Por que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial

O ataque japonês contra a base naval de Pearl Harbor, localizada no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, levou à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Esse episódio iniciou o confronto entre americanos e japoneses que, ao longo de quase quatro anos, quase destruiu completamente o Japão.

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Por que o Japão atacou a base de Pearl Harbor?

A escalada do Japão rumo à guerra começou após a Restauração Meiji, ocorrida em 1868. Essa mudança política foi responsável pela queda do xogunato (forma de governo imposta pelos chefes militares) e pela restauração do poder monárquico da família imperial. Além disso, foi iniciado durante a Restauração Meiji um forte processo de modernização da economia e da indústria.

Esse processo provocou forte crescimento econômico e transformou o Japão em uma potência na Ásia. A partir disso, surgiu no Japão um interesse imperialista sobre regiões dos países vizinhos com o objetivo de garantir fontes de matéria-prima e mercados consumidores para a produção japonesa.

O principal alvo da ambição japonesa foi a China, onde os interesses do Japão levaram esse país a travar duas guerras na virada do século XIX para o século XX. Entre 1894 e 1895, ocorreu a Primeira Guerra sino-japonesa, na qual foi disputado o domínio da Península da Coreia. Posteriormente, em 1904 e 1905, foi travada a Guerra russo-japonesa, em que os japoneses disputaram o controle da Península de Liaotung e de Port Arthur (regiões da Manchúria) com a Rússia.

As vitórias obtidas nessas duas guerras contribuíram para o crescimento das ambições imperialistas japonesas. Durante as décadas de 1910, 1920 e 1930, surgiu no país um forte grupo político de extrema-direita, que fomentou a guerra contra as nações vizinhas e contra as potências ocidentais presentes no continente asiático.

A rivalidade entre os Estados Unidos e o Japão surgiu entre as décadas de 1910 e 1920, a partir de atritos diplomáticos entre os dois países por causa das ações japonesas contra a China. Esse atrito intensificou-se na década de 1930, quando o Japão invadiu a Manchúria e iniciou a guerra contra a China em 1937. Além disso, a decisão americana de limitar a entrada de japoneses nos EUA, em 1924, gerou efeito negativo na diplomacia entre as duas nações.

Preparação para o ataque a Pearl Harbor

Em 1937, após o desentendimento entre soldados chineses e japoneses em Pequim conhecido como Incidente da Ponte Marco Polo, o Japão iniciou a Segunda Guerra Sino-Japonesa e invadiu inúmeras regiões da China, promovendo grandes massacres. Posteriormente, em 1940, os japoneses realizaram a invasão da Indochina para impedir que as tropas chinesas de Chiang Kai-shek recebessem suprimentos e armas dos americanos. Em resposta, os Estados Unidos impuseram um embargo sobre a vital importação de petróleo para o Japão.

O embargo americano sobre as importações de petróleo ao Japão alarmou os japoneses, pois, segundo o historiador Antony Beevor, somente havia combustível suficiente para abastecer os navios japoneses por um ano.|1| Assim, tornou-se vital para essa nação obter o controle das fontes de petróleo existentes nas Índias Orientais Holandesas.

Ao mesmo tempo, era importante para o Japão a expulsão dos Estados Unidos do continente asiático para que as ambições territoriais japonesas fossem garantidas. A guerra contra os Estados Unidos era fortemente defendida por boa parte da cúpula militar japonesa. No entanto, algumas personalidades, como o almirante Isoroku Yamamoto, defendiam uma resolução diplomática entre as duas nações.

Yamamoto defendia a ideia de que o Japão não possuía meios para garantir a vitória sobre os Estados Unidos a longo prazo. Isso porque a capacidade de guerra dos americanos era proporcional à sua capacidade industrial, portanto ambas eram muito superiores à capacidade do Japão. Como parâmetro, o historiador Max Hastings apontou que a capacidade industrial japonesa equivalia a apenas 10% da existente nos EUA na época da guerra.|2|

Apesar desses fatos, aqueles que defendiam uma resolução diplomática com os Estados Unidos eram a minoria na cúpula militar japonesa. Assim, uma vez que recebeu a missão de atacar os Estados Unidos, Yamamoto propôs um ataque intenso e fulminante, que causaria grande destruição ao inimigo.

A ideia de Yamamoto era a de, mediante uma guerra de grande intensidade, forçar os Estados Unidos a aceitarem os termos impostos pelo Japão. Isso porque ele previa que uma guerra a longo prazo seria totalmente desastrosa para Japão. Assim, a partir disso, Yamamoto planejou o ataque, que foi executado pelo almirante Chuichu Nagumo.

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Como foi o ataque a Pearl Harbor

Por que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial

Selo americano relembra o ataque à base naval de Pearl Harbor *

Pouco antes do ataque japonês à base naval americana de Pearl Harbor, a inteligência dos EUA havia interceptado informações que deixavam evidente uma futura ofensiva do Japão. Por causa disso, no dia 27 de novembro de 1941, todas as bases americanas no Pacífico foram alertadas da iminência do ataque japonês.

No entanto, quando esse ataque concretizou-se, as forças americanas em Pearl Harbor estavam completamente despreparadas, o que aumentou a potência da destruição e as mortes decorrentes da agressão japonesa. O ataque começou na manhã de 7 de dezembro de 1941 (no horário local) com 183 aviões.

Após duas cargas de ataque sobre a base naval de Pearl Harbor, as forças japonesas retiraram-se e, segundo o historiador Antony Beevor, deixaram o seguinte saldo de destruição:

Além dos encouraçados Oklahoma e Arizona, a marinha americana em Pearl Harbor perdeu dois contratorpedeiros. Outros três encouraçados foram afundados ou encalharam e mais tarde foram recuperados e consertados, e três mais foram avariados. O corpo aéreo do exército e o da marinha perderam 188 aviões destruídos e 159 avariados. No total, 2.335 soldados americanos foram mortos e 1.143 feridos|3|.

Consequências do ataque a Pearl Habor

Apesar dessa destruição, o ataque a Pearl Harbor foi visto pelos historiadores como um verdadeiro desastre estratégico, pois somente adiou a capacidade de reação dos Estados Unidos e acabou por mobilizar a população americana para a entrada do país na guerra. Entretanto, esse ataque foi visto pelo Eixo (Alemanha, Itália e Japão) como uma grande vitória e, imediatamente após a Pearl Harbor, o Japão iniciou o ataque ao sudeste asiático.

No dia 8 de dezembro de 1941, os Estados Unidos, como resposta, declararam guerra ao Japão. Ao longo de quase quatro anos, os dois países travaram batalhas ferozes, as quais resultaram na quase destruição total do Japão, inclusive com o lançamento de duas bombas atômicas, que forçaram o país a render-se em agosto de 1945.

Notas

|1| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 282.
|2| HASTINGS, Max. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 209.
|3| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 286.

* Créditos da imagem: Catwalker e Shutterstock

Por Daniel Neves

Graduado em História

A atuação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ocorreu na Itália, a partir do segundo semestre de 1944, travando batalhas em regiões como Monte Castelo.

O Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial em 30 de junho de 1944, ao lado dos países aliados, isto é, Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética e as resistências civis-militares de países como a França. O inimigo, evidentemente, eram as chamadas “Potências do Eixo Roma-Berlim-Tóquio”. Mas por que o Brasil entrou na guerra? E como ocorreu a sua atuação? É o que responderemos a seguir.

Sabemos que o período da Era Vargas conhecido como Estado Novo, que se estendeu de 1937 a 1945, foi explicitamente ditatorial. Getúlio instaurou um aparato político policial muito semelhante ao da Itália fascista e ao da Alemanha nazista, países com os quais o Estado Novo manteve relações estreitas até 1941. Foi em 1941, contudo, que os Estados Unidos entraram oficialmente na guerra, após a base naval de Pearl Harbor ter sido atacada por aviões japoneses.

Os EUA buscaram traçar uma zona de influência militar sobre o continente americano a fim de evitar uma eventual ocupação nazifascista. O Brasil possuía regiões estratégicas que não poderiam ficar vulneráveis. Era o caso do litoral do estado do Rio Grande do Norte, onde está o Forte dos Reis Magos. Os americanos sabiam que precisavam de Vargas como aliado e começaram a pressioná-lo nesse sentido. Como diz o historiador Boris Fausto, em sua obra História do Brasil:

[…] Antes mesmo de começar a guerra, Roosevelt já se convencera de que ela se daria em escala mundial e envolveria os Estados Unidos. Essa perspectiva levou os estrategistas americanos a ampliar o que consideravam o círculo de segurança do país, incluindo a América do Sul e em especial a “saliência” Nordeste Brasileiro. Os americanos se lançaram também em uma ofensiva político-ideológica, ao promover, entre outras iniciativas, as Conferências Pan-Americanas, em torno de um objetivo comum: a defesa das Américas, independentemente do regime político vigente em cada país, sob o comando dos Estados Unidos. [1]

  • Navios torpedeados e a declaração de guerra

Os nazistas, sabendo da aproximação do Brasil com os EUA, começaram a promover retaliações contra o país, atacando navios – inicialmente navios distantes do litoral brasileiro; depois, navios mercantes muito próximos da costa nordestina. Entre 5 e 17 de agosto de 1942, seis navios brasileiros foram afundados por submarinos alemães, o que resultou na morte de mais de 600 pessoas. O fato comoveu a nação, que passou a pressionar Vargas a declarar guerra à Alemanha. Ainda no mês de agosto, o Brasil declarou oficialmente guerra contra as potências do Eixo.

  • A FEB e o front de batalha da Itália

O destacamento de soldados brasileiros enviados à guerra estava vinculado à Força Expedicionária Brasileira (FEB), criada em 13 de novembro de 1943 com o objetivo especial de ir para o front de batalha na Europa ao lado das potências aliadas: EUA, Inglaterra e União Soviética. Os soldados da FEB, que eram cerca de 25 mil, lutaram na Itália, em regiões como a de Monte Castelo – onde houve a mais importante das batalhas pela libertação da Itália. O número de mortos dos soldados brasileiros chegou a 443.

NOTAS

[1] FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013. p. 324.

Aproveite para conferir a nossa videoaula sobre o assunto: