelha direita; "X" é o símbolo padrão para a condução do ar para a orelha esquerda. O “<”>" é o símbolo padrão para a condução óssea desmascarada da orelha esquerda.

A razão pela qual tanto as medidas mascaradas como não mascaradas são necessárias é para assegurar que uma das orelhas não está ouvindo o som apresentado para a outra orelha (uma orelha é 'mascarada' de modo que não ouça o som apresentado para a outra orelha, dando um valor falso).

Exames mais avançados, algumas vezes são necessários. RM com gadolínio do encéfalo, para detectar lesões do ângulo pontocerebelar, pode ser necessária em pacientes com exame neurológico anormal ou aqueles cujo teste audiológico mostra reconhecimento pobre de palavras, perda auditiva neurossensorial assimétrica ou uma combinação quando a etiologia não é clara.

A TC é feita se tumores ou erosão óssea são suspeitados. Realiza-se angiografia e venografia por ressonância magnética em caso de suspeita de anormalidades vasculares, como tumores glômicos.

O potencial evocado auditivo do tronco cerebral utiliza eletrodos de superfície, para monitorar a resposta de ondas cerebrais à estimulação acústica, em pessoas que não possam, de outro modo, responder.

A eletrococleografia mede a atividade da cóclea e do nervo auditivo, por meio de um eletrodo posicionado no tímpano. Ele pode ser usado para avaliar e monitorar pacientes com tonturas; pode ser utilizado em pacientes que estão acordados; e é útil no monitoramento intraoperatório.

A avaliação auditiva central mede a discriminação de uma fala distorcida, a discriminação na presença de um estímulo competitivo na orelha oposta, a capacidade de completar frases parciais em uma mensagem significativa e a capacidade de localizar sons no espaço, na presença de outros estímulos acústicos simultâneos em ambas as orelhas. Deve-se realizar esse teste em alguns pacientes, como crianças com problemas de leitura ou aprendizado e idosos que parecem ouvir, mas não compreender.

Definição

Perda Auditiva Relacionada ao Trabalho é geralmente conhecida como Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR). Entretanto muitos casos de adoecimento auditivo provocado pelo trabalho são decorrentes de outros fatores causais, como a vibração, calor e substâncias químicas, embora muito comumente o risco físico (ruído) seja o mais atribuído à perda auditiva.

A PAIR é provocada pela exposição prolongada ao ruído. É uma perda auditiva do tipo neurossensorial, geralmente bilateral, irreversível e progride com o tempo de exposição ao ruído (CID 10 – H 83.3).

A maior característica da PAIR é a degeneração das células ciliadas do órgão de corti ( ouvido interno), para qual não há tratamento eficaz e não há possibilidade de melhora mesmo após o afastamento ao trabalho (protocolo de PAIR/MS, 2006)

A perda auditiva relacionada ao trabalho é considerada uma das doenças mais frequentes na população trabalhadora estando presente em diversos ramos de atividade entre eles a siderurgia, metalurgia, gráfica, têxtil, construção civil, agricultura, transportes, telesserviços e outros.

São sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora de origem ocupacional.


Descrição

  • Sempre é neurossensorial, uma vez que a lesão é no órgão de Corti da orelha interna.
  • Geralmente é bilateral, com padrões similares. Em algumas situações, observam-se diferenças entre os graus de perda das orelhas.
  • Geralmente não produz perda maior que 40dB (NA) nas freqüências baixas e que 75dB(NA) nas altas.
  • A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído intenso.
  • Á medida que aumenta o limiar, a progressão da perda se dá de forma mais lenta.
  • A perda tem início e predomínio nas freqüências de 3, 4 ou 6 kHz, progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 kHz.
  • Em condições estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 6 kHz, geralmente atingirão um nível máximo, em cerca de 10 a 15 anos.
  • O trabalhador portador de PAIR pode desenvolver intolerância a sons intensos, queixar-se de zumbido e de diminuição de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comunicação oral. Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, 1998)

Causas

Diversos estudos mostram que outros agentes causais (químicos ou ambientais), atuando de forma isolada ou concomitante à exposição ao ruído, podem também ocasionar danos à audição. Dentre eles a exposição à vibração (britadeiras, por exemplo), calor (caldeiras, por exemplo) e substâncias químicas (combustíveis e solventes, por exemplo).


Sinais e Sintomas

a) Auditivos: Perda auditiva Zumbidos Dificuldades no entendimento de fala

sintomas auditivos menos freqüentes: intolerãncia a sons intensos,sensação de audição “abafada”, dificuldade na localização da fonte sonora

b) Não-auditivos: Transtornos da comunicação Alterações do sono Transtornos neurológicos Transtornos vestibulares Transtornos digestivos

Transtornos comportamentais

c) Outros efeitos do ruído Transtornos cardiovasculares

Transtornos hormonais


Diagnóstico/Tratamento/Reabilitação

Considerando que o trabalhador seja atendido no SUS , na suspeita de perda auditiva relacionada ao trabalho, o profissional da atenção básica deve encaminhar o trabalhador para rede de serviços de média e alta complexidade do SUS, para que possa ser submetido à realização de exames audiológicos, que tem por objetivo confirmar a existência de alterações auditivas.

É importante lembrar que o profissional de saúde também deve pesquisar informações sobre a história ocupacional do trabalhador a fim de detalhar a exposição e buscar relação entre esta e os sinais e sintomas apresentados.

Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST), atuam como retaguarda técnica especializada para as ações e serviços da rede SUS garantindo a continuidade e integralidade da atenção à saúde do trabalhador. Desta forma, na ocorrência de suspeita de Perda Auditiva Relacionada ao Trabalho os trabalhadores também podem ser referenciados para os CRST.

Não existe até o momento tratamento para PAIR. Deve-se notificar o caso e acompanhar a progressão de perda auditiva por meio de avaliações periódicas.

A PAIR não provoca incapacidade para o trabalho, mas pode ocasionar limitações na realização de tarefas.
Os casos devem ser avaliados individualmente para orientar ações de reabilitação do trabalhador e adequação do ambiente de trabalho.

Prevenção

O diagnóstico precoce pode evitar o agravamento da perda auditiva apresentada pelo trabalhador, além disso, norteará a busca ativa de novos casos neste ambiente de trabalho e permitirá que medidas de proteção individual e coletiva sejam adotadas, evitando assim o desencadeamento de perda auditiva em trabalhadores e o agravamento naqueles que já estão adoecidos.

As empresas devem manter um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), de acordo com a Norma Regulamentadora Nº 9 (NR 9), no qual os riscos no trabalho devem ser identificados, quantificados para adoção de medidas de prevenção e controle dos riscos e direcionamento do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), de avaliação da saúde dos trabalhadores, de acordo com a Norma Regulamentadora Nº 7 (NR 7).

As ações de controle da Perda Auditiva Relacionada ao Trabalho estão relacionadas ao controle de ruído: na fonte, na trajetória e no indivíduo. Podem conter medidas organizacionais, como: pausas, mudança de função e redução da jornada de trabalho. Além do controle de outros fatores como: as substancias química ototóxicas, vibração e calor


Notificação

Os casos de Perda Auditiva Relacionadas ao Trabalho devem ser notificados:

Ao SUS, na Ficha de Notificação do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação)

À Previdência Social, por meio da CAT (Comunicação da Previdência Social)

Fonte

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolos de Complexidade Diferenciada: Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), Nº 5. Brasília, 2006
SELIGMAN, J. Sintomas e sinais na PAIR. In: NUDELMANN, A.A. et al. Pair - Perda Auditiiva Induzida pelo Ruído. Rio de Janeiro, Revinter, 2001)

Clique para abrir os documentos:

Ficha de Notificação

Instruções para preenchimento

Manual de Construção e Análise de Base de Dados em Audiologia

Protocolo da Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair)