Por que o dia da consciencia negra é importante

Por que o dia da consciencia negra é importante
5 razões pelas quais o Dia da Consciência Negra é tão necessário (Foto: Clay Banks/Unsplash)

Dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. A escolha da data — que celebra a luta da população negra no país por liberdade, garantia de direitos e contra uma estrutura social racista — remete aos anos 1970, período em que o Brasil ainda enfrentava a ditadura militar.

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Em 1971, o Grupo Palmares, que reunia militantes e pesquisadores da cultura negra brasileira em Porto Alegre, defendeu a necessidade de ser criada uma referência mais legítima para os negros do que o institucional 13 de maio, dia em que a Lei Áurea foi assinada. Optaram então pelo 20 de novembro, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, importante liderança que lutou pela contra a tirania escravagista e pela liberdade da população negra.

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Em 2011, a Lei nº 12.519 instituiu a efeméride em âmbito nacional. Cerca de mil cidades, além dos estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro, decretaram feriado na data, que é também uma oportunidade para que as pessoas, principalmente as brancas, reflitam sobre o papel que desempenham na manutenção de uma sociedade que permanece racista e o que é possível fazer para reverter isso. Veja 5 razões pelas quais o Dia da Consciência Negra é tão necessário:

1. Disparidade no mercado de trabalho
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo que o nível de escolaridade seja semelhante, pessoas negras recebem um salário menor que pessoas brancas. Ainda segundo o IBGE, o rendimento médio mensal das pessoas brancas ocupadas (R$2.796) foi 73,9% superior ao da população preta ou parda (R$1.608). Além disso, as pessoas negras estão menos presentes em altos cargos ou de chefia, que oferecem melhores salários.

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2. Violência
De acordo com Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os altos números de violência letal contra a população negra são uma das principais expressões da desigualdade racial no Brasil. Em 2018, a população negra representou 75,7% das vítimas de homicídios no Brasil, com uma taxa de 37,8 mortes por 100 mil habitantes. Entre não-negros (somatório de brancos, amarelos e indígenas) a taxa foi de 13,9.

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Na noite do de quinta-feira (19), a mesma Porto Alegre na qual militantes defenderam a criação do Dia da Consciência Negra foi palco de mais um episódio de violência contra negros: João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, foi espancado até a morte por dois seguranças do supermercado Carrefour no bairro Passo d'Areia, na zona norte da cidade.

3. Violência Policial
Em 2019 o Brasil bateu o recorde de mortes causadas por intervenções policiais e 79,1% das vítimas foram pessoas pretas e pardas. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que monitora o indicador desde 2013.

4. Dificuldade em continuar estudando
Embora a escolaridade no Brasil tenha avançado, ainda hoje existem 10,1 milhões de jovens que não completaram alguma das etapas da educação básica. Do total, 71,7% são pretos ou pardos. A principal justificativa para o abandono escolar é a necessidade de trabalhar.

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5. Intolerância religiosa
As religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, são as que mais sofrem por intolerância no Brasil. Segundo dados do Disque 100, que monitora violações de direitos humanos no país, das 503 denúncias recebidas por discriminação religiosa, o maior número, 72, foi contra a umbanda, seguido pelo candoblé, com 47 casos.

A comemoração oficial do Dia da Consciência Negra ainda é questionada no Brasil. Mas o que de fato esse dia representa? Em um 20 de novembro, há 323 anos, foi morto Francisco Nzumbi, mais conhecido como Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares.

Zumbi nasceu em 1655. Apesar de ter nascido livre, com 7 anos foi capturado por soldados que o entregaram ao Pe. António Melo, que o batizou na Igreja Católica com o nome de Francisco. Em 1670 Zumbi fugiu para o Quilombo dos Palmares, que ficava na região de Pernambuco. Aos 20 anos, ganhou reconhecimento como estrategista militar e guerreiro, quando lutou contra os soldados do Sargento Manuel Lopes. Cinco anos depois, o Quilombo sofreu novo ataque dos portugueses e ele mais uma vez se destacou.

Zumbi assumiu a liderança do Quilombo dos Palmares em 1678. Em 1695 foi assassinado por soldados portugueses, que expuseram sua cabeça em Recife, numa praça pública. Por isso, o movimento negro escolheu essa data para celebrar o dia de luta por suas causas.

Como a História influencia a vida do negro hoje?

O Brasil possui a maior população negra das Américas, com 51% de seus habitantes autodeclarados negros ou pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Porém, mesmo com as cotas raciais, os negros representam apenas 12,8% dos estudantes em universidades em todo o país. Segundo o Atlas da Violência, um jovem negro é morto a cada 21 minutos. O homicídio de jovens brancos diminuiu 6,5% no último ano, enquanto o de jovens negros aumentou 23,5%. A mulher negra ganha apenas 40% do valor do salário médio de um homem branco.

O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravatura, em 1888. A situação da população negra em nosso país ainda reflete os 388 anos de escravidão. Por isso é tão importante lembrar desta data e promover a luta pela igualdade racial em nosso país.

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Autor: Caroline Paulino e Letícia Costa - Estagiárias de Jornalismo
Edição: Mauri König / Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo:

Dia 20 de novembro foi instituído como o Dia da Consciência Negra. A data faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, o então líder do Quilombo dos Palmares e importante personagem da resistência à escravidão no Brasil, que foi morto em 1695 por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. 

A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em São Paulo, no ano de 1978, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que os afro-brasileiros reivindicam. 

Com isso, o dia 20 de novembro tornou-se uma data para celebrar e relembrar a luta dos negros contra a opressão e conscientizar sobre a força, a resistência e o sofrimento que a população negra viveu no Brasil desde a colonização.

Quem foi Zumbi dos Palmares?

Zumbi era um líder quilombola brasileiro que lutou e defendeu a liberdade de culto e religião, bem como o da escravidão colonial no Brasil. Foi um dos líderes do maior quilombo da história do Brasil, o Quilombo dos Palmares, e ficou conhecido por ter liderado a resistência do quilombo contra os ataques portugueses, no século XVII. De todas as maneiras, não admitia a dominação dos brancos sobre os negros e, portanto, tornou-se o maior símbolo pela liberdade dos negros da história brasileira.

O que é consciência negra?

Esse termo ganhou notoriedade na década de 1970, no Brasil, decorrente da luta e movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unido.

É o sentimento que os negros apresentam relativamente a sua história e a sua herança cultura, o que encoraja a luta negra contra a discriminação.

O termo é, ao mesmo tempo, uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana, que foi trazido à força e duramente escravizado por séculos no Brasil. É o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade.

O que o Dia da Consciência Negra representa?

Além das questões que envolvem Zumbi e o Quilombo dos Palmares, o Dia da Consciência Negra é uma data significativa, pois traz visibilidade a questões importantes, como o racismo e a desigualdade da sociedade. É uma data que relembra a luta dos africanos escravizados no passado e que reforça a importância da realização de novas lutas para tornar a nossa sociedade mais justa.

Esse dia é importante para relembramos que a nossa sociedade foi construída por meio da escravidão, e por mais que melhorias e mudanças tenham acontecido, a escravatura incrustou na nossa sociedade o racismo que está presente até hoje nos detalhes do cotidiano, e que, consequentemente, gera uma falta de oportunidades para a população negra e a desigualdade. Além disso, reflete em tentativas de apagamento de cultura africana e evidenciam ainda mais que temos um longo caminho a ser trilhado e uma luta pela frente.

Filmes para refletir sobre esta data

Confira uma lista com filmes que relatam os conflitos causados pela questão racial e discriminação, importantes para entender a importância Dia da Consciência Negra.

  • Django livre;
  • 12 anos de escravidão;
  • Duelo de titãs;
  • A última abolição;
  • Raça.

Personalidades negras que mudaram o mundo!

Um dos principais nomes da luta negra no Brasil. Teve papel fundamental na construção e comando do quilombo dos Palmares, um dos marcos da resistência contra o regime escravocrata brasileiro. Lutou com armas pela libertação total das negras e negros no Brasil, liderava mulheres e homens, também tinha objetivos que iam às raízes do problema e, sobretudo, não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres.

A líder e guerreira tem sua imagem frequentemente lembrada sob a sombra de seu marido, Zumbi.

A norte-americana nasceu em condição de escravidão.  Aos  27 anos de idade decidiu fugir da fazenda onde era mantida. Além de ter conseguido escapar, aos poucos foi planejando e realizando viagens de resgate para ajudar também a sua família, amigos e conhecidos. Mais de 70 famílias foram ajudadas por Harriet, que conhecia todos os macetes para escapar dos senhores. 

Durante a Guerra Civil Americana, ofereceu-se para servir, foi espiã e comandou 150 soldados liderando as tropas do norte contra os soldados do sul. A operação conhecida como Ataque no Rio Combahee conseguiu a libertação de mais de 700 escravos dos Confederados. Tornou-se um símbolo americano de liberdade e coragem.

Foi um líder político africano, um dos fundadores do Pan-Africanismo. Foi primeiro-ministro entre 1957 e 1960 e presidente de Gana de 1960 a 1966.

Uma das principais vozes por trás das lutas de libertação africanas das colônias europeias. Aos poucos, foi recrutando pessoas para sua causa: implantar um autogoverno no país, na época colônia do Reino Unido. Gana foi o primeiro país africano a tornar-se independente em 1957 e a luta e ideais de Nkrumah inspirou líderes africanos e negros em todo mundo pela conquista de liberdade.

Considerado em várias partes do mundo como o maior artista pop de todos os tempos e frequentemente citado como o maior, sua genialidade artística abriu barreiras para outras pessoas negras se tornarem famosas. É o artista mais premiado da história da música popular, e um nome eterno da cultura popular.

Nelson Mandela foi presidente da África do Sul e o líder do movimento contra o Apartheid – legislação que segregava os negros no país. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial e se tornou referência mundial na busca por uma sociedade democrática e igualitária.

É considerado o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil, pelo serviços prestados aos negros escravizados na época em que viveu. Figura-chave do movimento abolicionista, ele é foi um dos raros intelectuais negros do Brasil do século XIX, quando a escravidão ainda era legal e o país vivia sob uma monarquia. Mesmo sem formação, exercia advocacia, principalmente para libertação de pessoas negras escravizadas ou acusadas de algum crime.

Tornou-se o nome mais conhecido da literatura brasileira no mundo inteiro, traduzido para inúmeras línguas, estudado e aclamado por mais de um século.

Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras e sua obra “Dom Casmurro” (1899) é uma das mais traduzidas do mundo. Em várias de suas obras dedicou-se às críticas sociais, como a burguesia e a escravidão.

Foi um poeta, ator, escritor, professor e ativista. Um dos principais nomes precursores das políticas afirmativas para negros e história da África no Brasil. 

Engajado com o Movimento Negro Brasileiro em seu início, na década de 1940. Foi ele quem criou o Teatro Experimental do Negro, importante companhia artística nacional. 

Foi um ativista no movimento negro é considerado um dos mais importantes nomes na história da luta pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos. Sua história com o ativismo possui muitos momentos marcantes, como a luta pelo direito ao voto, o movimento pelo fim da segregação da população negra, além da busca por direitos civis que não eram concedidos aos negros naquela época. Pela sua importância na luta contra a discriminação racial recebeu o Prêmio Nobel da Paz no ano de 1964.

Foi o primeiro afro-americano a ser eleito presidente dos EUA, visto como um líder unificador e que consegue transpor barreiras raciais e culturais. Em 2009, ele havia recebido o Prêmio Nobel da Paz pelos seus esforços de fortalecer a diplomacia internacional e a união mundial.