Como se livrar da comparação

Atualmente, existe um grande vilão que suga a nossa autoconfiança e leva embora a nossa felicidade. Esse vilão é a comparação.

Você já se perguntou:

  • Quanto tempo perdemos nos comparando em vez de ir atrás dos nossos sonhos?
  • Quanta energia é drenada quando nos diminuímos só porque existe alguém mais experiente naquilo que queremos fazer?
  • De quanta autoestima abrimos mão só porque alguém tem mais seguidores do que nós, uma condição financeira melhor ou até mesmo uma aparência mais bonita?

Só somos felizes quando nos aceitamos do jeito que somos, quando gostamos de quem somos e quando somos autênticos. Mais do que isso, só conquistamos coisas novas quando estamos confiantes em relação a nós.

Este texto é uma bandeira para o fim da comparação. Nenhuma felicidade pode vir de nos compararmos o tempo todo com os outros.

Comparação é muito diferente de inspiração. Uma pessoa inspiradora nos incentiva a ser nós mesmos. Quando nos sentimos inspirados por alguém, não queremos copiar aquela pessoa, mas sim seguir os nossos sonhos sendo quem a gente é.

Por outro lado, quando nos comparamos, começamos a nos pressionar para sermos mais parecidos com o outro. Vou repetir: nenhuma felicidade pode vir da comparação.

Viciamos tanto em nos comparar que começamos a diminuir as outras pessoas também, na esperança de nos comparar com alguém que julgamos estar em uma situação pior do que a nossa. Mas dessa comparação falsamente positiva, também não colhemos nenhuma felicidade. Colhemos apenas vaidade, orgulho e arrogância. E, como dizem os provérbios, o orgulho precede a queda.

Então, chegou a hora de dar um basta na comparação.

Chegou a hora de ser quem nascemos para ser, independentemente do caminho que os outros escolherem para eles. Não dá mais para viver diminuindo a nós mesmos por qualquer motivo que seja.

Como mencionei, este artigo é uma bandeira para o fim da comparação. Ou, em outras palavras, é uma bandeira a favor da autenticidade. Da paciência. Da autoconfiança.

Na minha vida, as coisas mais maravilhosas aconteceram quando eu me permiti confiar. Confiar em mim, confiar na minha capacidade e confiar em algo maior.

A partir de agora, te convido a confiar também. Vamos investigar:

  1. Por que nos comparamos tanto e quais são os efeitos negativos que a comparação nos traz
  2. Como parar de se comparar e dar um fim nessa ilusão que traz altas doses de sofrimento para tantos de nós
  3. Como podemos ser nós mesmos de forma natural, autêntica e no nosso próprio ritmo.

Adeus, comparação! Seja bem-vinda, autenticidade. Vamos lá?

Para começar, uma história rápida: como a comparação me derrubou em uma prova

Apesar de gostar de esportes, nunca fiz parte do grupo dos atletas. Eu não era o melhor em nenhum dos esportes que normalmente praticávamos nas aulas de educação física ou entre amigos. Mas eu tinha uma qualidade: corria rápido.

Com isso, certa vez o professor de educação física da escola convidou a mim e alguns colegas para participar de uma competição de atletismo. Não chegamos a treinar, pois era algo bem informal. Entre provas diversas, iríamos competir na modalidade 4 x 100m com passagem de bastão.

Ou seja, éramos em 4 colegas. Cada um de nós correria 100m de um total de 400m da prova. Eu era o último do revezamento. Nós não tínhamos prática no esporte, mas éramos rápidos.

Meus companheiros fizeram um ótimo trabalho e largamos na frente. Nas passagens de bastão nossa equipe conseguiu manter a dianteira e, quando eu recebi o bastão para correr os últimos 100m, estávamos na primeira posição!

Eu liderava a prova e era uma sensação bem empolgante. A poucos metros do final, comecei a ouvir passos muito rápidos se aproximando de mim. O som aumentava cada vez mais. Os passos estavam ficando mais e mais próximos. Alguém se aproximava com muita velocidade.

Assustado, olhei para o lado.

Mais comparação = Menos resultados

No momento em que me comparei com o competidor da raia que estava logo à minha direita, ele me ultrapassou. Nem tomou conhecimento de mim, pois ele estava 100% focado e olhando somente à frente.

Saí decepcionado com meu desempenho. Quando voltei à arquibancada, o professor me perguntou: “Por que você olhou para o lado? Não se olha para o lado na corrida!”.

Naquele momento eu escolhi me comparar ao invés de focar em mim. Sem querer, olhei para o lado em vez de olhar para a frente.

Como se livrar da comparação
Na foto, o multicampeão Michael Phelps totalmente focado em seu trabalho, enquanto seu adversário perde tempo com a comparação

Isso claramente aconteceu porque eu estava sem confiança. Eu estava com medo de perder. Tinha medo do que meus colegas iriam falar ou do que iriam pensar. Eu não queria ser o responsável pela nossa derrota. Me senti pressionado.

Foi uma importante lição. Quando nos sentimos assustados ou pressionados, nos comparamos. E essa comparação só aumenta a pressão que colocamos sobre nós.

Não precisamos ser super-homens ou mulheres-maravilha. Somos humanos. Talvez, um simples ato de compartilhar meu nervosismo antes da prova e pedir ajuda aos colegas e ao professor tivesse tirado essa pressão de mim. Tenho certeza que eles me apoiariam.

Se quisermos vencer a comparação, é fundamental olharmos para nossos medos e receios, buscarmos pequenas vitórias no dia a dia e nos cercar de pessoas que possam nos ajudar.

Os 5 tipos de comparação que estão fazendo mal a você

Para vencer a comparação, é preciso entender bem como ela se manifesta. Existem diferentes tipos de comparação que nos fazem mal, derrubando nossa autoconfiança e nublando nossa consciência.

Muitas vezes até achamos que não estamos nos comparando. Porém, quanto mais observamos esse impulso de comparação, mais sutis as comparações vão se tornando.

Por isso, é hora de ficarmos atentos. Veja a seguir os 5 tipos de comparação que provavelmente estão fazendo mal a você.

1. Comparar-se com pessoas “bem-sucedidas”

Essa é a comparação mais comum de todas. É a comparação clássica, não é mesmo?

Constantemente olhamos para a vida de influenciadores, pessoas famosas, astros da televisão e nos cobramos para conquistar o mesmo que eles. Mas pior do que isso é quando olhamos para nossos chefes, empresários da nossa cidade ou até mesmo pessoas próximas que “deram certo na vida”.

Nesses casos nos achamos fracassados, pois estamos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes dessas pessoas! Estamos fisicamente perto ou viemos de um contexto de vida parecido, mas ao mesmo tempo sentimos que estamos muito distantes de conquistar o que eles conquistaram.

Precisamos prestar atenção em dois pontos:

  • Nunca sabemos qual é a real situação de uma pessoa bem-sucedida. Não cabe a nós tentar adivinhar se ela está em paz ou não, se está equilibrada emocionalmente ou não, se seu casamento é feliz, se ela tem saúde etc.

Tentar desacreditar o sucesso da pessoa e dizer que ela deve ter problemas em alguma área da vida é uma atitude mesquinha da nossa parte, uma forma de inveja. Simplesmente não cabe a nós tentar julgar o outros.

  • Nunca conhecemos os bastidores do outro. Tem uma frase que diz que “nunca devemos comparar o palco do outro com o nosso bastidor”. Isso faz muito sentido, pois sabemos todos os problemas que existem na nossa vida, porém da vida do outro só enxergamos a parte boa.

O outro não tem a obrigação de nos mostrar os problemas dele. As pessoas têm todo o direito de mostrar o que têm de melhor, de postar somente os momentos felizes nas redes sociais e de compartilhar suas vitórias. Não devemos condená-las por isso.

Porém, podemos sempre lembrar que aquilo que enxergamos é um palco. Também temos o nosso palco que gostamos de compartilhar, assim como o outro também tem o seu bastidor.

2. Comparar-se com amigos e familiares

Se a pressão da mídia sobre nós é grande, o contexto familiar ou de amigos próximos tem ainda mais peso. Inconscientemente, estamos sempre buscando a aprovação das pessoas que amamos.

Na prática, essa busca inconsciente por aprovação dos nossos familiares e amigos nos faz tomar decisões que acreditamos que eles vão gostar. Nossa mente sempre acha que seremos mais aceitos se formos parecidos com aqueles que amamos.

Isso é verdade até certo ponto. Quando tomamos nossas próprias decisões e vamos atrás daquilo realmente queremos, podemos até sofrer alguns ataques de amigos e família. Porém, no longo prazo ganharemos ainda mais o respeito deles, pois todo ser humano possui um impulso interior de ser quem nasceu para ser.

Quando admiramos uma pessoa, não é por causa do seu trabalho ou do que ela faz. Na verdade, admiramos a pessoa que é autêntica, que segue seus sonhos e que acredita em si mesma.

Mais à frente neste artigo falaremos sobre como nos blindar dos ataques e questionamentos da família, amigos, colegas e sociedade.

Por enquanto, só precisamos saber que a comparação com familiares e pessoas próximas é um dos tipos de comparação mais danosos para nós. Ficar consciente disso já é um excelente passo!

3. Comparar-se com pessoas “coitadinhas”

Como mencionei na introdução deste artigo, nosso vício por comparação muitas vezes nos leva a nos comparar com pessoas que julgamos estar em situação pior do que a nossa. Por um breve momento isso nos faz sentir bem, pois nos traz um ar de superioridade.

O nosso ego fica inflado e se vangloria de ser mais inteligente, ter mais dinheiro, bens materiais superiores, um corpo mais bonito, comportamentos melhores ou um trabalho com mais status.

Esse tipo de comparação é o mais difícil de perceber. Normalmente admitimos que nos comparamos com celebridades, pessoas de sucesso e até com familiares. Entretanto, dificilmente queremos admitir que falamos ou pensamos mal de outras pessoas.

Neste tipo de comparação entram:

  • todo tipo de fofoca;
  • todo tipo de pena ou “coitadismo”;
  • todas as nossas atitudes que alimentam vaidade, orgulho e arrogância.

Sempre que dizemos que alguém é coitadinho, na verdade estamos invalidando a capacidade daquela pessoa. É como se disséssemos que ela é pior do que nós, ou que não tem as condições necessárias para vencer a dificuldade em que se encontra.

Isso é uma arrogância da nossa parte, pois quem disse que ela está em uma situação pior do que a nossa? A única coisa que sabemos é que a situação é ruim do nosso ponto de vista.

Um ótimo autodesafio que podemos praticar nesse sentido é cortar totalmente as palavras “coitado” ou “tadinho” do nosso vocabulário.

Projetamos nos outros aquilo que temos dentro de nós. Quando chamamos alguém de coitado é porque, lá no fundo, também nos achamos coitados. Alimentar esse vitimismo é algo extremamente prejudicial.

4. Comparar-se com seu eu do passado

Quando a vida começa a ficar desafiadora, muitas vezes nos tornamos nostálgicos. Lembramos de épocas em que tudo estava dando certo. Recordamos momentos felizes. Ficamos com a impressão de que os bons tempos já passaram.

Isso nos traz mais culpa e acaba com a nossa autoconfiança. Acreditamos que perdemos as qualidades que nos fizeram ter sucesso lá atrás. Passamos a achar que agora não somos mais capazes.

É fundamental observar esse tipo de comparação no nosso dia a dia, pois ele não fica tão aparente. Afinal, estamos nos comparando a nós mesmos e não a outras pessoas.

Ficar preso no passado é um comportamento de fuga. Quando nossa mente não gosta do presente, ela busca alívio no passado ou no futuro. É, no fundo, uma atitude infantil da nossa parte. Em vez de encarar a realidade, nos perdemos em um mundo de fantasia.

Por mais que esse passado tenha realmente existido, no sentimento de nostalgia a tendência é esquecer das partes difíceis e focar somente naquilo que deu certo. Isso nos traz uma falsa impressão de que antigamente a vida era quase perfeita (o que provavelmente não é verdade).

5. Comparar-se com seu eu do futuro

Assim como fugimos para o passado e julgamos nosso eu do presente como ruim, fazemos o mesmo com o futuro.

Muitas vezes estamos cheios de planos. Enxergamos possibilidades para o futuro e visualizamos conquistas que teremos lá na frente.

A partir daí começamos a diminuir nosso eu do presente, pois parece que estamos longe demais daquilo que queremos para a nossa vida. Nosso eu atual está tão distante do nosso futuro que julgamos ele como incompleto, incapaz, vergonhoso etc.

Percebe o nível de autocrueldade desse tipo de atitude? Esse eu do futuro nem mesmo existe e já está sendo usado para baixar a autoestima de quem somos hoje. Não faz o menor sentido, concorda?

Quanto mais observamos o impulso da comparação, mais sutil ela vai se tornando. Por isso é importante conhecermos esses diferentes tipos de comparação. Assim, conseguimos notá-los à medida em que acontecem no cotidiano.

Por que nos comparamos?

Agora que já vimos os principais tipos de comparação, é importante compreendermos por que a comparação acontece. Ao saber disso, vamos para de nos julgar por comparar e perceber que esse é um movimento comum da mente humana.

Sempre que trazemos para cima os motivos pelos quais um comportamento acontece, isso nos ajuda a desmistificar esse comportamento. Tudo isso facilita a autoaceitação.

Não somos pessoas ruins só porque nos comparamos. Não há nada de errado conosco. Isso não é sinal de desequilíbrio emocional ou algo do tipo.

A comparação é um dos comportamentos mais comuns do ser humano. Portanto, não precisamos nos culpar por comparar. Basta mantermos uma firme determinação de investigar esse assunto e vencê-lo!

Veja a seguir por que nos comparamos. Primeiro, veremos uma explicação com base na evolução das espécies; depois, uma segunda explicação com base mais filosófica e espiritual. Confira!

A comparação com base na evolução da espécie humana

Diferente de outros animais, o ser humano tem uma capacidade muito desenvolvida de modelar comportamentos. Desde os tempos das cavernas nós já observávamos o que dava resultado e copiávamos. A comparação era necessária.

Na ancestralidade, um comportamento era funcional quando garantia a nossa sobrevivência. Naquele contexto, copiar o que nos impedia de morrer era algo totalmente recomendado! Precisávamos rapidamente nos comparar para imitar outros humanos, evitando morrer por causa de predadores, catástrofes naturais, fome etc.

Cópia vs Adaptação

Os seres humanos ou tribos que não conseguiam se comparar para copiar os comportamentos de sucesso acabavam sendo extintos rapidamente. É a famosa teoria da evolução das espécies, eternizada por Charles Darwin. A modelagem sempre nos trouxe – e continua trazendo – um senso de sobrevivência no curtíssimo prazo.

Porém, dentro da própria teoria da evolução, é fundamental lembrarmos que mais importante do que copiar os outros é adaptar nossos comportamentos ao contexto atual. Afinal, não é o mais forte que sobrevive, e sim o mais adaptável. No longo prazo, não basta se comparar e copiar: é preciso se adaptar e encontrar novas maneiras de fazer as coisas. É preciso ser autêntico!

Milhões de anos depois, nossa espécie hoje vive um paradoxo:

  • por um lado nos comparamos e queremos ser iguais às outras pessoas, pois isso traz uma sensação de segurança (busca por sobrevivência no curto prazo);
  • por outro lado queremos nos inspirar e nos adaptar ao contexto atual para ser nós mesmos, nos especializando naquilo que faz sentido para nós (busca por autenticidade e prosperidade no longo prazo).

Os 3 cérebros humanos

Você sabia que dentro do nosso sistema cerebral existem, na verdade, 3 cérebros e não apenas um?

Segundo a neurociência, a partir da Teoria do Cérebro Trino de Paul MacLean, o ser humano possui 3 camadas cerebrais:

Cérebro Reptiliano (Cérebro de Jacaré)

É a parte mais antiga da constituição cerebral humana, responsável por instintos primitivos. O cérebro reptiliano reage por instintos, lutando contra aquilo que parece nos ameaçar ou fugindo.

Quanto mais inseguros estamos em relação a nós mesmos, mais esse cérebro nos domina. É ativado sempre que fazemos algo por medo, tristeza, ódio, culpa e vergonha.

Exemplo: quando alguém fala algo que não gostamos e reagimos com ódio ou fugindo totalmente do assunto, estamos usando o cérebro reptiliano.

Cérebro Límbico (Cérebro de Macaco)

Aqui está, cientificamente, a raiz da comparação. Presente em todos os mamíferos, o cérebro límbico é um pouco mais evoluído do que o reptiliano. Ele tem uma capacidade maior de modelagem, porém ainda é muito focado no curto prazo.

É eficaz em copiar comportamentos, mas não tanto em se adaptar e buscar autenticidade. O sistema límbico é ativado sempre que fazemos algo por ganância, raiva, orgulho, vaidade ou arrogância.

Exemplo: um macaco vê um ser humano manuseando uma ferramenta e copia seu comportamento, pois entende que essa ferramenta facilita alguma tarefa específica.

Repare que o cérebro límbico é necessário. A comparação utilizada pelo macaco proporciona que ele aprenda uma nova habilidade. O mesmo acontece com nós, humanos.

O problema começa quando pegamos essa habilidade incrível de aprender coisas novas e distorcemos para tentar ser uma cópia das outras pessoas.

Anote isso: podemos até copiar o que o outro faz, mas nunca conseguiremos copiar quem o outro é. Além de ser uma tarefa impossível, tentar copiar quem os outros são fará você viver como um animal racional.

Isso parece forte, e de fato é! Tentar viver a vida de outra pessoa é viver como um macaco. É desperdiçar o nosso potencial humano e nos reduzir a uma simples cópia.

Neocórtex (Cérebro de Humano)

É a parte do sistema cerebral responsável por contribuição, inovação, colaboração e demais comportamentos caracterizados como exclusivos dos seres humanos. É com a ajuda do neocórtex que vencemos a comparação e desenvolvemos a autenticidade!

O neocórtex e toda sua capacidade entram em cena quando fazemos algo com uma intenção de coragem, autoestima, empoderamento, disposição, autenticidade e amor.

Exemplo: quando você estuda uma pessoa que admira e busca desenvolver as virtudes que essa pessoa tem por pura inspiração (e não por comparação), você está utilizando o neocórtex. Nesse caso você adapta as situações para o seu contexto de vida. Ao invés de tentar ser igual ao outro, você capta a essência de seus comportamentos e aplica da sua própria maneira, respeitando quem você é, seu próprio histórico, suas condições atuais, seu perfil de personalidade etc.

A comparação a partir de um ponto de vista filosófico

Este trecho do artigo vai ficar um pouco mais subjetivo, ok? Se preferir, pule para o próximo subtítulo.

O Ser e o Ego

Existem dois “EUs” dentro de cada um de nós. Um deles é a nossa essência, representa nossas virtudes e nossa autenticidade. É quem realmente somos. Podemos chamar esse “eu” de Ser.

Nosso segundo “eu” é o ego. O ego é um conjunto de programações inconscientes, uma herança do nosso lado animal que está preocupado somente com a sobrevivência. O ego está ligado aos comportamentos egoístas, disfuncionais, ilusórios e que trazem sofrimento.

Isso não significa que o ego é ruim, mas sim que ele é limitado. Ele acredita em ilusões e depois sofre por conta disso.

A ilusão da separação

O ego humano nasce da ilusão de separação. Nos enxergamos separados de Deus ou do Universo, separados das outras pessoas, separados da natureza, separados de tudo o que existe. Todo o egoísmo nasce da separação.

No exato momento em que acreditamos que somos seres separados do resto, começamos a dividir. Se antes tudo era uma coisa só, agora existe “eu” e existe “o resto”. Isso automaticamente cria comparações, pois esse “eu” quer se comparar para entender como pode ganhar, perder, ser mais feliz, ser melhor etc.

Essa ilusão de separação tem sido explicada por diversas filosofias, sabedorias e religiões ao longo da história.

É a metáfora explicada em Gênesis quando, ao comer o fruto proibido, Adão e Eva se separam do Todo/Deus. O que antes era totalmente harmônico passa a ter algo faltando. A falta de roupas, a falta de prazeres, a falta de um local perfeito etc.

A ilusão de separação também é representada no Taoismo pelo símbolo de Yin & Yang. De um todo completamente harmônico (Tao), surge a dualidade que enxerga tudo separado. Antes tudo era um, agora são dois lados que se comparam.

A natureza do ego

Neste momento, podemos compreender simplesmente que a natureza do ego humano é se comparar. Na verdade, esse impulso de comparação estará presente durante toda a nossa vida. A diferença é se vamos atender ao impulso ou não.

Parar de se comparar não significa deixar de ter o impulso da comparação, mas sim parar de atender esse impulso. Lembrar disso é crucial para diminuir a autopressão.

Ou seja, o problema não está na comparação em si. Mas sim no esquecimento de que somos parte um todo. Em realidade, estamos completamente ligados a tudo o que existe (e não separados).

Com consciência, podemos utilizar a comparação como uma ferramenta útil para desenvolver novas habilidades e comportamentos — e não mais como uma fonte de julgamento e sofrimento.

Comparação x Inspiração: qual a diferença e como identificar cada uma delas?

Como mencionei, comparação e inspiração são duas coisas bem diferentes. A comparação nos faz querer ser iguais ao outro. Já a inspiração nos faz querer desenvolver aquilo que existe de melhor em nós mesmos.

Vamos identificar qual dos dois está mais presente no nosso dia a dia: comparação ou inspiração. Veja só!

8 características da comparação: sinais de que você está se comparando demais

  1. Você sente que está atrasado na vida e precisa recuperar o tempo perdido
  2. Você sente que sempre tem alguém mais experiente, habilidoso ou avançado que você
  3. Você está constantemente pedindo opinião de outras pessoas antes de tomar uma decisão
  4. Você acha que para você ganhar alguém precisa perder
  5. Você tenta se contentar em ser pequeno, pois parece que nunca será tão grande quanto as pessoas que vê aí fora
  6. Você sente vergonha de compartilhar suas dificuldades, limitações e desafios de vida
  7. Você se culpa por não ter tomado decisões diferentes no passado que te dariam uma vida melhor hoje
  8. Você se pega constantemente preso ao passado ou imaginando um futuro que parece muito difícil de alcançar

Ao identificar qualquer um dos comportamentos acima, corte as conversas mentais imediatamente!

Se quiser, você pode até dar um comando para si mesmo(a): “Eu sou um ser único e autêntico, e não vou mais tolerar me comparar com outras pessoas!”.

Sinta isso no seu coração! Você merece ser você!

É importante encararmos essas conversinhas da mente com determinação e firmeza, pois a natureza da mente é ser comentarista da nossa vida. Porém, ela obedece às nossas intenções quando nos posicionamos.

5 características da inspiração: sinais de que você está se inspirando

  1. Você é capaz de fazer parcerias com outras pessoas da sua área profissional
  2. Você comemora quando enxerga o sucesso de outra pessoa e entende que isso facilita o seu sucesso
  3. Você é capaz de tomar decisões que vão contra o senso comum ou na contramão daquilo que sua família e amigos valorizam como ideal
  4. Você se sente conectado a algo maior (Deus, Universo, Vida ou como você quiser chamar)
  5. As pessoas dizem que você as inspira e se sentem contagiadas com o seu exemplo

Esses são apenas alguns indícios de que estamos nos inspirando. A inspiração vem sempre com uma leveza e um empoderamento. Isso é o mais importante, independente da forma!

Como se blindar dos ataques e questionamentos da família, amigos, colegas e sociedade?

Quando buscamos ser nós mesmos e tomar nossas próprias decisões, é comum encontramos barreiras. Sem querer, pessoas próximas podem se opor a nossas visões e até nos desmotivar.

Esses ataques ou questionamentos não necessariamente vêm na forma de críticas. Por exemplo: se você quer trabalhar por conta própria, às vezes as pessoas da sua família vão (inconscientemente) ressaltar como é importante ter um emprego estável.

Isso não acontece por mal, mas sim porque cada pessoa ou grupo de pessoas tem os seus valores e padrões. Como seres humanos, nos sentimos ameaçados por tudo aquilo que sai dos padrões que estamos acostumados.

Tudo o que nos desafia é visto como ameaça. Sabendo disso, podemos amar e respeitar as posições das pessoas ao nosso redor, ao mesmo tempo em que nos mantemos firmes naquilo que nos determinamos a fazer.

A seguir, compartilho 3 maneiras práticas de lidar melhor com esses possíveis desencorajamentos por parte da família, amigos ou colegas.

Autodesafiar-se a mudar hábitos e padrões

Quando praticamos autodesafios constantes de mudanças de hábitos e padrões em nós mesmos, conseguimos mudar de forma gradual e sustentável. Isso permite que tanto nós como as outras pessoas se ajustem ao nosso “novo eu” que está surgindo.

A cada autodesafio que cumprimos, colhemos uma pequena vitória que nos traz mais autoestima e autoconfiança – ótimos antídotos para a comparação!

Isso também vai nos trazendo mais coragem para ser quem nós queremos, nos aceitar do jeito que somos e mostrar isso para os outros com naturalidade (sem precisar forçar a barra).

Para ganhar coragem e autoconfiança diante de pessoas que às vezes te desencorajam ou te comparam com outros, praticar autodesafios é a principal recomendação. Você pode começar com pequenos autodesafios nas principais áreas da vida, como:

  • Saúde: beber mais água; praticar exercícios físicos; dormir mais cedo;
  • Finanças: fazer controle financeiro; estudar sobre investimentos; mudar padrões de consumo;
  • Autoestima: reservar um tempo para fazer algo que você gosta; incluir algo que você valoriza em sua rotina; tomar pequenas decisões por conta própria sem consultar ninguém.
  • Relacionamentos: fazer novas amizades; pedir mais ajuda; emanar amor para outras pessoas que não entendem você;
  • Carreira: criar um novo projeto no trabalho; buscar novas parcerias dentro ou fora da empresa em que trabalha; fazer um novo curso;
  • Propósito: pensar em maneiras de servir o mundo e as pessoas; fazer uma lista daquilo que você ama fazer e praticar uma delas por semana; aprimorar-se em algo que você é bom.

Adotar todos os ataques como demonstrações de amor

Toda vez que uma pessoa próxima tenta nos desencorajar a seguir um caminho que queremos, na verdade ela só está tentando nos proteger. É comum que familiares e amigos próximos não queiram nos ver sofrer.

Então, quando tentamos seguir um caminho que é desafiador, desconhecido ou que sai dos padrões desses familiares ou amigos, às vezes pode acontecer de eles nos desencorajarem, nos compararem com outras pessoas ou nos criticarem.

Nesses momentos podemos praticar o autodesafio de adotar todos os ataques como demonstrações de amor.

Que tal alguns exemplos?

Quando você tenta seguir a carreira dos seus sonhos e seu pai questiona, ele silenciosamente está dizendo que te ama e que gostaria de poder te proteger para sempre, evitando qualquer tipo de sofrimento para você.

Quando você conta que quer se mudar para outra cidade e seus familiares começam a listar motivos para você ficar, o que eles querem dizer é que vão sentir a sua falta.

Quando você toma uma decisão que é diferente do padrão que sua família costuma seguir e eles brigam com você, eles silenciosamente estão querendo dizer que se sentem desconfortáveis com esse novo padrão. Que essa atitude diferente assusta e, por isso, eles acham que você pode se machucar. Que eles te amam e jamais querem ver você sofrer.

Esse é um autodesafio que exige treino, mas que traz muita libertação, pois aceita e respeita as outras pessoas exatamente como elas são, ao mesmo tempo em que você foca nos seus objetivos e naquilo que acredita representar quem você realmente é.

Buscar grupos de pessoas que querem o mesmo que você

É muito difícil conseguir um objetivo quando estamos cercados de pessoas que querem coisas diferentes. Normalmente, acabamos nos comparando com essas pessoas que estão indo por outro caminho e nos sentimos sozinhos. Acabamos cedendo à comparação e tentamos ser iguais às pessoas que amamos em vez de buscar ser nós mesmos.

Um antídoto para isso é se cercar de pessoas que têm o mesmo objetivo que você. Isso pode ser feito por meio de grupos presenciais, cursos, grupos de networking, redes sociais ou qualquer outra maneira que você imaginar.

Por exemplo, se você quer passar em um concurso público, mas a sua família é formada por empreendedores e seus amigos estão apenas preocupados em fazer festa, vai ficar muito pesado alcançar esse objetivo.

Nesse caso, o melhor a fazer é buscar a convivência de outras pessoas que também querem fazer um concurso, pois assim você evita se comparar com pessoas que têm valores diferentes dos seus e foca em ajudar e buscar ajuda de pessoas que vão na mesma direção que você.

Para finalizar, o autodesafio que recomendo para você vencer a comparação, andar no seu próprio ritmo e confiar na sua capacidade

Entre inúmeros autodesafios que já me ajudaram a reduzir a comparação e aumentar a inspiração, compartilho agora com você um dos principais deles.

Você pode praticá-lo por uma semana, observar os resultados e refletir sobre os aprendizados. Se o autodesafio estiver fazendo sentido, continue por mais tempo!

Autodesafio: Abençoar mentalmente as pessoas que conquistaram ou estão conquistando o que você quer

No estudo da psicologia humana, existe algo chamado de Efeito Roger Bannister. Roger Bannister foi o primeiro atleta e correr uma milha em menos de 4 minutos.

Há anos diversas pessoas buscavam quebrar esse recorde sem sucesso. Quando Bannister alcançou a marca, algo inesperado aconteceu. Subitamente, vários atletas começaram a bater essa mesma marca ao redor do mundo.

Em algumas ciências do desenvolvimento humano, isso é chamado de quebra de crença coletiva. Quando um coletivo de pessoas acredita que não consegue fazer algo, isso dificulta o avanço de todos.

Por outro lado, quando uma pessoa alcança um resultado, esse resultado se torna disponível para mais pessoas.

Quanto mais gente está conseguindo um determinado resultado, mais chances você também terá! Isso vai na contramão do que muitas vezes acreditamos ao nos comparar.

Na comparação, achamos que para ganharmos alguém tem que perder. Porém, na verdade o que ocorre é justamente o contrário. Quanto mais pessoas vencem, mais outras pessoas vencerão também.

Sabendo disso, pratiquei por algum tempo – com ótimos resultados – o autodesafio de abençoar e agradecer mentalmente pessoas que alcançam aquilo que quero.

Se você quer emagrecer e sente dificuldade de ir à academia, não se compare com pessoas que são fitness. Sempre que você ver alguém correndo na rua ou comendo uma refeição low carb, digamos, abençoe mentalmente essa pessoa. Agradeça a ela por abrir caminho para você! Vocês são aliados e vencerão juntos!

Estamos todos juntos buscando ser nossa melhor versão. A vida não é necessariamente fácil, mas pode ser divertida se observarmos a humanidade como um coletivo de pessoas buscando evoluir juntas, aprender juntas, ser felizes em conjunto.

Desejo a você uma ótima prática. Você merece vencer a comparação, confiar em você e desenvolver a sua autenticidade. Vamos juntos!

Como se livrar da comparação

Treinador Comportamental e Cofundador da Gênese Treinamentos. É autor do livro Tudo É Perfeito Como É, Pós-Graduado em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUC-RS, Certificado como Líder e Treinador de Alta Performance pela Pandora Treinamentos e Bacharelado em Comunicação Social pela UFRGS.