Como trabalhar com mapas em sala de aula

Publicado em 01 de fevereiro de 2011 por MARIA DAS GRAÇAS DE ABRANTES

O TRABALHO COM MAPAS: limites e possibilidades O presente trabalho tem como objetivo tecer uma reflexão acerca do trabalho com mapas em sala de aula no ensino da geografia. È pertinente afirmar a importância dessa prática para a efetivação de uma aprendizagem de qualidade. Sabe-se que o contexto escolar possui uma demanda muito urgente por práticas educacionais que verdadeiramente venham a contribuir para que os alunos tenham uma aprendizagem significativa. E para que as aulas de geografia se tornem mais atrativas e com rendimento excelente é notável que o professor lance mão do trabalho com mapas. Esse é um excelente recurso para que os educandos possam construir a habilidade de ler e interpretar as informações desse instrumento útil na representação de lugares. Ao conhecer diversas versões de mapa, os alunos analisam quais as informações são representadas e como elas refletem pontos de vistas. O professor de geografia deve oferecer diferentes variedades de mapas para serem analisados em sala de aula. Isso permite que os alunos despertem a curiosidade pelo processo de composição de um desenho e perceba que a linguagem cartográfica se presta a diferentes funções. De acordo com MARTINELLI (2009, p.21): Todos os alunos devem ter a oportunidade de participar de momentos de observação, comparação e criação. Pode-se dizer que, além de representar, os mapas também constroem uma visão de mundo. Apresentar uma diversidade de materiais é uma maneira de compartilhar outros pontos de vista e estimular a postura crítica diante das representações. O autor revela que cada mapa tem uma conotação condizente com a concepção da pessoa que o produziu. Por essa razão é importante que o professor ofereça uma grande variedade de mapas para que assim, os estudantes possam confrontar as visões dos autores. A partir da leitura e interpretação dos mapas, a aula de geografia vai ser uma maneira de ensinar aos alunos como possuir uma visão crítica das informações que o mapa reproduz. Se o tema das aulas for o mapa-múndi, os alunos logo vão ver que diversas representações podem ser consideradas corretas. A mais tradicional de Gerhad Mercator, mostra a Europa no centro e o Hemisfério Norte com mais destaque que o sul. Embora seja amais usada, ela não é a única aceita. Com isso pode ser discutido nas aulas de geografia o eurocentrismo, a Europa como centro do mundo e das decisões. O professor deve deixar bem claro que não há um mapa que seja mais ou menos verdadeiro ou fiel à realidade. Os alunos devem aprender com as aulas de geografia que todos os mapas são passíveis de distorções. O trabalho com essa temática pode ter várias dinâmicas e o estudo da disciplina em questão pode ser fascinante para os alunos. Uma atividade bastante rica para ser trabalhada em sala de aula pelos alunos, é que eles reproduzam a trajetória da sua casa para a escola, do contorno e localização de sua casa em relação à cidade onde moram. Outra sugestão para trabalhar o mapa-múndi é estabelecer uma discussão acerca do meridiano de Greenwich. O uso dele como referência é bastante recente e o professor precisam explicar para a turma que nem sempre foi assim e essa é uma convenção relativamente recente. Segundo DURAND (2008, p, 97): No mundo de hoje, marcado pela globalização e pela interatividade, o nosso desafio é pensar em mapas capazes de representar essa realidade dinâmica e os elementos que a compõem. Eles podem ser de assuntos específicos ou gerais de acordo com o desempenho e interesse dos alunos. A partir daí pode-se inferir que o trabalho com mapas nas aulas de geografia apresentam uma riqueza ampla e pode vir a contribuir para o sucesso da aprendizagem escolar dos alunos. O papel do professor é planejar atividades dinâmicas, inovadoras e renunciar àquelas tradicionais práticas de fazer com que os alunos apenas desenhem um mapa. Para trabalhar com esse gênero em sala de aula o professor precisa ter objetivos concretos e bem definidos. Vários objetivos podem orientar a prática docente no que se refere ao trabalho com mapas, um dos mais pertinentes seria possibilitar com que os alunos reconhecessem as diversas representações da realidade e refletir sobre as influências da linguagem dos mapas na constituição da nossa visão de mundo. Através de um projeto bem elaborado o professor pode ensinar aos alunos, por intermédio dos mapas, assuntos direcionados a hidrografia, relevo, clima, vegetação, solo e aspectos econômicos do município. Pode-se sugerir que os alunos façam visitas planejadas pela cidade ou sítio para que eles possam perceber a localização concreta e transcrever para o papel em forma de mapas. O trabalho cartográfico nas aulas de geografia pode começar por um ambiente conhecido, como a escola. Desenhando a sala de aula, os alunos aprenderão conceitos relacionados a lateralidade,proporcionalidade e distância. Noções como perto, longe e interpretações de símbolos são facilmente construídas a partir da elaboração e interpretação dos mapas. Os mapas são ilustrações que frequentemente aparecem em livros, revistas, jornais e os alunos precisam ter contato com essa importante linguagem. É preciso estabelecer relações diretas entre as imagens e o texto escrito. Os alunos não podem restringir e limitar a noção de leitura apenas a palavra escrita, eles devem ter a habilidade de ler os mapas. Essas oportunidades de trabalhar com esse suporte possibilitam aos alunos observarem as soluções encontradas por profissionais para ilustrar questões abstratas e concretas, como política, territorialidade, economia, cultura, etc. Em relação ao trabalho com mapas nas aulas de geografia, VESENTINI (2002, p.102) diz que: Uma aula ministrada através da utilização de mapas, muitas vezes, basta por si só. É o caso dos cartogramas que traçam uma relação do mundo entre o aspecto dos países como um campo de forças versus o aspecto dos mesmos como um mundo de centros e periferias, o mundo da riqueza, espelhado através dos índices do PIB e do poder de compra, versus o mundo da concentração populacional, ainda como uma rede hierarquizada. Como bem revela o autor, a prática de trabalho tendo como metodologia o mapa, é muito rica e oferece múltiplas oportunidades para o professor enriquecer suas aulas. Esse trabalho pode ser feito desde cedo, ainda nas salas de educação infantil, onde o professor deve apresentar para os alunos um mapa e mencionar sua utilização e importância. Ao longo da sua escolaridade o aluno deve ter o contato direto com esse recurso para construir habilidades de construção e leitura de um mapa, com diferentes informações. Através da cartografia, análise de elementos cartográficos e elaboração de mapas, os professores podem ministrar suas aulas de forma mais dinâmica e fazer associação destes produtos a diversos temas da Geografia. Na atualidade, os professores devem utilizar os mapas como um importante recurso didático na sala de aula. Não vivemos mais a era da memorização e da "decoreba", onde os mapas eram utilizados apenas para decorar nomes de rios ou para colorir países. Vivemos numa era onde devemos levar nossos alunos a serem indivíduos críticos e os mapas podem trazer tantas informações quanto um texto ou artigo sobre determinado assunto. Nas palavras de SIMIELLI (1999, p.33): Entretanto, é claro que a utilização de mapas no ensino de geografia não se dá de maneira uniforme, cada caso é um caso. Isso se dá pelo fato de que nem todas as escolas adotam a alfabetização cartográfica nas suas séries iniciais, tornando mais difícil o trabalho com mapas em sala de aula, tanto para o professor como para o aluno. Assim, poderemos ter turmas de 5 a. ou mesmo de 8a. ano necessitando de uma alfabetização cartográfica. Muitas vezes, os próprios alunos de ensino médio e de graduação sentem dificuldade em fazer uma leitura e uma boa interpretação dos mapas. Nesse sentido, se faz necessário começar desde cedo a apresentar os mapas para os alunos, só assim, os jovens estudantes não vão possuir dificuldades em trabalhar mapas no que se refere a sua leitura e interpretação. A utilização de mapas nas aulas de geografia é uma excelente forma de enriquecer o ensino aprendizagem dessa disciplina e quem sairá ganhando com isso serão os alunos. REFERÊNCIAS DURAND, Marie-Françoise. Atlas da Mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva 2008 MARTINELLI, Marcello. Mapas da Geografia e Cartografia Temática. São Paulo: Contexto, 2009 SIMIELLI, M.E.R. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, Ana. (Org.). a Geografia na sala de aula.São Paulo: Contexto, 1999. VESENTINI, J.William. Geografia Crítica. São Paulo: Ática, 2002

Este artigo teve como ponto de partida o texto: "Cartografia no Ensino Fundamental e Médio" da professora Dra. Maria Elena Simielli. Em seu texto, Simielli aponta dois eixos em relação ao trabalho com mapas: um onde se trabalha com produtos já elaborados (mapas, cartas e plantas), para tornar o aluno um leitor crítico destes produtos; e o outro, onde o aluno é um agente participativo (elaborando maquetes, croquis). O aluno aqui é um mapeador consciente. Para Simielli é fundamental que haja uma alfabetização cartográfica a partir das séries iniciais (1a. à 4a. série). O trabalho com mapas no ensino de Geografia, segundo a professora, deve ser continuado nas demais séries do ensino fundamental e médio.

Níveis propostos para se trabalhar com produtos já elaborados

Aquele professor que optar por trabalhar com mapas já elaborados com sua classe, poderá seguir os três níveis propostos. Entretanto, é claro que a utilização de mapas no ensino de geografia não se dá de maneira uniforme, cada caso é um caso. Isso se dá pelo fato de que nem todas as escolas adotam a alfabetização cartográfica nas suas séries iniciais, tornando mais difícil o trabalho com mapas em sala de aula, tanto para o professor como para o aluno. Assim, poderemos ter turmas de 5a. ou mesmo de 8a. série necessitando de uma alfabetização cartográfica. Muitas vezes, os próprios alunos de ensino médio e de graduação sentem dificuldade em fazer uma leitura e uma boa interpretação dos mapas.

Os níveis propostos para se trabalhar com produtos já elaborados são:

  1. Localização e Análise, indicado para ser trabalhado nas 5a. e 6a. séries: o aluno localiza e analisa um determinado fenômeno no mapa;
  2. Correlação, indicado para ser trabalhado nas 7a. e 8a. séries: ele correlaciona duas, três ou mais ocorrências e;
  3. Síntese, indicado aos alunos do Ensino Médio: o aluno analisa, correlaciona diferentes fenômenos num determinado espaço e faz uma determinada síntese de tudo.

Esquema 1: Cartografia no Ensino de Geografia

Como trabalhar com mapas em sala de aula

Como já foi dito anteriormente, estes níveis possuem uma indicação para ser aplicado nas diferentes séries, mas na prática deve-se conferir se a turma está apta a trabalhar determinado nível. Outra observação importante diz respeito à ligação entre os níveis. À medida que estes vão evoluindo, devemos acrescentar o anterior ao atual. Ou seja, se você for trabalhar com o nível da correlação, deverá incluir a localização e análise em suas aulas.

Aplicando esta concepção dos níveis segundo as séries no ensino, sugerimos atividades para alunos de 5a.série, 7asérie e Ensino Médio, utilizando diferentes mapas tendo como tema central, os conceitos da Geografia Política (ver esquema 2).  Nas atividades sugeridas os alunos passam pelos diferentes níveis, nos quais o professor tem sempre como objetivo torná-lo um leitor crítico dos fatos cartográficos, e não apenas, um mero reprodutor ou pintor de mapas.

Esquema 2: Interligação entre a Geografia Política e os mapas

Geografia política

↓  ↑

Estado-nação    Hegemonia

Posição geográfica    Estratégia

Fronteira    Centro    Periferia

Autodefesa    Segurança    Poder

↓  ↑

Território

↓  ↑

Mapa

Atividades propostas

A seguir listaremos as atividades propostas para cada série.

5ª série

O nível da localização e análise pode ser abordado com a utilização de diversos mapas, tais como o do Estado em que o aluno vive (no nosso caso, o Estado do Rio de Janeiro), do Brasil e do mundo.

A atividade pode partir da vivência extraescolar do aluno. Assim sendo, propomos uma aula mais dinâmica, em que o professor deverá motivar a turma através de uma pergunta referente ao lugar onde os alunos passaram suas férias.

O passo seguinte diz respeito à escolha de um dos lugares citados para a localização e observação no mapa pela classe. O aluno irá se deparar com uma série de símbolos cujo significado ele desconhece. Então, poderemos trabalhar com a sua curiosidade e decifrar o significado dos mesmos fazendo uma associação destes com a legenda.

Deste modo, estará sendo cumprida a função de analisar os principais componentes de um mapa como a legenda, os símbolos, a orientação, a escala gráfica, entre outros.

Podemos dar continuidade à atividade aproveitando as experiências vivenciadas pelo aluno na região visitada nas suas férias. Ou seja, pode-se localizar e identificar no mapa rios, estradas, aeroportos e outras feições visualizadas pelos alunos em suas férias.

A Geografia Política está presente na localização e análise dos hemisférios (norte x sul; ocidente x oriente); nos tipos de fronteiras, nos vários níveis nas divisões político-adminstrativas.

7ª série

O nível da correlação é mais frequente na abordagem dos aspectos físicos-naturais, mas também deve ser utilizado no desenvolvimento dos conceitos da Geografia Política. A utilização dos mapas relacionados à população e cultura permitem correlacionar o aumento da circulação, de informação, das línguas, das etnias ao domínio político, e cultural  no mundo.  As variáveis contidas num mapa podem ser correlacionadas no mesmo ou em outro (s) mapa (s).

A atividade deve partir da análise em separado de, a princípio, dois mapas. Cabe ao professor escolher os mapas cujos conteúdos sejam mais próximos, objetivando um primeiro passo a ser dado pelo aluno na correlação. Como exemplo, propomos a utilização dos mapas de taxas de natalidade e o mapa de expectativa de vida.

Professor e aluno fazem a análise de cada mapa, separadamente, com as devidas correspondências com a legenda. Em seguida, os mapas são colocados lado a lado para que seja feita a correlação. Atingindo este nível, o aluno chega a algumas conclusões. Neste caso, a de que, em geral, quanto maior a taxa de natalidade, menor é o tempo de vida das pessoas (podendo discutir as exceções).

Para fixar, na mesma aula, a classe pode correlacionar mais dois mapas, como o da Densidade Populacional  e o original mapa das Luzes (fig.1), produzido pela revista National Geographic. Neste caso, os alunos observarão facilmente a intensidade de luz refletida nas áreas de maior densidade populacional e, principalmente, de concentração industrial. Facilmente, estes mapas de conteúdo sóciopolítico podem ser relacionados também aos aspectos físicos continentais.

Figura 1 - População e Recursos:

Como trabalhar com mapas em sala de aula

Fonte: http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap001127.html

Como estes, o professor deve explorar outros mapas de conteúdo sóciocultural e sóciopolítico, tendo em vista, principalmente, os tempos de globalização. Perfeitamente associáveis aos conceitos de Geografia Política, estes mapas, se bem trabalhados, preparam o aluno para a assimilação desses conceitos e seu maior uso nos anos seguintes, mesmo sem entrar diretamente nos mesmos.

Ensino Médio

O nível da síntese geralmente é adquirido no ensino superior, mas podem ser aplicadas no ensino médio. Os recursos didáticos utilizados no ensino acadêmico, como os cartogramas,  permitem aos alunos analisar, correlacionar e fazer sua própria síntese.

Os cartogramas também são uma representação do espaço e por isto sugerimos atividades que utilizem este recurso didático. Ao contrário dos mapas que são de fácil assimilação, os cartogramas, principalmente os sugeridos, demandam uma observação mais apurada para que sejam amplamente entendidos.

Uma aula ministrada através da utilização de mapas, muitas vezes, basta por si só. É o caso dos cartogramas que traçam uma relação do mundo entre o aspecto dos países como um campo de forças versus o aspecto dos mesmos como um mundo de centros e periferias, o mundo da riqueza, espelhado através dos índices do PIB e do poder de compra, versus o mundo da concentração populacional  (fig.2 e 3), ainda como uma rede hierarquizada.

Uma vez analisados e correlacionados pelo aluno, este chegará a conclusões através das quais estará apto para realizar a síntese, baseados nos conceitos da geografia política.

Figura 2 - A distribuição do PIB no Mundo:

Como trabalhar com mapas em sala de aula

Figura 3 - A distribuiçãoPopulacional

Como trabalhar com mapas em sala de aula

Conclusão

A utilização de mapas no ensino de geografia é de fundamental importância. Devem ser incluídos como recurso didático desde as séries iniciais, através da alfabetização cartográfica.

Através da cartografia, análise de elementos cartográficos e elaboração de mapas, os professores podem ministrar suas aulas de forma mais dinâmica e fazer associação destes produtos a diversos temas da Geografia.

Neste artigo não foi possível incluir todos os mapas utililizados e sugeridos em cada série, mas vale ressaltar que vários mapas atendem ao objetivo proposto, que é a utilização consciente de mapas pelos professores em sala de aula.

Na atualidade, os professores devem utilizar os mapas como um importante recurso didático na sala de aula. Não vivemos mais a era da memorização e da "decoreba", onde os mapas eram utilizados apenas para decorar nomes de rios ou para colorir países. Vivemos numa era onde devemos levar nossos alunos a serem indivíduos críticos e os mapas podem trazer tantas  informações  quanto um texto ou artigo sobre determinado assunto.

Bibliografia

http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap001127.html  Acesso em maio 2003.

SIMIELLI, M.E.R. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, Ana. (Org.). a Geografia na sala de aula.São Paulo: Contexto, 1999.

Publicado originalmente em: Boletim de Geografia - Universidade Estadual de Maringá- Ano 19/No. 2/2001