Com base no que afirma o autor, a defesa de uma cultura livre dependeria

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Com base no que afirma o autor, a defesa de uma cultura livre dependeria

(09/Ago) Prova com questões respondidas - Professor de Filosofia - Colégio Pedro II - RJ - 2013
 

PROVA PRELIMINAR - FILOSOFIA Questão 1 De acordo com Jean-Pierre Vernant, a polis nascente vive uma efervescência religiosa que contribui para formar uma nova imagem da areté, da excelência, da virtude, condizente com a nova organização política e social. Assinale a opção que NÃO condiz com as características dessa nova areté. A) A virtude depende de um exercício longo e rigoroso, que exige um domínio constante de si mesmo. B) A proporção, o que é ponderado e mediador, é valorizada em oposição ao excesso e à desmedida. C) O fausto, a moleza, a riqueza e o luxo são denunciados por causa das divisões e dos ódios que suscitam. X D) O valor pessoal é inato e se manifesta no valor do combate e na opulência do gênero de vida. Questão 2 - ANULADA Questão 3 "De Persuasão é o caminho (pois à verdade acompanha)" (fr. 2). A persuasão de que Parmênides fala se diferencia da que é objeto da sofística porque a persuasão: A) parmenídica está ancorada na verossimilhança das coisas. X B) parmenídica se identifica com a necessidade lógica do pensamento. C) sofística está sempre em contradição com a necessidade lógica. D) sofística mantém-se no nível da opinião verdadeira. Questão 4 - ANULADA Questão 5 De acordo com a compreensão aristotélica das causas, exposta no quinto livro da Metafísica, o arquiteto pode ser considerado a causa de uma construção: I. enquanto alguém que é capaz de construí-la; nesse caso, ele é sua causa em potência. II. como arquiteto em geral; nesse caso, ele é sua causa enquanto substrato. III. como o arquiteto específico que a construiu; nesse caso, ele é sua causa acidental. Considerando as assertivas acima, está(ão) correta(s) apenas: A) I B) III C) I e II X D) I e III Questão 6 No quinto livro da "Ética a Nicômaco", Aristóteles afirma que o homem pode ser justo ou apenas agir justamente. A diferença mencionada repousa sobre a distinção entre os atos: X A) realizados por escolha, por deliberação prévia; e os atos realizados sem deliberação prévia, ainda que, em ambos, o ato seja voluntário, ou seja, o agente aja sem ignorar a pessoa atingida pelo ato, o instrumento utilizado e o fim almejado. B) justos essencialmente, isto é, realizados voluntariamente e cujos resultados são também justos; e os atos justos por mero acidente, pois, apesar de serem cometidos voluntariamente, acidentalmente têm consequências injustas. C) realizados voluntariamente, isto é, com conhecimento de causa, sem ignorar a pessoa atingida pelo ato, o instrumento usado e o fim a ser alcançado; e os atos realizados involuntariamente, sem conhecimento de causa. D) naturalmente justos, isto é, que estão de acordo com uma justiça imutável, sendo assim reconhecidos em todos os lugares; e os atos justos por convenção, a princípio indiferentes, mas que deixam de sê-lo ao se instituir uma norma a seu respeito. Questão 7 - ANULADA Questão 8 A análise de Aristóteles sobre a tragédia, na Poética, segue três eixos norteadores: a) quais são os efeitos desse tipo de obra de arte no ser humano; b) como esses efeitos podem ser alcançados; c) quais são as suas consequências para a vida na polis. Dessa análise, segue-se que o efeito: X A) trágico é alcançado pela identificação do espectador com o herói, purificando os sentimentos de terror e piedade que levariam o homem à desmesura. B) catártico proporcionado pela tragédia produz no espectador a aprendizagem dos sentimentos de terror e piedade, exemplos de justa medida. C) catártico produz um ensinamento teórico dos limites e possibilidades da vida na polis, por meio da narrativa das peripécias do herói. D) trágico acontece por meio da disseminação dos sentimentos de terror e de piedade, propiciando ao animal político o necessário para agir de forma virtuosa. Questão 9 "Disse há pouco, Mênon, que você é um brincalhão. E aí está você me perguntando se posso instruí-lo, quando digo que não há aprendizado, mas lembrança" (Platão. Mênon). "Afirmo que a finalidade da palavra é dupla: ensinar ou evocar recordações nos outros ou em nós mesmos" (Agostinho. Sobre o mestre, I). A partir dos textos acima, pode ser apontada como uma tese comum a Platão e a Agostinho que: A) a instrução estética é o método pedagógico por excelência. B) a ataraxia é a meta filosófica da ação pedagógica. X C) a anamnese é a principal tarefa pedagógica. D) não é possível nenhuma tarefa educativa. Questão 10 "Em todas as coisas que se ordenam a um fim que pode ser alcançado de diversos modos, faz-se necessário algum dirigente para que se possa alcançar o fim do modo mais direto." (AQUINO, Tomás de. A realeza: dedicado ao Rei de Chipre, I, 1). Segue-se dessa tese política de Tomás de Aquino que: A) a autoridade é necessária devido à incapacidade humana de vislumbrar e alcançar coletivamente o bem comum. X B) a autoridade é a instância para regrar a cooperação social, proporcionar o funcionamento correto da sociedade e produzir o bem comum. C) dado que Deus dotou todos os homens com a luz natural da razão, a autoridade é consequência imediata e necessária dessa condição. D) somos, por natureza, seres que vivem em grupo e cooperam, e, por essa razão, basta a lei natural para regular a vida em sociedade. Questão 11 "Sons vocais são signos subordinados aos conceitos ou intenções da alma (...) porque essas palavras são criadas por imposição para significar as coisas elas próprias - que são significadas pelos conceitos na mente, de modo que primeiro o conceito significa uma coisa de modo natural e em seguida o som vocal significa a mesma coisa." (OCKHAM. Summa totius logicae). A sentença que melhor explica a afirmação de Ockham é: A) tanto sons vocais quanto conceitos são convencionais. B) tanto sons vocais quanto conceitos significam algo de modo natural. C) sons vocais significam algo de modo natural, conceitos são convencionais. X D) sons vocais são convencionais, conceitos significam algo de modo natural. Questão 12 Se, por um lado, Maquiavel é lido como "teórico da força", por outro, interpretações recentes de sua obra destacam preocupações a respeito da constituição de sociedades livres. Entre os textos abaixo, aquele que melhor expressa essas preocupações republicanas do autor é: X A) "... logo que se impõe uma tirania sobre uma cidade de vida livre, o menor mal que disso resulta à cidade é deixar de progredir, de crescer em poder ou em riquezas." B) "... é necessário para um príncipe que queira se conservar aprender a não ser bom e disso se valer segundo a necessidade". C) "um senhor prudente não pode nem deve observar a palavra dada quando esta voltar-se contra ele e quando as razões que o fizeram prometer desaparecerem". D) "é preciso, porém, que [um príncipe] tenha um ânimo predisposto a mudar conforme os ventos da fortuna e as variações das coisas o exigirem". Questão 13 A resolução expressa na segunda máxima da moral provisória de Descartes é: "ser o mais firme e o mais decidido possível em minhas ações e de seguir as opiniões as mais duvidosas, uma vez me tivesse resolvido por elas, com a mesma constância que o faria se fossem muito seguras". (Discurso do método, III) Sem poder partir de bases seguramente estabelecidas para os preceitos morais, Descartes justifica tal máxima: A) pela urgência das ações da vida cotidiana que exige que decidamos como agir com base apenas na probabilidade, impossibilitando quaisquer reconsiderações. X B) pelo fato de que, por mais frágeis que sejam as razões que nos levaram a tomar alguma decisão, elas impedem que fiquemos estagnados ou vaguemos sem rumo. C) pela capacidade que essa máxima tem de nos livrar dos remorsos e arrependimentos que agitam as consciências dos espíritos inconstantes e frágeis. D) pela nossa incapacidade de modificar as circunstâncias externas que demandam nossas ações, podendo agir apenas sobre nossos pensamentos e resoluções. Questão 14 "É evidente por que razão o homem é animal político mais do que toda a abelha ou mais do que todo o animal gregário. Com efeito, como dizemos, a natureza não faz nada em vão. E dos animais somente o homem tem a palavra. (...) O discurso [do homem] é para tornar claro o que convém e o que é prejudicial, como também o que é justo e o que é injusto. Ao comparar os homens aos outros animais, vê-se que isso lhes é próprio: ter a sensação do bem e do mal, do justo e do injusto, e de outras. O conjunto dessas sensações (aisthéseis) é que faz a família e a cidade-estado". (Aristóteles, Política, I) "Deus, tendo criado o homem como um ser sociável, criou-o não apenas com uma disposição e uma necessidade de relacionar-se com outros indivíduos de sua espécie, mas o fez dotado de linguagem, como o grande instrumento e elo comum da sociedade." (LOCKE. Ensaio sobre o entendimento humano, III, 1, 1). A partir dos textos acima, pode ser apontada como uma tese comum a Aristóteles e a Locke: X A) A linguagem é condição da dimensão política do homem. B) A linguagem é consequência da dimensão política do homem. C) Natureza ou Deus cuidam providencialmente do convívio social do homem. D) Natureza ou Deus diferenciam homens e animais por sua capacidade sonora. Questão 15 No capítulo XIV da primeira parte do "Leviatã", Hobbes, coerentemente com sua compreensão mecanicista da natureza humana, define a liberdade como: A) o poder que o homem possui de preservar sua própria vida, fazendo, para isso, tudo que seu julgamento e razão indicarem como meios adequados para tal fim. B) o preceito ou regra geral da razão que obriga o homem a evitar tudo aquilo que pode destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la. X C) a ausência de impedimentos externos, que podem limitá-la, mas não podem impedi-la de se exercer para além de sua capacidade restritiva. D) o direito do homem de usar todos os meios necessários para preservar sua própria vida e para buscar a paz, sem a qual sua vida estaria em risco constante. Questão 16 "Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de certo e de errado, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. (...) A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito." (HOBBES. Leviatã. XIII) "Nós estabelecemos anteriormente que todas as coisas são determinadas e que na Natureza não há bem nem mal." (ESPINOSA. Tratado breve. IV) Sobre a existência em si mesma ou não de noções éticas, pode-se dizer que Hobbes e Espinosa concordam que: A) existem em si mesmas e devem ser inteligidas, como tais, pelos homens. B) não existem em si mesmas e tampouco podem ser construídas pelos homens. C) não sabemos se existem ou não, pois são inacessíveis ao intelecto humano. X D) não existem em si mesmas, mas são construídas pelos homens. Questão 17 Diante da diversidade de gostos verificável entre os homens, Hume e Kant refletiram sobre o papel da razão e do sentimento na experiência estética. A opção que expressa a tese correta a respeito dessa temática é: X A) Para Hume, o padrão de gosto é fundado na experiência e na observação da natureza humana. B) Para Hume, a razão não tem nenhum papel no juízo de gosto, sendo geralmente fonte de preconceito. C) Para Kant, o juízo de gosto não pode ser referido a um sentimento, isto é, não pode ser subjetivo. D) Para Kant, o padrão de gosto é um conjunto de regras, cuja demonstração se dá a priori. Questão 18 "Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, obedeça portanto apenas a si mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente." (ROUSSEAU. Do contrato social, I, 6) A opção que melhor expressa a solução encontrada por Rousseau para essa questão fundamental é: A) a identificação da vontade soberana com a soma das vontades individuais (garantindo a cidadania). X B) a associação de todos como cidadãos (membros do soberano) e como súditos (submetidos às leis). C) a fundação da sociedade civil sobre o direito natural à liberdade, que todos possuem. D) o contrato social como recusa dos associados em se alienarem sem reservas a toda a comunidade. Questão 19 Na introdução a sua "Crítica da razão pura", para mostrar que possuímos certos conhecimentos a priori, Kant realiza uma operação similar a de Descartes ao distinguir entre as qualidades primárias e secundárias das coisas. Essa operação se encontra na seguinte passagem: A) "O conceito do mais curto é (...) acrescentado inteiramente e não pode ser extraído do conceito de linha reta por nenhum desdobramento. Portanto, se tem que recorrer aqui à ajuda da intuição, unicamente pela qual é possível a síntese." B) "(...) costuma-se dizer, acerca de algum conhecimento derivado de fontes da experiência, que somos capazes ou participantes dele a priori, pois não o derivamos imediatamente da experiência mas de uma regra geral, que nós mesmos, contudo, tomamos de empréstimo à experiência". C) "(...) a experiência jamais dá aos seus juízos universalidade verdadeira ou rigorosa, mas somente suposta e comparativa (por indução), de maneira que temos propriamente que dizer: tanto quanto percebemos até agora, não se encontra nenhuma exceção desta ou daquela regra." X D) "Em vosso conceito de experiência de um corpo, renunciai aos poucos a tudo o que nele é empírico: à cor, à dureza ou à maleabilidade, ao peso e mesmo à impenetrabilidade, mesmo assim resta o espaço que ele (agora completamente desaparecido) ocupou e o qual não podeis suprimir." Questão 20 A respeito do pensamento moral de Hume, pode-se afirmar que: A) é preciso derivar "deve" de "é", ou seja, juízos de valor de juízos de fato. B) moral e razão são princípios inativos, incapazes de gerar ações diretamente. X C) relações causais regulares podem ser atribuídas às ações humanas. D) assim como a identidade pessoal, a natureza humana está em constante fluxo. Questão 21 Schiller, em "A educação estética do homem numa série de cartas", afirma que a cultura estética torna possível ao homem "aprender a desejar mais nobremente, para não ser forçado a querer de modo sublime". A esse respeito, segundo o autor, é correto afirmar que: X A) o homem pode ir além do dever e cultivar sua sensibilidade a ponto de seus desejos coincidirem ao máximo com as exigências da moral. B) as exigências da sensibilidade devem valer também no âmbito da moralidade, matizando a exigência da lei moral e reconciliando dever e felicidade. C) as leis da natureza sensível e da natureza racional devem ser ambas submetidas às leis da beleza, realizando plenamente a natureza humana. D) o dever, por si só, não tem acesso ao homem sensível, dependendo da beleza para que possa ter sobre ele uma força determinante. Questão 22 A opção que expressa uma tese comum a Rousseau e a Marx é: A) O homem nasce livre, mas em toda parte se encontra acorrentado. X B) A propriedade privada é a origem da desigualdade entre os homens. C) As armas da crítica não podem dispensar a crítica das armas. D) A religião é o ópio do povo, o coração de um mundo sem coração. Questão 23 "Porque ao mesmo tempo o homem, por necessidade e tédio, quer existir social e gregariamente, ele precisa de um tratado de paz e almeja que pelo menos o mais rude bellum omnium contra omnes [guerra de todos contra todos] desapareça de seu mundo." (NIETSCHE. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, § 1) A opção que melhor indica a apropriação nietzschiana da expressão de Hobbes "guerra de todos contra todos" é: A) A guerra de todos os homens contra todos os homens tem como consequência a determinação ética e epistêmica do que é injusto. B) A inauguração de um poder comum e a efetivação das leis que regem a vida social dos homens impossibilitam qualquer prática justa. C) Mesmo em uma situação de guerra de todos contra todos, as virtudes cardeais da temperança e da justiça não podem deixar de ter lugar. X D) O tratado de paz que ameniza ou finda aquela guerra traz consigo o que parece ser o primeiro passo para alcançar um enigmático impulso à verdade. Questão 24 "Enquanto o homem guiado por conceitos e abstrações, através destes, apenas se defende da infelicidade, sem conquistar das abstrações uma felicidade para si mesmo, enquanto ele luta para libertar-se o mais possível da dor, o homem intuitivo, em meio a uma civilização, colhe desde logo, já de suas intuições, fora a defesa contra o mal, um constante e torrencial contentamento, entusiasmo, redenção". (NIETSCHE. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, § 2) A crítica de Nietzsche presente no fragmento destacado se dirige: A) à desvalorização da capacidade humana de abstração, artifício operado pelo lado intuitivo do homem, que o torna incapaz de se defender contra o mal. B) ao privilégio dado ao instintivo em detrimento da conceituação na produção de conhecimento, pois somente este último caminho nos libertaria da dor. X C) à redução do conhecimento ao teórico, que torna o homem incapaz de obter o contentamento da integração do indivíduo com a existência. D) à orientação do homem por conceitos, a partir da qual ele defende com entusiasmo sua felicidade, como o valor mais importante em meio à civilização. Questão 25 No exame que faz nos primeiros parágrafos de "Ser e Tempo", Heidegger estabelece as bases da ontologia fundamental. Nessa investigação, o autor mostra que: A) os modos tradicionais de se perguntar pelo ser revelam que a questão ontológica é clara e está bem colocada. B) perguntar-se pelo ser é determinar as condições de possibilidade das próprias ontologias que derivam das ciências ônticas. C) o primado objetivo-científico da questão do ser implica definir os conceitos fundamentais relativos aos objetos das ciências ônticas. X D) na analítica existencial do ser-aí, deve-se procurar a ontologia fundamental de onde todas as demais podem se originar. Questão 26 Arendt diferencia a mera convivência gregária e ordeira dos homens, da qual partilham também alguns animais, da vida propriamente política, da qual só os homens são capazes. Segundo a autora, essa distinção repousa sobre um pressuposto fundamental, o de que a vida política: A) deveria estar ligada às necessidades da vida, unicamente em sua origem histórica. B) é melhor do que a dimensão econômica da vida, embora não sejam qualitativamente diferentes. X C) não existe em função da vida, dependendo da vitória prévia sobre as necessidades vitais. D) repousa sobre os interesses comuns dos homens, que só podem ser alcançados em conjunto. Questão 27 "Há dois tipos de existencialistas: os primeiros são cristãos, e entre eles eu colocaria Jaspers e Gabriel Marcel, de confissão católica; e, de outro lado, os existencialistas ateus, entre os quais é preciso colocar Heidegger e também os existencialistas franceses, e eu próprio. O que eles têm em comum é simplesmente o fato de que consideram que a existência precede a essência, ou, se se quiser, que é preciso partir da subjetividade. (...) O existencialismo ateu que eu represento é mais coerente." (SARTRE, O existencialismo é um humanismo). Partindo da citação acima, o "existencialismo ateu" defendido por Sartre é "mais coerente" porque: X A) não precisa conciliar a precedência da existência sobre a essência com a concepção de Deus criador. B) pode se desfazer do pressuposto kantiano de Deus como causa final do mundo e das ações humanas. C) afirma a natureza humana, pois cada homem é um exemplo particular do conceito universal de homem. D) concebe que a essência precede a existência, mesmo considerando insustentáveis quaisquer provas. Questão 28 "Que declararei, digo eu, sobre mim que pareço conceber com tanta nitidez e distinção esse pedaço de cera? Não conheço a mim mesmo não só com muito mais verdade e certeza, mas ainda com muito maior distinção e nitidez? Com efeito, se julgo que a cera é ou existe pelo fato de eu a ver, por certo se segue bem mais evidentemente que eu próprio sou, ou que eu existo, pelo fato de eu a ver; pois pode ocorrer que o que vejo não seja, de fato, cera; pode ocorrer também que eu nem sequer tenha olhos para ver coisa alguma; mas não pode ocorrer, quando vejo ou (o que não mais distingo) quando penso ver, que eu, que penso, não seja alguma coisa." (DESCARTES. Meditações metafísicas. Segunda meditação, §16) "Quando eu acredito ver a cera com os meus olhos, eu apenas penso, por meio das qualidades que meus sentidos apreendem, a cera pura e sem qualidades que é a fonte comum delas. Para Descartes, portanto, (...) a percepção é apenas um começo de ciência ainda confusa." (MERLEAU-PONTY. Primeira Conversa) Decorre da interpretação de Merleau-Ponty da análise do pedaço de cera feita por Descartes que: A) o conhecimento humano consiste fundamentalmente em sua capacidade epistemológica sensível. X B) a relação entre a percepção e a ciência corresponde à relação entre a aparência e a realidade. C) não é possível qualquer remissão à inteligência para que ela descubra qualquer verdade sobre o mundo. D) a totalidade das manifestações sensíveis está incluída necessariamente em todo e qualquer "objeto verdadeiro". Questão 29 Da concepção wittgensteiniana de "jogos de linguagem" decorre que: A) o significado das palavras é dado pela forma geral da proposição. X B) a análise do significado deve se voltar para os usos da linguagem. C) não há comensurabilidade entre os diferentes usos da linguagem. D) a resolução de um cálculo matemático não é um jogo de linguagem. Questão 30 "Os consumidores são os trabalhadores e os empregados, os lavradores e os pequenos burgueses. A produção capitalista os mantém tão bem presos em corpo e alma que eles sucumbem sem resistência ao que lhes é oferecido. Assim como os dominados sempre levaram mais a sério do que os dominadores a moral que deles recebiam, hoje em dia as massas logradas sucumbem mais facilmente ao mito do sucesso do que os bem-sucedidos. Elas têm os desejos deles. Obstinadamente, insistem na ideologia que as escraviza." (ADORNO e HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento). A relação entre a atitude atribuída às massas e a indústria cultural é melhor caracterizada como: A) resistência involuntária. B) complacência necessária. C) assimilação refletida. X D) servidão voluntária. Questão 31 "A passagem do telefone ao rádio separou claramente os papéis. Liberal, o telefone permitia que os participantes ainda desempenhassem o papel de sujeito. Democrático, o rádio transforma-os a todos igualmente em ouvintes, para entregá-los autoritariamente aos programas, iguais uns aos outros, das diferentes estações. (...) Os talentos já pertencem à indústria muito antes de serem apresentados por ela: de outro modo não se integrariam tão fervorosamente. A atitude do público que, pretensamente e de fato, favorece o sistema da indústria cultural é uma parte do sistema, não sua desculpa." (ADORNO e HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento). Nessa passagem, há uma crítica: A) ao liberalismo, como falta de iniciativa social. B) à democracia, como espontaneidade mal orientada. C) ao liberalismo, como exacerbação da subjetividade individual. X D) à democracia, como mero acesso ao que é oferecido socialmente. Questão 32 Palavras-objeto têm, para Russell, três peculiaridades: "Primeira: seu significado é apreendido (ou pode ser apreendido) por confronto com os objetos que são os que elas significam. Segunda: não pressupõem outras palavras. Terceira: cada uma, por si mesma, pode expressar uma proposição completa." (RUSSELL. Significado e verdade). Dessas peculiaridades das palavras-objeto, decorre que elas: A) pressupõem outras palavras. X B) podem ser usadas e compreendidas isoladamente. C) não expressam uma proposição completa. D) não podem oferecer qualquer explicação de ?significado?. Questão 33 Segundo Peirce, em "O que é um signo?", há três tipos de signos. "Há semelhanças ou ícones, que servem para transmitir as ideias das coisas que representam simplesmente por imitação." "Há indicações, ou índices, que mostram algo sobre as coisas, através de uma relação física com elas." "Há símbolos, ou signos genéricos, que se associam aos seus significados pelo uso." Partindo dessas distinções, uma placa que aponta para a estrada a ser seguida seria um exemplo de signo por: X A) indicação, por mostrar algo sobre a realidade. B) semelhança, por imitar a estrada a ser seguida. C) simbolismo, por lançar junto ao sinal a ideia da estrada. D) combinação entre a semelhança e a simbolização. Questão 34 Na introdução ao segundo volume de sua História da sexualidade, Foucault apresenta a seguinte questão: "por que o comportamento sexual, as atividades e os prazeres a ele relacionados, são objeto de uma preocupação moral?". (FOUCAULT. História da sexualidade 2) Essa pergunta não pode ser respondida por uma pesquisa feita nos moldes de seus trabalhos anteriores a respeito da loucura, da clínica ou da criminalidade, porque: A) os métodos anteriores eram incapazes de fornecer os instrumentos necessários para analisar os modos específicos de normatizar e de regular as condutas sexuais elaborados pelos antigos gregos e romanos em suas leis e instituições religiosas. B) é preciso diferenciar metodologicamente a interdição da problematização moral que tem por objeto o sujeito, apesar de o cuidado ético a respeito da conduta sexual acompanhar, em sua intensidade e em suas formas, o sistema de interdições. C) os instrumentos dados pelos métodos anteriores eram inapropriados ao objeto e aos fins de uma história dos comportamentos e das representações científicas, religiosas ou filosóficas, que os homens se fazem a respeito do seu comportamento sexual. X D) os saberes a respeito das práticas sexuais, assim como os conjuntos de regras e normas que buscam regular essas práticas, e que se apoiam sobre diferentes instituições, não são capazes de dar conta dos modos como os indivíduos são levados a dar sentido e valor a sua conduta. Questão 35 No contexto da discussão estética moderna e contemporânea, pode-se afirmar que: A) para Kant, o conhecimento proporcionado pela arte se funda na subsunção das intuições sensíveis às categorias do entendimento. X B) para Heidegger, a criação artística se dá no âmbito de um desvelamento, no qual a techné faz aparecer o ser como ente, pondo a verdade em obra. C) para Hegel, a atividade artística supera, dialeticamente, a religião e a Filosofia, por elevar o sensível a formas abstratas de pensamento. D) para Nietzsche, a arte realiza o niilismo da cultura ocidental, ao afirmar os valores fortes diante da fraqueza dos artistas modernos. Questão 36 "Esquematicamente, pode-se dizer que a reflexão moral da Antiguidade a propósito dos prazeres não se orienta para uma codificação dos atos, nem para uma hermenêutica do sujeito, mas para uma estilização da atitude e uma estética da existência." (FOUCAULT. História da sexualidade 2) Com essas palavras, Foucault ressalta um aspecto fundamental das éticas sexuais gregas e romanas, o fato de que a base dos julgamentos de valor está: A) no valor estético das condutas, e não em seu valor moral ou de verdade, uma vez que o anseio pela imortalidade através do renome e da memória é o fundamento maior das éticas antigas. B) na relação entre os desejos, os atos e os prazeres, na medida em que os atos revelam os desejos ocultos do sujeito e são fomentados pelos prazeres cuja natureza pode ser boa ou má. X C) na atitude que o sujeito tem para consigo mesmo no exercício da atividade sexual e no relacionamento com os outros, e não tanto nos atos que se cometem ou nos desejos que se escondem. D) na forma e na beleza de uma conduta austera, definida segundo as interdições e preceitos sociais, civis ou religiosos, conduta essa que é própria a um homem que domina a si mesmo. Questão 37 "Com a crise da Metafísica e os inusitados abalos provocados pela Revolução Burguesa todo o edifício da imitação põe-se a desabar, e isso a partir do comprometimento de seus próprios alicerces. São aqueles universais que começam a desfalecer, depauperados em suas bases metafísicas. Digamos que o nominalismo, tomada a palavra na acepção o mais ampla possível, invade todos os cenários: o político, o religioso, o filosófico, o científico e, como não poderia deixar de ser, também o artístico." (BORNHEIM. Gênese e Metamorfose da Crítica) A partir da citação acima, a opção que melhor se coaduna com a interpretação de Bornheim a respeito da relação entre a crise da metafísica e a estética é: X A) O desmoronamento de todos os referenciais absolutos a respeito do ser e do conhecer atinge também a estética. B) A crise da metafísica se restringe à ontologia e à epistemologia, nas quais o saber necessita de referenciais absolutos. C) Diante da impossibilidade de qualquer referencial absoluto, ontologia, epistemologia e estética perdem totalmente o sentido. D) A ausência de referenciais do nominalismo inviabiliza a estética ao recusar toda e qualquer forma de imitação na criação artística. Questão 38 Danilo Marcondes, ao refletir sobre o ensino de filosofia, faz o seguinte percurso: dialoga com a afirmação de Kant na qual não se pode ensinar filosofia, mas apenas a filosofar; cita Wittgenstein e sua máxima "a filosofia não é uma teoria, mas uma atividade", recorre à experiência de Pitágoras observando que o termo filósofo surge antes de filosofia e diz: "A primeira concepção que podemos destacar consiste, portanto, em ver a filosofia como busca e não como saber pronto e acabado (...) uma atitude indagadora e não da posse da verdade ou do conhecimento. O buscar nos transforma, faz-nos mudar de atitude em relação ao que sempre fomos." (MARCONDES, D. É possível ensinar a filosofia. E, se possível, como? P. 55) A partir da leitura deste trecho, podemos afirmar que: A) filosofar é estudar a tradição histórica dos grandes sistemas de pensamento. B) estudar filosofia é apreender o progresso cumulativo do saber em expansão. X C) ensina-se a filosofar no sentido de motivar ou impulsionar para a busca. D) ensinar a filosofar é fazer a exegese analítica na leitura dos textos filosóficos clássicos. Questão 39 "A filosofia não é feita para refletir sobre qualquer coisa. Tratando a filosofia como uma potência de "refletir sobre", tem-se o ar de lhe dar muito quando, na verdade, tira-lhe tudo. (...) Se a filosofia deveria servir para refletir algo, ela não teria nenhuma razão de existir. Se a filosofia existe, é porque ela tem seu próprio conteúdo". (DELEUZE. O que é o ato de criação?) A partir da citação acima, de acordo com o pensamento de Gilles Deleuze o que caracteriza o fazer filosófico é: A) a admiração e o espanto que levam a uma reflexão crítica sobre a realidade. B) o diálogo entre os diferentes sistemas de pensamento presentes na História da filosofia. X C) o trabalho de apropriação conceitual criativa, isto é, a criação de conceitos. D) a exegese do texto, isto é, o debruçar-se analiticamente na leitura dos textos clássicos. Questão 40 "Eis, então, uma posição quanto à ideia de formação pela filosofia: a filosofia gera condições, indiretas é claro, da intervenção na realidade, nos modos dos jovens se situarem face à multiplicidade e heterogeneidade dos problemas, fatos, acontecimentos em que estão envolvidos. Intervir significa então descobrir o funcionamento e o sentido das configurações (teorias, ideologias e mitologias, religiosas, científicas, tecnológicas, artísticas); significa interrogar, formular questões e objeções. Para isso, reafirmando, os jovens utilizam os sistemas de referência constituídos no curso de filosofia, como uma experiência (acima de tudo, sobre os processos enunciativos) de uma diversidade significativa de trabalhos filosóficos." (FAVARETTO. Filosofia, ensino e cultura. P. 46) A opção mais coerente com a ideia de formação apresentada acima é: X A) O ensino de filosofia deve interrogar e questionar a cultura contemporânea em suas distintas configurações. B) Deve-se superar e abandonar a história da filosofia como fonte de orientação para programas e aulas da disciplina. C) A dispersão da cultura contemporânea impede a realização de uma diversidade significativa de trabalhos filosóficos.

D) A heterogeneidade de enunciados predominante na realidade dos jovens estrutura os sistemas de referência constituídos no curso.

     

 

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