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água era como uma bênção para ele. Como água benta, com que um Deus misericordioso e acessível aspergisse todas as dores animais. Bênção, água benta, ou coisa parecida: uma impressão de doloroso triunfo, de sofredora vitória sobre a desgraça inexplicável, injustificável, na carícia dos pingos de água, que não enxugava e lhe secavam lentamente na pele. Impressão, aliás, algo confusa, sem requintes psicológicos e sem literatura. Depois de satisfeita a sede, ele a colocava no pequeno cercado de tela separado do terreiro (as outras galinhas martirizavam muito a branquinha) que construíra 3 | Projeto Medicina – www.projetomedicina.com.br especialmente para ela. De tardinha dava-lhe outra vez milho e água e deixava a pobre cega num poleiro solitário, dentro do cercado. Porque o bico e as unhas não mais catassem e ciscassem, puseram-se a crescer. A galinha ia adquirindo um aspecto irrisório de rapace, ironia do destino, o bico recurvo, as unhas aduncas. E tal crescimento já lhe atrapalhava os passos, lhe impedia de comer e beber. Ele notou essa miséria e, de vez em quando, com a tesoura, aparava o excesso de substância córnea no serzinho desgraçado e querido. Entretanto, a galinha já se sentia de novo quase feliz. Tinha delidas lembranças da claridade sumida. No terreiro plano ela podia ir e vir à vontade até topar a tela de arame, e abrigar-se do sol debaixo do seu poleiro solitário. Ainda tinha liberdade - o pouco de liberdade necessário à sua cegueira. E milho. Não compreendia nem procurava compreender aquilo. Tinham soprado a lâmpada e acabou- se. Quem tinha soprado não era da conta dela. Mas o que lhe doía fundamente era já não poder ver o galo de plumas bonitas. E não sentir mais o galo perturbá-la com o seu cócó-có malicioso. O ingrato. (João Alphonsus - Galinha Cega. Em MORICONI, Italo, Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. São Paulo: Objetiva, 2000.) Na última linha do texto, há uma frase importante: O ingrato. Quem diz essas palavras? A quem elas se referem? Explique. 7) (FGV-1996) (Transformação de discursos): Reestruture o texto a seguir, dando-lhe a forma de discurso indireto. Deixando sobre a mesa os papéis necessários, o funcionário perguntou, nervoso, ao chefe: - O senhor assinará agora ou depois? - Já, imediatamente! bradou o outro. 8) (FGV-2003) Assinale a alternativa em que ocorra discurso indireto. a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho. b) Já era tarde. O ruído dos grilos não era suficiente para abafar os passos de Delfino. Estaria ele armado? Certamente estaria. Era necessário ter cautela. c) Quem seria capaz de cometer uma imprudência daquelas? d) A tinta da roupa tinha já desbotado quando o produtor decidiu colocá-la na secadora. e) Era então dia primeiro? Não podia crer nisso. 9) (FGV-2005) Na linha 30, quem diz que o quarto de Vasco fica no sótão? Explique. 1. HORA DA SESTA. Um grande silêncio no casarão. 2. Faz sol, depois de uma semana de dias sombrios e úmidos. 3. Clarissa abre um livro para ler. Mas o silêncio é tão grande que, inquieta, ela torna a pôr o 4. volume na prateleira, ergue-se e vai até a janela, para ver um pouco de vida. 5. Na frente da farmácia está um homem metido num grosso sobretudo cor de chumbo. Um 6. cachorro magro atravessa a rua. A mulher do coletor aparece à janela. Um rapaz de pés 7. descalços entra na Panificadora. 8. Clarissa olha para o céu, que é dum azul tímido e desbotado, olha para as sombras fracas 9. sobre a rua e depois se volta para dentro do quarto. 10. Aqui faz frio. Lá no fundo do espelho está uma Clarissa indecisa, parada, braços caídos, 11. esperando. Mas esperando quê? 12. Clarissa recorda. Foi no verão. Todos no casarão dormiam. As moscas dançavam no ar, 13. zumbindo. Fazia um solão terrível, amarelo e quente. No seu quarto, Clarissa não sabia que 14. fazer. De repente pensou numa travessura. Mamãe guardava no sótão as suas latas de 15. doce, os seus bolinhos e os seus pães que deviam durar toda a semana. Era proibido entrar 16. lá. Quem entrava, dos pequenos, corria o risco de levar palmadas no lugar de 17. costume. 18. Mas o silêncio da sesta estava cheio de convites traiçoeiros. Clarissa ficou pensando. 19. Lembrou-se de que a chave da porta da cozinha servia no quartinho do sótão. 20. Foi buscá-la na ponta dos pés. Encontrou-a no lugar. Subiu as escadas devagarinho. Os 21. degraus rangiam e a cada rangido ela levava um sustinho que a fazia estremecer. 22. Clarissa subia, com a grande chave na mão. Ninguém... Silêncio... 23. Diante da porta do sótão, parou, com o coração aos pulos. Experimentou a chave. A 24. princípio não entrava bem na fechadura. Depois entrou. Com muita cautela, abriu a porta e 25. se viu no meio duma escuridão perfumada, duma escuridão fresca que cheirava a doces, 26. bolinhos e pão. 27. Comeu muito. Desceu cheia de medo. No outro dia D. Clemência descobriu a violação, e 28. Clarissa levou meia dúzia de palmadas. 29. Agora ela recorda... E de repente se faz uma grande claridade, ela tem a grande idéia. “A 30. chave da cozinha serve na porta do quarto do sótão.” O quarto de Vasco fica no sótão... 31. Vasco está no escritório... Todos dormem... Oh! 32. E se ela fosse buscar a chave da cozinha e subisse, entrasse no quarto de Vasco e 33. descobrisse o grande mistério? 34. Não. Não sou mais criança. Não. Não fica direito uma moça entrar no quarto dum rapaz. 4 | Projeto Medicina – www.projetomedicina.com.br 35. Mas ele não está lá... que mal faz? Mesmo que estivesse, é teu primo. Sim, não sejas 36. medrosa. Vamos. Não. Não vou. Podem ver. Que é que vão pensar? Subo a escada, 37. alguém me vê, pergunta: “Aonde vais, Clarissa?” Ora, vou até o quartinho das malas. 38. Pronto. Ninguém pode desconfiar. Vou. Não, não vou. Vou, sim! (Porto Alegre: Globo, 1981. pp. 132-133) 10) (FGV-2005) No final do texto, parece ocorrer um diálogo. Qual é ou quais são as personagens desse diálogo? Explique. 1. HORA DA SESTA. Um grande silêncio no casarão. 2. Faz sol, depois de uma semana de dias sombrios e úmidos. 3. Clarissa abre um livro para ler. Mas o silêncio é tão grande que, inquieta, ela torna a pôr o 4. volume na prateleira, ergue-se e vai até a janela, para ver um pouco de vida. 5. Na frente da farmácia está um homem metido num grosso sobretudo cor de chumbo. Um 6. cachorro magro atravessa a rua. A mulher do coletor aparece à janela. Um rapaz de pés 7. descalços entra na Panificadora. 8. Clarissa olha para o céu, que é dum azul tímido e desbotado, olha para as sombras fracas 9. sobre a rua e depois se volta para dentro do quarto. 10. Aqui faz frio. Lá no fundo do espelho está uma Clarissa indecisa, parada, braços caídos, 11. esperando. Mas esperando quê? 12. Clarissa recorda. Foi no verão. Todos no casarão dormiam. As moscas dançavam no ar, 13. zumbindo. Fazia um solão terrível, amarelo e quente. No seu quarto, Clarissa não sabia que 14. fazer. De repente pensou numa travessura. Mamãe guardava no sótão as suas latas de 15. doce, os seus bolinhos e os seus pães que deviam durar toda a semana. Era proibido entrar 16. lá. Quem entrava, dos pequenos, corria o risco de levar palmadas no lugar de 17. costume. 18. Mas o silêncio da sesta estava cheio de convites traiçoeiros. Clarissa ficou pensando. 19. Lembrou-se de que a chave da porta da cozinha servia no quartinho do sótão. 20. Foi buscá-la na ponta dos pés. Encontrou-a no lugar. Subiu as escadas devagarinho. Os 21. degraus rangiam e a cada rangido ela levava um sustinho que a fazia estremecer. 22. Clarissa subia, com a grande chave na mão. Ninguém...
Discurso Direto, Discurso Indireto e Discurso Indireto Livre são tipos de discursos utilizados no gênero narrativo para introduzir as falas e os pensamentos dos personagens. Seu uso varia de acordo com a intenção do narrador. Discurso DiretoNo discurso direto, o narrador dá uma pausa na sua narração e passa a citar fielmente a fala do personagem. O objetivo desse tipo de discurso é transmitir autenticidade e espontaneidade. Assim, o narrador se distancia do discurso, não se responsabilizando pelo que é dito. Pode ser também utilizado por questões de humildade - para não falar algo que foi dito por um estudioso, por exemplo, como se fosse de sua própria autoria. Características do Discurso Direto
Exemplos de Discurso Direto
Discurso IndiretoNo discurso indireto, o narrador da história interfere na fala do personagem preferindo suas palavras. Aqui não encontramos as próprias palavras da personagem. Características do Discurso Indireto
Exemplos de Discurso Indireto
Transposição do Discurso Direto para o IndiretoNos exemplos a seguir verificaremos as alterações feitas a fim de moldar o discurso de acordo com a intenção pretendida.
No discurso indireto livre há uma fusão dos tipos de discurso (direto e indireto), ou seja, há intervenções do narrador bem como da fala dos personagens. Não existem marcas que mostrem a mudança do discurso. Por isso, as falas dos personagens e do narrador - que sabe tudo o que se passa no pensamento dos personagens - podem ser confundidas. Características do Discurso Indireto Livre
Exemplos de Discurso Indireto Livre
Nas orações destacadas os discursos são diretos, embora não tenha sido sinalizada a mudança da fala do narrador para a do personagem. Exercícios de Vestibular com Gabarito1. (Fatec-1995) "Ela insistiu: - Me dá esse papel aí." Na transposição da fala do personagem para o discurso indireto, a alternativa correta é: a) Ela insistiu que desse aquele papel aí. b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali. c) Ela insistiu em que me desse aquele papel aí. d) Ela insistiu por que lhe desse este papel aí. e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali. Alternativa e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali. 2. (Fuvest-2000) Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando. (Graciliano Ramos, Vidas secas) Uma das características do estilo de Vidas Secas é o uso do discurso indireto livre, que ocorre no trecho: a) “sinha Vitória falou assim”. b) “Fabiano resmungou”. c) “franziu a testa”. d) “que lembrança”. e) “olhou a mulher”. Alternativa d) “que lembrança”. 3. (Fuvest-2003) Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e… O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas. Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como os meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás. O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental! (Luís Fernando Veríssimo, Comédias para se ler na escola) O discurso indireto livre é empregado na seguinte passagem: a) Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. b) Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. c) Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. d) O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. e) O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Alternativa a) Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. 4. (Fuvest-2007) “‘Muito!’, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro.” Se a pergunta a que se refere o trecho fosse apresentada em discurso direto, a forma verbal correspondente a “gostara” seria: a) gostasse. b) gostava. c) gostou. d) gostará. e) gostaria. 5. (FGV-2003) Assinale a alternativa em que ocorra discurso indireto. a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho. b) Já era tarde. O ruído dos grilos não era suficiente para abafar os passos de Delfino. Estaria ele armado? Certamente estaria. Era necessário ter cautela. c) Quem seria capaz de cometer uma imprudência daquelas? d) A tinta da roupa tinha já desbotado quando o produtor decidiu colocá-la na secadora. e) Era então dia primeiro? Não podia crer nisso. Alternativa a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho. Leia também: |