O que quer dizer Bem-aventurados os que choram pois serão consolados

No Evangelho de מתתיהו “Matityahu”, que é Mateus 5:4, no estudo das dez bem aventuranças, Jesus prossegue com as exclamações e de forma magnífica declara, “Bem aventurados os que choram…”.

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Mateus 5:4

Quando leio esse versículo, vejo uma palavra de consolo muito forte e muito bonita. Entretanto, sempre me perguntei quem seriam esses, “os que choram”.

Há tanta tristeza no mundo, com suas injustiças praticadas de uns para com outros. Há mortes, guerras, fomes, pobrezas. De quem Jesus estava falando? Quem são eles? E por qual razão estão chorando?

De uma forma geral, a palavra “os que choram”, em Hebraico, é o termo הָאֲבֵלִים “haavelim”. Veja na imgem abaixo o verso 4 de Mateus 5 no original:

O que quer dizer Bem-aventurados os que choram pois serão consolados
O que quer dizer Bem-aventurados os que choram pois serão consolados

Ashrey ha avelim ki hem yenuchamu.

A raiz da palavra “haavelim”, “os que choram”, é dada pelas letras אבל, “aval”, que corresponde a uma conjunção adversativa, ou seja, uma palavra que expressa adversidade, e contraste de ideias.

Os que choram, de forma geral, são os que vivem em adversidade. Mas esse significado não responde completamente a pergunta desse estudo bíblico. Podemos sem dúvida chegar a uma conclusão mais específica.

Então vamos continuar a nossa “investigação”, para descobrir por que são bem aventurados os que choram, e quem são eles. Acompanhe abaixo.

Quem são os que choram?

Não podemos esquecer que a exclamação de Jesus, “bem aventurados os que choram”, não está isolada do restante das bem aventuranças. E é uma continuidade da bem aventurança anterior, sobre “os pobres de espírito“.

Isso é o que chamamos de repetição poética, denominada de paralelismo Hebraico. Aqueles que choram são os mesmo que são pobres de espírito. Estão apenas sendo descritos com termos diferentes.

Jesus, como no nosso estudo anterior, continua fazendo referência ao texto do Profeta Isaías, no capítulo 66:10, 13, e Zacarias 12:10. Na verdade, conforme continuarmos o desenvolvimento dos estudos sobre as bem aventuranças, veremos que elas são um comentário de Jesus sobre Isaías 66.

Veja esses versos:

Regozijai-vos com Jerusalém, e alegrai-vos por ela, vós todos os que a amais; enchei-vos por ela de alegria, todos os que por ela pranteastes;
Isaías 66:10

Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.
Isaías 66:13

Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e prantearão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito.
Zacarias 12:10

Bem aventurados os que choram

As palavras que lemos nos versos citados acima, trazem a imagem de pessoas que choram e lamentam em um funeral.

Na cultura Judaica da época dos Profetas e de Jesus, o costume de choro e lamento por um ente falecido, fazia com que uma pessoa rasgasse as suas roupas como demonstração de consideração e tristeza.

Muitos usavam “roupas de saco”, e lançavam cinzas sobre suas cabeças. Quando Jesus (Yeshua em Hebraico), morreu na cruz, Deus também rasgou a sua veste – o véu do Templo se partiu de alto a baixo.

O que quero dizer, é que como vimos no início deste estudo, os que choram são de uma forma geral aqueles que vivem uma vida de adversidade e de dificuldade, passando por tremendas injustiças.

Porém há um segundo sentido para essa expressão, que mostra que são aqueles que choram, e que se importam com a morte do Messias na cruz. Esses se emocionam, choram e ao mesmo tempo rendem graças quando leem a história da crucificação.

Quem é o homem que crê em Deus e não se comove com a injustiça que foi imposta a Jesus na cruz. Ele assumiu os erros que não eram Seus. Era a expressão máxima do amor de Deus.

Os que choraram, e os que choram com Ele, muito em breve serão realmente consolados.

Porque eles serão consolados

As palavras “serão consolados”, correspondem ao termo Hebraico, יְנֻחֲמוּ “yenuchamu” (lê-se ienurramu), um verbo cuja raiz é a palavra נחם “nacham” (lê-se narram), “conforto”.

O termo נחם “nacham” está diretamente envolvido na história de um personagem do livro do Gênesis, cujo nome também se origina dessa raiz – נח Noach (lê-se nôar), “Noé”.

A quem chamou Noé, dizendo: Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho…
Gênesis 5:29

Conforme vimos no verso acima, Noé teve a missão de “consolar”, na sua geração. E sabemos que no meio de uma geração perversa, e violenta, o consolo veio por meio da grande salvação, providenciada através da arca.

A arca de Noé é uma tipologia de Jesus. O mundo antigo foi salvo por meio da arca, e de igual forma, o mundo será salvo por meio do Messias.

Os que se importam, que se comovem, que choram, que confessam e creem no Seu nome, embora possam passar por muitas “tempestades“, adversidades e injustiças neste mundo, um dia serão consolados com a salvação por meio de Jesus.

Essa é uma promessa irrevogável, para todos que aguardam a redenção. Nesse dia serão bem aventurados os que choram. Mas para os que não dão crédito, será um dia de juízo.

Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?
Apocalipse 6:17


Novembro de 2020

Quem nunca chorou na vida? E quem não conheceu pessoas cuja dor extravasava através das lágrimas? Mais ainda: quando os meios de comunicação trazem para dentro de casa imagens do mundo inteiro, corremos até mesmo o risco de nos acostumarmos, de endurecermos o coração diante da enxurrada de sofrimentos que ameaça nos submergir.

Também Jesus chorou[1] e conheceu o lamento do seu povo, vítima da ocupação estrangeira. Muitos doentes, pobres, viúvas, órfãos, marginalizados, pecadores acorriam a Ele para escutarem a sua Palavra tranquilizadora e serem curados no corpo e na alma.

No Evangelho de Mateus, Jesus é o Messias que cumpre as promessas que Deus fez a Israel e por isso anuncia:

“Bem-aventurados os que choram, pois eles serão consolados.”

Jesus não é indiferente diante das nossas aflições e se empenha pessoalmente em curar o nosso coração da dureza do egoísmo, em preencher a nossa solidão, em dar vigor à nossa ação.

É o que nos diz Chiara Lubich, no seu comentário a essa mesma frase do Evangelho: Jesus, com essas suas palavras, não quer levar quem é infeliz a uma simples resignação, prometendo uma recompensa futura. Ele pensa também no presente. Com efeito, o seu Reino, embora não de modo definitivo, já está aqui. Ele está presente em Jesus que, ressuscitando de uma morte sofrida na maior aflição, venceu a morte. Está presente também em nós, no nosso coração de cristãos, pois Deus está em nós. A Trindade veio habitar em nossos corações. Por isso, a bem-aventurança anunciada por Jesus pode realizar-se desde já. (...) Os sofrimentos podem até permanecer, mas existe uma nova força que nos ajuda a carregar as provações da vida e a socorrer os outros nas suas dificuldades, para que as superem, vendo-as como Jesus as viu e as acolheu como meio de redenção.[2]

“Bem-aventurados os que choram, pois eles serão consolados.”

Na escola de Jesus, podemos aprender a ser, uns para os outros, testemunhas e instrumentos do amor terno e criativo do Pai. É fazer nascer um mundo novo, capaz de sanar a convivência humana pela raiz e de atrair a presença de Deus entre os homens, fonte inesgotável de consolação para enxugar toda lágrima.

Vejamos como Lena e Philippe, do Líbano, partilharam a própria experiência com os amigos da comunidade eclesial:

Caríssimos, queremos agradecer-lhes pelos seus votos de felicidade por ocasião da Páscoa, tão especial este ano. Estamos bem e procuramos ter cuidado em não nos expormos ao vírus. Todavia, atuando na linha de frente da ação “Parrainage Liban” [3], não podemos ficar sempre em casa e saímos geralmente a cada dois dias, para atender às necessidades urgentes de algumas famílias: dinheiro, roupas, alimentos, produtos farmacêuticos etc... Já antes da Covid-19, a situação econômica do país era muito difícil e agora piorou, como no mundo inteiro. Mas a Providência não falta: a última chegou na semana passada de um conterrâneo que mora fora do Líbano. Ele pediu que Lena fizesse chegar a doze famílias, durante todo o mês de abril, uma refeição completa, três vezes por semana. Uma bela confirmação do amor de Deus, que não se deixa vencer em generosidade.

Letizia Magri

[1] Cf. Jo 11,35; Lc 19,41.

[2] LUBICH, Chiara, O significado da dor, Palavra de Vida, novembro de 1981.

[3] Lena explica: A ação “Parrainage Liban” (Patrocínio Líbano) começou em 1993 com um grupo de famílias que viviam a Palavra de Vida, para ajudar uma mãe com cinco filhos cujo marido estava preso. Até agora ajudamos cerca de 200 famílias, de todo o Líbano, independentemente de religião. Nossos colaboradores se dedicam de várias maneiras a restabelecer a autonomia das famílias, com visitas domiciliares, busca de moradia e de trabalho, ajuda para os estudos. Somos sustentados economicamente por uma centena de pessoas e empresas que acreditam em nossa ação.