A Mata Atlântica é um dos biomas mais biodiversos do mundo e tem extrema importância ambiental para a regulação do clima e do abastecimento de água na região e arredores. Contribui também para o desenvolvimento econômico através do turismo e da produção de fibras, madeiras, óleos e outras recursos, além de seu valor histórico-cultural, pois abriga diversas comunidades tradicionais carregadas de história. Dia 27 de maio é o Dia da Mata Atlântica e o IIS presta uma homenagem falando sobre importância desse bioma brasileiro e de sua conservação.
O geógrafo e ambientalista Mário Mantovani destaca que cerca de 60% dos brasileiros vivem na área onde originalmente o bioma se estendia A Mata Atlântica – uma das maiores biodiversidades do planeta – é um bioma brasileiro que se estende do Piauí até o Rio Grande do Sul, abrangendo 3.429 municípios, cerca de 60% da população e a maior parte do PIB brasileiro. “Ou seja, pressão total em cima dessa floresta”, avalia o geógrafo e ambientalista Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica. Quando perceberam que o Brasil perdia em floresta o equivalente a um campo de futebol a cada quatro minutos, e que havia apenas 8% da área original, “começamos a perceber que era preciso estancar a hemorragia”, lembra em entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line. Para compreender a importância do bioma, Mantovani destaca um dos principais benefícios da floresta: “A água que a gente bebe vem da floresta”. Sem a mata, não se cumpre o ciclo da água. A cobertura florestal também interfere diretamente na temperatura dos microclimas. Para conscientizar as pessoas acerca da necessidade de preservar a mata e de restaurar áreas degradadas, Mantovani aposta no relacionamento das florestas com qualidade de vida. “Este é o grande esforço que temos para a sociedade entender, foi por isso que evitamos o colapso.” Mário Mantovani é geógrafo e diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, criada em 1986, primeira organização não governamental destinada a defender os últimos remanescentes de Mata Atlântica no país. Ele é um dos mais importantes militantes pela preservação ambiental do país, em atuação desde 1973. No dia 13 de junho, das 19h30min às 22h, ele profere a conferência Mata Atlântica e seus ecossistemas. Desmatamento, conflitos e políticas ambientais, dentro da programação do evento Os biomas brasileiros e a teia da vida, promovido pelo IHU. Veja a programação completa. Confira a entrevista. IHU On-Line – A Mata Atlântica cobre o Brasil do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul... IHU On-Line – Quais as especificidades desse bioma, que abrange regiões tão distintas, e seus ecossistemas? IHU On-Line – Nem o Pampa. A questão da biodiversidade é muito importante. Outra questão é a definição dos biomas e a importância de se ter uma legislação. A legislação da Mata Atlântica foi construída pela sociedade. Isso é muito legal. Houve um debate nacional, uma mobilização muito grande para entender o que era bioma, para estancar a hemorragia. Artistas, universidades – principalmente universidades, que definiram biomas –, organizações não governamentais, sociedade civil, o que se puder imaginar aconteceu de mobilização. Nós conseguimos fazer uma legislação que fosse uma lei muito interessante, porque a palavra não inexiste nela. Não é aquele esquema não pode, não faz, não acontece. É uma lei que diz o que pode. No seu caput, é dito que a lei garante o uso e a proteção da floresta. Não imobiliza. Em 1992, o Lutzenberger – quando viu este dado que se perdia da floresta o equivalente a um campo de futebol a cada quatro minutos, e que só havia ainda 8% – fez o Decreto 750 , que foi promulgado no ano seguinte. O texto dizia não pode, não pode, não pode, e na dúvida, não pode também. Isso foi muito ruim, todo mundo passou a odiar a floresta, porque estava todo mundo incriminado. A Lei da Mata Atlântica, que foi construída por todo mundo, tira essa coisa do não pode e apresenta o como pode se fazer. Aí aconteceu algo muito legal. Como todo mundo estava ligado nisso, ou amava ou odiava, conseguimos que cada um dos 17 estados onde há Mata Atlântica regulamentasse o que ela é. Não é aquela lei de Brasília, que nunca vai se cumprir. Cada região definiu conforme suas especificidades. Por exemplo, a definição de uma floresta secundária em estágio médio no Rio Grande do Sul é diferente da elaborada em Santa Catarina ou no Paraná. Isso garantiu uma atenção maior do poder público em relação à floresta e suas especificidades. É um bioma que, do ponto de vista institucional, está totalmente regulamentado da Constituição até chegar ao município. E hoje os municípios – e talvez esta seja a questão mais importante – podem fazer valer a Lei da Mata Atlântica com os planos municipais . Isso foi muito bom, porque o município, além da regulamentação feita pelos estados, pode agir se tiver alguma questão própria. Como fez Caxias do Sul, o caso que eu mais gosto no Brasil, onde há um dos melhores trabalhos em meio ambiente do país. Lá fizeram o plano municipal, provando que as pequenas propriedades não destroem a Mata Atlântica – pelo contrário, elas garantem. IHU On-Line – Como compreender a função desse bioma no grande conjunto dos ecossistemas brasileiros e sua relação com o Oceano Atlântico, já que é o primeiro bioma para quem entra no continente vindo do mar? Com relação a outros biomas, na Mata Atlântica está a maioria da população brasileira e das cidades. Isso é muito importante: reconhecer que essa floresta está no nosso quintal e como poder recuperá-la. O Brasil assumiu agora uma meta de restauração florestal, por meio do Acordo de Paris , de restaurar 12 milhões de hectares e pastos. Hoje, onde há mais mata degradada é na Mata Atlântica. Do ponto de vista dos biomas, a Mata Atlântica é o que tem mais impacto direto na vida dos brasileiros. Por isso há muita pressão, até por conta do tamanho dela. Temos o calor extremo no Piauí e o frio extremo no Rio Grande do Sul. É uma floresta de grande diversidade de espécies, porque vai do nível do mar até as montanhas de Minas Gerais. A floresta tem uma característica muito diferenciada, muito distinta do Cerrado, por exemplo, onde há tanta diversidade, mas há uma homogeneidade. A Amazônia é muito homogênea. A Mata Atlântica, ao contrário, tem mangues, restingas, araucária, entre outras fisionomias florestais. Esta riqueza é diferente. Todo esse conjunto que forma o bioma interage com a Amazônia e com o Cerrado nas zonas de transição. Por exemplo, no meio do estado de São Paulo, tem Cerrado, mas com cara de Mata Atlântica, porque tem uma mistura. Esta é a característica mais marcante da Mata Atlântica. IHU On-Line – Qual a atual situação do bioma Mata Atlântica? Em que regiões do Brasil é mais degradado e em que lugares é mais preservado? IHU On-Line – O que mais contribuiu para degradação da Mata Atlântica foi o adensamento urbano, o fato de ela ser costeira? IHU On-Line – Quais os maiores desafios para a preservação e as maiores ameaças ao bioma? IHU On-Line – De que forma o desequilíbrio no bioma pode impactar nas reservas hídricas do Brasil? IHU On-Line – Como a degradação dos rios impacta no bioma Mata Atlântica? IHU On-Line – A Mata Atlântica era tida como o primeiro desafio para os exploradores que chegavam ao Brasil. Ao longo da história, o bioma sempre foi muito desmatado em decorrência do avanço da população e suas atividades econômicas. Mas, hoje, por que o desmatamento persiste? Quais os limites e avanços da legislação brasileira para proteção desse bioma? Ainda sobre a pressão da economia, hoje vemos a questão dos portos em alguns lugares. A maior biodiversidade do planeta está em Itacaré, na região de Serra Grande, na Bahia. Agora propuseram fazer um porto em cima desta área, que poderia ser uma referência para um bioma que está no limite. Lá poderia ser o banco genético dessa floresta. Outro problema muito grande da floresta – e isso pode ser o mais importante do que estamos falando – é o fato de que termos 8% de floresta remanescente não quer dizer que se trata de uma área integral. São milhares e milhares de pequenas ilhas, fragmentos de florestas que estão dentro das propriedades, isoladas por agricultura. Com isso, tem um fenômeno que se chama efeito de borda. Fogo, veneno, vento, semente, tudo isso vai agredindo o fragmento que está isolado. Outro fenômeno que ocorre pelo fato de uma porção da mata estar isolada se chama erosão genética. Ele ocorre quando as espécies acabam se reproduzindo entre elas. Além da expansão urbana e do repique da economia, ainda há esses problemas seríssimos da erosão genética e do efeito de borda, que precisamos combater de alguma forma. IHU On-Line – O fato de haver metrópoles na Mata Atlântica ajuda a devastar. Por outro lado, isso não daria mais consciência de preservação? IHU On-Line – Até porque é uma pauta contemporânea, e a escassez do recurso hídrico ameaça as metrópoles. IHU On-Line – Já se pode falar em colapso ambiental ou seria muito drástico? Quando se fala em apenas 8% da floresta original parece tão ínfimo. IHU On-Line – O senhor falou antes em meta de restauro. Que meta é esta? IHU On-Line – Esta meta é em quanto tempo? IHU On-Line – A mata é facilmente regenerável? IHU On-Line – É uma mistura de conscientização com altos recursos.
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