A relevancia do ditado popular para a cultura

Os ditados populares, ou provérbios, são frases de um contexto popular. Abrangem um texto mínimo, geralmente de autor anônimo ou desconhecido. Contudo, são frases repetidas inúmeras vezes, que acabam fixando sua ideia de senso comum no juízo popular. Comumente também estão relacionadas a um específico contexto cultural. Utilizados no dia a dia, os ditados populares são expressões imutáveis que atravessam anos, constituindo assim uma identidade sociocultural.

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Resumidamente, os ditos transmitem um conhecimento de senso comum sobre a vida como um todo. Grande parte deles foi originada em tempos mais antigos, mas seguem vivos até hoje. “Antes ele do que eu”, apesar de não ser um provérbio reflexivo, abrange o que denomina-se “frase-feita”. Esta, por sua vez, incorpora uma expressão frasal pronta que designa um significado próprio para contexto.

A relevancia do ditado popular para a cultura
Em um diálogo é muito comum que ditados populares sejam soltos. (Imagem: Reprodução)

Afastando-se, porém, do conceito de frases-feitas, os provérbios acabam por fazer parte da rotina. Afinal, enquanto você fazia uma atividade rápida para apressar não ouviu que “a pressa é a inimiga da perfeição”?

Os ditados populares são populares exatamente por apresentarem essa lógica e uso contextualizado. Essa lógica por traz deles populariza seus significados. Sendo fáceis e totalmente rápidos de decorar e transmitir. Além de serem dotados de um formato simples e dinâmico. Eles são artifícios excelentes para uso corriqueiro na linguagem.

Ditados populares que foram aprendidos errados e suas devidas correções

Chega de ditar o erro. Os provérbios são reflexivos, e sua essência tem uma relação muito forte com sua construção frasal. Há diversos ditados populares formulados que até apresentam coerência erroneamente falados. Contudo, é necessário corrigi-los. Veja alguns deles e seus devidos reparos:

1) “Batatinha quando nasce esparrama pelo chão”

Menina quando dorme bota a mão no coração. Lindo ditado, mas, excepcionalmente, esta construção está incorreta. O correto é “Batatinha quando nasce espalha a rama pelo chão”.

2) “Cuspido e escarrado”

Para se referir a um primogênito que se assemelha aos pais? Nada disso! Está incorreto. “Esculpido em Carrara” é a construção correta. Carrara, para fins de entendimento, é um tipo de mármore.

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Este poderia ser muito bem utilizado para especificar a uma situação adversa. Contudo, a verdadeira expressão dita que “quem não tem cão, caça como gato”. Ou seja, não tem um companheiro? Caça sozinho.

4) “Ossos do ofício”

Para destacar as dificuldades junto ao vínculo empregatício. Entretanto, a frase, na realidade, é construída da seguinte forma: “Ócios do ofício”. O destaque é justamente para as procrastinações durante o horário de trabalho.

5) “Quem tem boca vai a Roma”

Geralmente é utilizado para incentivar a comunicação entre as pessoas. No entanto, o ditado verdadeiramente diz que “quem tem boca vaia Roma”. Em alusão clara a protestos dos romanos para com diversos imperadores ao longo da história.

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Mas o que seria bicho carpinteiro? Para se referir verdadeiramente a uma criança agitada deve-se dizer de uma outra forma. Que tal: “Esse menino não para quieto, parecer ter bicho no corpo inteiro”?

Importância dos ditados populares

Os provérbios são recursos práticos utilizados para especificar uma ação. Eles apresentam um significado que carregam já ao longo da construção. A expressão especifica uma determinada situação com palavras já moldadas.

Assim, além de servirem como reflexão, os ditados populares são frases que abrangem um resumo. A síntese de uma determinada ação a partir de um contexto pré-estabelecido pela construção frasal.

Referências

OLIVEIRA, de Édison. Todo o mundo tem dúvida, inclusive você, editora Sagra. 2ª edição. 180 p.

A relevancia do ditado popular para a cultura

Os ditados populares e provérbios fazem parte da cultura de cada local. De Norte ao Sul do Brasil, são frases que servem de conselhos, críticas ou gracejos. Não restringindo seu significado e simbologia, os ditos são carregados de sabedoria, passados de geração em geração.
Quem não se lembra de ter ouvido, pelo menos uma vez na vida, que em casa de ferreiro o espeto é de pau? Ou que alguém está mais perdido do que cusco em tiroteio?

Fato é que os ditados tomam boa parte de nosso vocabulário, adaptando-se e surgindo de tempos em tempos. Incisivos, sempre buscam trazer alguma lição ao ouvinte. E há até quem dedique a carreira a pesquisá-los. A ciência responsável por esse estudo, analisando-os como fenômeno linguístico, chama-se Paremiologia.

Para a professora Lisandra Machado, da Escola Cinco de Maio, formada em licenciatura em Letras, existem muitos tipos de ditados populares. “Como os bíblicos, regionais, estrangeiros, que podem ser elencados e explorados de diversas maneiras. Abre um leque grande para o educador trabalhar em sala de aula”, defende.

Mas provérbio e ditado popular são a mesma coisa? Lisandra responde que, apesar de serem encontrados como sinônimos, as figuras de linguagem podem ter construções diferentes. “É uma linha muito tênue. Provérbio pode ser mais metafórico, poético”, explica.

A relevancia do ditado popular para a cultura
Atualmente lecionando para as séries iniciais, Lisandra conta que trabalhará ditados populares para o Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto

Ela destaca, ainda, que os ditos permanecem sempre atuais. “Pois falam de aspectos universais da vida; do cotidiano. Há provérbio para praticamente qualquer situação, e sempre tem uma lógica por trás. Não se sabe de onde surgiu, como teve início. Por ser folclórica, tem identidade anônima”, pontua.

Para a docente, a maneira de trabalhar o conteúdo, que faz parte da Língua Portuguesa, é diferente para cada série. “Na Educação Infantil, a forma de trabalho é sempre muito light. Para as séries finais do Ensino Fundamental, o enfoque é diferente. Os ditos populares são explorados com mais seriedade, aprofundamento. Termos específicos, nomenclaturas e metáforas passam a ser ensinados. Essa etapa exige um olhar diferente por parte do aluno. Como você vai chegar a uma criança e questionar “qual a metáfora que envolve esse provérbio”? Eles ainda não estão preparados para essa aprendizagem”, diz.

Atualmente, a professora se prepara para iniciar o conteúdo com os estudantes, por conta do Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto. “Durante a pesquisa, quando se faz um projeto, encontra-se que cada região tem suas peculiaridades. O gaúcho tem muito característico o uso de termos animais como “cusco” e “cavalo” ou, ainda, “china e campanha””, conclui.

Alguns ditados populares do Sul – Deus ajuda a quem cedo madruga. – De cavalo dado, não se olha os dentes. – Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça. – Gato escaldado tem medo de água fria. – Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. – Quem tem pressa come cru. – Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. – Quem não tem cão caça com gato. – Coisa feia, cachorrada nas ovelhas.

– Puxa um cepo e senta no chão.

Gerações antigas passam a cultura para os descendentes
Pai de Lisandra, João Simpliciano Machado, 77 anos, acredita que, pelo fato de ser mais velho, já ouviu muitas frases populares. “E muitas ficaram retidas na memória”, esclarece. Com um caderno de anotações em mãos, explica que grande parte dos ditados que escuta e aprecia, transcreve para o papel. A crítica e a reflexão, segundo João, são intrínsecas às frases.

A relevancia do ditado popular para a cultura
Atualmente lecionando para as séries iniciais, Lisandra conta que trabalhará ditados populares para o Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto

Tendo morado por muito tempo em regiões próximas à fronteira, em Santiago e São Francisco, o aposentado reconhece que, nesses locais, o uso é ainda mais forte. “Acredito que os ditados se tornam mais interessantes quando mantêm a tradição. É curioso, forte do linguajar e se torna pitoresco. Deve existir, sim, um para cada situação, mas não tenho a pretensão de conhecer todos”, salienta.

João também crê que a cultura passa dos mais velhos aos mais jovens, principalmente de forma oral. “Por isso, é possível que mude ou deturpe um pouco com o tempo; é fácil sofrer alterações. Na vida profissional, atuei por 30 anos, sem nunca colocar um atestado. Depois que me aposentei, sempre falo: quando eu canso de estar parado, paro para descansar”, brinca.