O que é campanha da fraternidade

Anualmente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza a Campanha da Fraternidade (CF) no Tempo Litúrgico da Quaresma, o período de preparação para a Páscoa. Mas o que tem a ver a Quaresma com a Campanha da Fraternidade?  

A resposta pode ser dada a partir de alguns pontos: a origem da Campanha da Fraternidade, a proposta de conversão do Tempo Quaresmal e a possibilidade de vivenciar a Quaresma de um modo especial, com ações concretas.  

“A Campanha da Fraternidade nasce no contexto quaresmal, e o primeiro gesto concreto da Campanha é o coração convertido e o segundo gesto é tratarmos realmente o tema do ano com prioridade, com reflexão profunda para que a gente inicie uma nova etapa”, explica o secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista. 

Origem

A Campanha da Fraternidade nasce a partir de uma iniciativa de arrecadação de recursos para atendimentos assistenciais da Cáritas Brasileira. Na Quaresma de 1962, no Rio Grande do Norte, foi realizada a primeira Campanha da Fraternidade com o convite à solidariedade, gesto concreto da prática quaresmal da esmola.  

Conversão 

A Quaresma também é tempo de conversão. E a Campanha da Fraternidade possui essa proposta ao motivar “um coração convertido”. Há mais de cinco décadas, a iniciativa anuncia a importância de não separar a conversão do serviço aos irmãos e irmãs, à sociedade e ao planeta, a Casa Comum.  

“A cada ano, um tema é destacado como sinal de que realmente necessitamos de conversão. Em cada um dos temas específicos tratados pela Campanha da Fraternidade há o convite para alargar o olhar e perceber que o pecado ameaça a vida como um todo”, explicou a Presidência da CNBB no texto-base da Campanha da Fraternidade de 2019. 

Citando o Papa Francisco, a Presidência da CNBB recorda que a “Quaresma é tempo favorável para sairmos de nossa alienação existencial causada pelo pecado”, é “tempo de abertura ao mistério da dor e da morte, da cruz, do Crucificado, Vencedor da morte”.  

No Tempo Quaresmal, a liturgia e a catequese voltam-se para a lembrança e a preparação do Batismo, assim como os catecúmenos faziam no início da Igreja, exigindo profunda reorientação de vida e conversão de coração.  

“E é a meditação da Palavra de Deus, os exercícios espirituais que nós fazemos, e as práticas que nós já conhecemos que vão nos ajudar a fazer essa boa preparação. Um coração convertido, jamais será indiferente aos irmãos e irmãs. Um coração convertido é um coração fraterno. Então, não tenha medo da fraternidade, ela é irmã gêmea da conversão”, orienta padre Patriky. 

Em artigo sobre a relação da Campanha da Fraternidade e o tempo quaresmal, a assessora da Comissão para a Juventude da CNBB, irmã Valéria Andrade Leal, ressalta que o seguimento a que Cristo convida consiste “no processo de aprender d’Ele a realizar a vontade do Pai para nós, para toda a humanidade”. E é essa dinâmica que acontece na Quaresma, “tempo de retomar, avaliar e reavivar nossa opção por estar no seguimento do Mestre, escolhendo com ele a vontade de Deus sobre nós”. 

“A quaresma para nós não é deserto do isolamento, mas do silêncio de onde brota a experiência de encontro com o Pai, que nos faz compassivos, à semelhança do Mestre. Logo, caminhando com Ele, não podemos passar ao largo daqueles a quem Ele se acerca. A Campanha da Fraternidade nos ajuda a fazer este exercício. Quaresma é exercício de santidade. Santidade é assumir o projeto de Deus tal como nos mostra Jesus: até as últimas consequências, mas a partir das coisas pequenas, como nos ensina a vida de tantos santos e santas”, orienta irmã Valéria. 

Modo de viver a Quaresma 

A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Assim, a iniciativa promovida pela CNBB tem como finalidade principal vivenciar e assumir a dimensão comunitária e social da Quaresma. 

A Campanha da Fraternidade é um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal. Ou seja, não se esgota a Quaresma na vivência da Campanha, mas a Campanha também não contradiz a vivência quaresmal, pelo contrário, a enriquece. 

A cada ano, um tema é destacado como sinal de que realmente necessitamos de conversão. Em cada um dos temas específicos tratados pela Campanha da Fraternidade há o convite para alargar o olhar e perceber que o pecado ameaça a vida como um todo. 

A partir dos temas, as campanhas propõem um programa quaresmal 

  • Escuta da Palavra que converte o coração 
  • Verdadeira atenção pelos outros 
  • Romper com a indiferença frente ao sofrimento 
  • Disponibilidade para o serviço 

Mensagens do Papa 

Padre Patriky também recorda que os Papas incentivam a vivência da Campanha da Fraternidade como parte do itinerário quaresmal. “Sempre nas mensagens se faz essa relação bonita da Campanha da Fraternidade com o período quaresmal”. 

Na mensagem para a CF de 1979, São João Paulo II falava da necessidade de viver a quaresma com ascese pessoal, mas sem esquecer da importância do doar-se. Em suas próprias palavras: “Dar mostras dessa conversão ao amor de Deus com gestos concretos de amor ao próximo”

Em 2007, a mensagem do Papa Bento XVI afirmava: “Ao iniciar o itinerário espiritual da Quaresma, a caminho da Páscoa da ressurreição do Senhor, desejo uma vez mais aderir à Campanha da Fraternidade (…) tempo em que cada cristão é convidado a refletir de modo particular sobre as várias situações sociais do povo brasileiro que requerem maior fraternidade”. 

“Se toda a dinâmica da Quaresma é resgatar a catequese batismal, viver a Campanha da Fraternidade, é viver também o nosso batismo”, destaca Patriky. 

Veja a mensagem do Papa Francisco para a Campanha da Fraternidade 2022.

Motivação litúrgica 

A Campanha da Fraternidade também busca atender ao que a Igreja orienta na liturgia celebrada. “O prefácio do tempo quaresmal fala em imitar a misericórdia do Pai, repartir o pão com os necessitados, que o coração convertido vai ser sempre um coração solidário. E o que a Igreja pede é exatamente isto: que nesse caminho de preparação para a Páscoa, a gente dedique um tempo também para pensar a nossa relação com a educação”, explica Patriky, situando na reflexão proposta neste ano de 2022, com o tema “Fraternidade e Educação”. 

Além dos prefácios das Orações Eucarísticas do tempo quaresmal, a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia ensina que “a penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual”. Assim, o documento rege que seja estimulada a prática da penitência, “adaptada ao nosso tempo, às possibilidades das diversas regiões e à condição de cada um dos fiéis”. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/relacao-entre-quaresma-e-campanha-da-fraternidade/

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

A Campanha da Fraternidade (CF) 2022 trata da educação, assunto bem atual para todo o povo de Deus e para a sociedade. A CNBB coloca sempre temas importantes em vista de uma vida conforme o evangelho de Jesus Cristo, para a santificação de todo o povo de Deus. É também um tema valoroso para ser aprofundado na vida eclesial da forma como cada um de nós está lidando com a educação para que todos tenham o conhecimento da verdade, Jesus Cristo. É um tema que exige a conversão pastoral de todas as lideranças da Igreja e da sociedade, ponto importante na Quaresma, em vista do mistério pascal do Senhor. Vejamos alguns passos para que Campanha da Fraternidade traga muitos frutos no tempo favorável, a quaresma, tempo de preparação para a Páscoa e para toda a nossa vida, de discípulas e discípulas do Senhor.

Educados pela Palavra de Deus

O tema da CF é fundamental para que seja bem assumido e amado. Ele deriva sempre da palavra de Deus, pois esta ilumina a vida de todos nós seguidores e seguidoras de Jesus Cristo. Ele diz: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cfr. Pr 31,26). A passagem faz parte de um poema final sobre a mulher ideal, excelente, da mulher perfeita, que é superior as pérolas preciosas. A sabedoria a coroa e ela fala com de uma forma perfeita[1]. É preciso ter presente que a fala de cada um de nós seja carregada de sabedoria, como graça de Deus e também que o ensino seja dado com amor. É palavra de Deus que anda junto com a prática de vida. Um dos objetivos específicos da CF 2022 é identificar os valores da Palavra de Deus e da Tradição por uma educação humanizadora na perspectiva do Reino de Deus.

A oração da CF 2022

Uma análise da oração da Campanha da Fraternidade 2022 coloca bem a importância desta campanha para todos os seguidores do Senhor. Ela se dirige ao Pai santo para que no tempo da quaresma, ele dê a graça para as pessoas serem educadas pela Palavra de Deus, que liberta e que salva. O fiel pede para que se livre da influência negativa por uma cultura que vê a educação não seja assumida como um ato de amor aos irmãos e às irmãs. É preciso fortalecer sempre mais uma educação integral, fraterna e solidária. A pessoa volta-se para o Pai para que todos sejam corajosos na missão de educar para a vida plena em família, nas comunidades eclesiais missionárias, nas escolas e também nos ambientes educacionais.  A oração quer levar as pessoas para falar com sabedoria e educar com amor. Uma invocação é dada para Maria como Mãe educadora de seu Filho, Jesus Cristo. A educação leve as pessoas ao diálogo, a solidariedade e a paz, valores tão importantes neste tempo de guerra. A oração termina na invocação a Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo, que dá a vida. É uma oração dirigida ao Deus Uno e Trino em favor da educação dita com sabedoria e ensinada com amor.

Jesus, o educador da humanidade

A importância da Campanha da Fraternidade é também dada pelo cartaz que foi modulado pela equipe da CF 2022, tendo presente Jesus que escreveu no chão, amor, sabedoria tendo ao lado, a figura da mulher flagrada em adultério trazida ao Senhor Jesus pelos escribas e os fariseus (Jo 8, 1-11). A lei colocava a condenação, mas Jesus não a condenou, mas pediu-lhe a conversão de vida. Jesus é o educador da humanidade, o pedagogo verdadeiro que leva às pessoas para a verdade, para o amor a Deus, ao próximo, como a si mesmo. Ele falava com sabedoria e ensinava com amor tanto para os discípulos como também para a multidão (Jo 1,37-38; Mc 9,5; 11,21; 14;45). Ele foi reconhecido como Mestres, seja com os discípulos como também para os doutores da lei, os fariseus como os saduceus. As suas parábolas visavam à conversão de vida de todos.

Jesus escreveu no chão, na areia. O que ele escreveu? Não se sabe o que o Senhor escreveu no chão. E Ele respondeu que não tivesse culpa, lançasse a primeira pedra. Jesus colocou os acusadores em acusados, de modo que todos foram embora, a começar pelos mais velhos. Jesus não a condenou, mas pediu-lhe uma vida nova. Assim o passado foi atirado longe, e ela se tornou uma nova criatura por graça do Senhor.

A Campanha da Fraternidade e Educação

A CF 2022 trata da educação, como componente importante para levar à pessoa à luz da fé cristã a um humanismo integral, solidário. Ela tem presente também o Pacto educativo global do Papa Francisco que visa um humanismo integral, que parte da família, da comunidade, da escola e é integrada também na casa comum a vida de todas as pessoas com o Criador. Seguidora de Jesus Cristo, a Igreja sempre se mostrou sensível para com a educação como um dos pontos essenciais na sua missão neste mundo. A educação anda junto com a ação evangelizadora. Desta forma colabora com a humanização, tendo presente sempre, o evangelho de Jesus Cristo. A educação é uma palavra proveniente do latim: educatio-onis, cujo significado é trazer para fora, produzir conhecimento, é obra e o resultado de educar com sabedoria e amor.[2]. A educação possibilita a condução da pessoa para sair do não saber rumo à consciência de si mesma, e do mundo em que vive. A educação leva a pessoa a amar a Deus, ao próximo como a si mesmo.

A educação e a família

A educação coloca a importância da família, na educação de seus filhos e de suas filhas. Ela dá os rumos para uma educação própria da pessoa, os valores cristãos, católicos, de seguidores e de seguidoras do Senhor Jesus Cristo. Tudo parte da célula familiar para que assim as pessoas sejam bem formadas e lutem por um ideal na vida e vocação. A Igreja leva em consideração as famílias que passam por dificuldades, sobretudo onde a mulher assume praticamente toda a educação de seus filhos e de suas filhas.

A CF e o valor da pessoa e a casa comum

Seguindo a Palavra de Deus, a CF levará a todos para o valor da pessoa como princípio da educação. Como é fundamental este ponto no qual a educação é um processo humano, de amor às pessoas e que conduz para o divino, para Deus. A educação tem um princípio essencial que é o ser humano, objetivo, concreto que é chamado a viver na solidariedade, na paz, no amor a Deus, e também com a casa comum, local onde a pessoa vive e atua. É muito importante o respeito às terras dos povos indígenas, às suas florestas, aos povos ribeirinhos. A casa comum é a criação do Senhor, de modo que o respeito e o amor à mesma, fará a todos viverem na unidade, na diversidade das coisas e do mundo, em vista do bem de todos e com o Senhor.

A CF 2022 coloca a beleza da educação para que seja falada com sabedoria e ensinada com amor. O povo de Deus e toda a sociedade são chamados a pensar a educação em vista de um humanismo integral, solidário, unido com a casa comum. O Pacto educativo global visa a unidade. A família, a comunidade, a escola, as universidades, as instituições católicas, todas as pessoas devem olhar a educação para levá-las para o bem de todos, ao amor e um dia à eternidade, a unidade com o Deus Uno e Trino.

[1] Cfr. La Bibbia. Borgaro Torinese (TO), Piemme, 1995, pg. 1459.

[2] Cfr. Educazione. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 510.