O impacto das transformações culturais vivenciadas pelas comunidades indígenas com o passar dos anos pode ser sentido, cada vez mais, nas salas de aula das escolas de aldeias. Na aldeia Canoanã, localizada no Estado do Tocantins, onde habitam os Javaé, as tradicionais brincadeiras infantis estão sendo substituídas rapidamente pelo uso das tecnologias. A televisão, o rádio, o celular e outros eletrônicos, passaram a fazer parte da rotina de crianças e adolescentes, que em sua maioria não conhecem algumas das importantes manifestações culturais de sua etnia. Romildo Ixariri Javaé Araújo, 29 anos, professor de ensino fundamental na aldeia, presencia o esquecimento ao longo do tempo dessas tradições.
Novas diretrizes para as escolas indígenas Além do curso de graduação, o Núcleo Takinahaky criou em 2013 a especialização em Educação Intercultural Indígena. A ideia é oferecer uma formação complementar, que permita aos alunos a construção de uma proposta educacional diferenciada para as escolas indígenas de suas comunidades, com a elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) que respeitem o contexto cultural, político e social dos diferentes povos. Trata-se de um documento que organiza as diretrizes pedagógicas, as atividades necessárias para o processo de ensino e aprendizagem e, principalmente, os princípios norteadores da gestão de uma escola.
O desafio da permanência
Alunos Xavante debatem e escrevem, na própria língua, os conceitos de interculturalidade e transdiciplinaridade para apresentação de seminário na aldeia Educação concebida pelos indígenas e para os indígenas Há muito o ensino nas escolas indígenas tem sido foco de discussões sobre a necessidade de uma educação que lide com as especificidades culturais de cada povo. A relação com os povos indígenas no Brasil foi sempre delicada, marcada pelo desgastante processo civilizatório. No entanto, os movimentos organizados indígenas passaram a atuar de forma mais expressiva a partir da década de 1960 na luta por diversos direitos, incluindo à educação. Foi somente a partir do período de redemocratização do país que houve uma abertura para inserir a pauta da formação básica específica nas escolas das aldeias.A Constituição Federal de 1988 passou a assegurar o direito das sociedades indígenas a um currículo diferenciado para a formação escolar, com autonomia no processo de aprendizagem. “A escola indígena não é voltada para o mercado, mas para a comunidade. É uma escola contextualizada, ela tem que valorizar a língua indígena e pensar na sustentabilidade do território”, destacou o professor Alexandre Ferraz Herbetta. Antes vinculado à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o ensino nas escolas indígenas passou a ser de responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) em 1991, que estabeleceu na Lei de Diretrizes e Bases da Educação princípios para uma educação pautada nos saberes e domínios culturais dos diferentes povos. Esse movimento atingiu também as universidades com a implantação dos primeiros cursos de Licenciatura Intercultural Indígena no final da década de 1990, atendendo às orientações da própria legislação que prevê a necessidade de formação de professores indígenas para atuarem na educação fundamental e ensino médio nas aldeias. A graduação surge com a proposta de capacitá-los a dialogar sobre os conhecimentos acadêmicos, as práticas culturais e a realidade de suas comunidades. Atualmente, existem mais de 20 cursos de Licenciatura Intercultural Indígena em todo o país. Para ler o arquivo completo em PDF clique aqui |