O que é comparante e comparado

O que é comparante e comparado

'bela', 'delicada', 'perfumosa', 'suave', etc.. A determinação do atributo implícito nem sempre é simples. A pertinência ao contexto é fundamental. A metáfora é um recurso de semântica aberta e em certos casos as incertezas quanto ao atributo implícito são grandes. Metáforas tipo II É aquela que explicita comparado e atributo explícito. Exemplo: 'cor quente'. Comparado: 'cor'. Comparante: 'temperatura'. Atributo explícito: 'quente'. Atributo implícito: capacidade de gerar impressões fortes e enérgicas. Um segundo exemplo: 'Amargo regresso'. Comparado: 'regresso' Comparante: 'sabor' Atributo explícito: 'amargo'. Atributo implícito: 'ruim', 'desagradável', etc.. Metáforas tipo III O comparante substitui o comparado. Exemplo: 'A chave do problema'. Comparado: 'solução'. Comparante: 'chave'. Atributo implícito: capacidade de abrir portas, caminhos, etc.. Um caso particular é aquele em que ao comparante se atribui características do comparado. Exemplos: 'O homem é um caniço pensante'. 'O basset é um salsichão de patas'. Pela metáfora não se compara apenas objetos, mas também fenômenos. Assim são metáforas: 'Correr como raio'. 'Ficar gelado de medo'. 'Chorar lágrimas de sangue'. Metáfora original e metáfora lexicalizada A metaforização é um processo de vasto uso na criação de léxico. Uma metáfora, quando surge pode se vulgarizar a ponto de se converter em léxico. Em muitos casos a percepção da origem metafórica chega a se dissipar. A metáfora lexicalizada, a rigor, deixa de existir como metáfora. Quando digo 'Maria é uma flor' estou sugerindo que o enunciado seja decodificado por um algoritmo metafórico, onde 'Maria' continua a designar uma mulher e 'flor' continua a designar um vegetal, ou seja, na metáfora original nem comparado, nem comparante sofrem mutação ou transferência de sentido. 'Maria' continua a designar a Maria e 'flor' continua a designar a flor. Se a comunidade começar a chamar a Maria sempre por 'flor' teremos uma lexicalização. O termo 'flor' passará a ser signo para a Maria. Neste caso estamos diante de uma lexicalização que teve origem numa metáfora. Será justo dizer que 'flor' passou por uma transferência de sentido. Designava um objeto e passou a designar outro. Isso gerou a clássica concepção dos tropos como 'palavra tomada em outro sentido'. Essta concepção designa, a rigor, o processo de lexicalização originado a partir de tropos. Na metáfora original não há nenhuma alteração de sentido dos signos nela envolvidos. Hipérbole A hipérbole é um caso especial de metáfora usada para passar uma impressão de grau extremo. Hipérbole é a metáfora em que o comparante se caracteriza por ser um extremo em relação ao comparado. Por exemplo: 'Demorou um século'. Comparado: 'Tempo da demora'. Comparante: 'Um século'. Atributo implícito: 'demora'. O Comparante é um extremo na classe dos eventos demorados da qual faz parte o comparado. Um caso notável da hipérbole é aquele que se gera a custa de arredondamentos. O comparante é um arredondamento extremado que se relaciona com o comparado. Um exemplo: 'Moro onde não mora ninguém'. O exemplo, no nível imediato é uma contradição. O comparado cabível seria 'onde quase ninguém mora'. Geralmente a hipérbole apela para o maravilhoso. Alguns exemplos: 'Cuspir fogo pela boca', 'Comer o pão que o diabo amassou', 'chorar lágrimas de sangue'. O agregado de significação pela metáfora Ao dizer 'Maria é uma flor' consideremos uma das intenções seja dizer 'Maria é bela'. Mas por que então usar a metáfora e não o termo próprio? Ocorre que pela metáfora não se diz apenas que 'Maria é bela' mas também como é esta beleza, que tipo, que grau. A metáfora agrega significação ao discurso relativamente ao enunciado próprio que vém da sua decifração. Este agregado de significação é que torna a metáfora um recurso espetacular de expressão, insubstituível, em muitos casos por outros recursos. A excelência da metáfora Será tanto melhor quando Os atributos implícitos inferidos são muitos. Os atributos implícitos são muito pertinentes ao comparado. Os atributos implícitos são muito característicos do comparante. Pela metáfora se obtém palpabilidade. A metáfora intensifica/atenua. As funções da metáfora A metáfora é usada quando: Não há termo próprio para a situação... O termo próprio não tem a conotação desejada. Se quer evitar a repetição do termo próprio Se quer comparações palpáveis. Se quer drenar a atenção para o significante. Se busca a novidade. Comparações desconcertantes O enunciado 'X é Y' se não admitir leitura imediata sempre dá em metáfora. Diante de frases deste tipo nossa mente começa a trabalhar automaticamente na busca de uma semelhança entre X e Y até encontrar uma razoável que viabilize a metáfora. O caso mais frustrado seria aquele em que X e Y são tão díspares que a única semelhança que se pode imputar aos dois é a do ser. A qualidade de uma metáfora está associada à semelhança induzida entre os elementos X e Y. A definição aristotélica da metáfora A definição aristotélica da metáfora: palavra tomada em outro sentido, embora seja pertinente à metáfora, não a enquadra. Outros recursos de estilo se enquadram na definição aristotélica de metáfora como o ato falho, a impropriedade, a ironia, o oxímoro. Metáfora não precisa ser palavra, mas uma unidade semântica, que não precisa ser mínima como é a palavra. A metáfora não está presa a uma forma. Posso dizer: 'Maria é uma flor.' ou 'Maria flor.' ou 'Maria é como uma flor.' Nas três formas subsiste a mesma metáfora. Metáfora não se diferencia da comparação pelos termos de comparação típicos, tais como, 'como', 'tal qual', etc.. A diferença entre comparação e metáfora é que na metáfora o atributo comum está elíptico. Metáfora é um algoritmo analógico. Tropos A metáfora, juntamente com a metonímia, a alegoria, a ironia, o oxímoro e alguns trocadilhos formam um grupo de recursos de Retórica semânticos a que se chamou de tropos. Os tropos tem a característica de parecerem impertinências numa análise superficial, ora impertinências lógicas, ora contextuais. Metaplasmos Genericamente, um metaplasmo é uma alteração intencional do código, é exercício de criatividade sobre a língua. Os metaplasmos são praticados nos diversos níveis do linguístico: gráfico, ortográfico, fonológico, gramatical. Nosso interesse está focado no uso retórico dos metaplasmos, mas uma parte dos metaplasmos criados se difunde pelo uso e acaba levando à alterações diacrônicas do idioma. Além disso existe uma relação estreita entre a criação de metaplasmos para uso retórico e a criação de léxico e gramática. A seguir, sem pretensão de classificar nem de ser exaustivo, alguns tipos de metaplasmo: Icônico: O metaplasmo cria uma iconia. Um exemplo: uma empresa de laticínios deu a um de seus produtos o nome de 'mu- mu'. De extrapolação: O metaplasmo vem de extrapolação das características do código. Caso típico é a criação de palavras a partir de morfemas da língua. Cobertura de defectividade: Quando o código é defectivo, as vezes esta defectividade é suprimida com um metaplasmo. Metaplasmos clássicos: São típicos na poesia anterior ao modernismo. Visam basicamente a regularizar a métrica. Costumam ser divididos em fonológicos: Elisão, sinérese, diérese, etc., e morfológicos: Prótese, síncope, apócope, etc.. Elíptico: Resultam da elipse de parte de um termo. Criação de léxico e gramática Saussurre

O que é comparante e comparado
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O que é comparante e comparado

A linguagem figurada consiste em “desvio”, segundo a retórica, e em “alterações da linguagem”, segundo a não retórica.

Dentre as figuras consideradas de palavra, temos:

[...] uma comparação em que o espírito, induzido pela associação de duas representações, confunde num só termo a noção caracterizada e o objeto sensível tomado como ponto de comparação [...], segundo Bally.

Bally agrupa as expressões figuradas em três grupos: imagens concretas, sensíveis, imaginativas; imagens afetivas; imagens mortas.

a) imagens concretas: “O vento engrossa sua grande voz”.

b) imagens afetivas: “O doente declina dia a dia”.

c) imagens mortas: escrúpulo, do latim scrupulu (designava uma pedrinha usada para pesar coisas pequenas; passou a designar a honestidade do negociante que não queria causar ao freguês o menor prejuízo, generalizando-se o seu sentido para o de “meticulosidade”).

Enfim, as imagens concretas são apreendidas pela imaginação, as afetivas pelo sentimento ou pelos sentidos e as mortas por uma operação intelectual [...].

Segundo Ullmann, o termo imagem é o mais geral e abrange metáfora e símile (em casos mais raros, a metonímia).

O símile se distingue da comparação gramatical, intensiva, por relacionar termos de diferentes níveis de referência, isto é, termos de natureza diferente.

Ex.: O homem era forte como um touro.

No símile, podemos ter quatro elementos explícitos: o comparado ou termo real (homem), o comparante ou termo irreal, imaginário, metafórico (touro), o análogo, que explicita o ponto comum entre os dois termos (forte) e o nexo gramatical (como).

Na linguagem falada, essas comparações intensificadoras são frequentes, por exemplo: “surdo como uma porta”; “liso como sabão” etc.

Em certas expressões, o comparante ressalta a ironia: “sutil como um elefante”. O nexo comparativo mais usual é como, mas são numerosos os torneios equivalentes, inclusive palavras nocionais como verbos, sendo alguns mais característicos da linguagem popular (que nem, feito) e outros da linguagem culta (tal, à semelhança de, análogo a).

Exemplos selecionados por Martins: “Estrondeavam pragas, qual um bafo do inferno” (José Américo, A bagaceira, p. 193). “Isso de querer-bem da gente é que nem avenca peluda, que murcha e, depois de tempo, tendo água outra vez fica verde” (Guimarães Rosa, Sagarana, p. 216). “Os olhos dela brilhavam reproduzindo folha de faca nova” (Guimarães Rosa, No Urubuquaquá, no Pinhém, p. 140).

A metáfora pode ocorrer com substantivos, adjetivos e verbos, mas a metáfora de substantivo é mais comum. Nesse tipo de metáfora, tem-se a relação entre dois substantivos (A, termo real; B, termo imaginário), entre os quais se encontram traços comuns (semelhança). Para que haja metáfora, os termos comparados devem pertencer a universos diferentes. Por exemplo, ao dizer “Jorge é um touro”, há implícita a comparação entre o homem e o animal, entre os quais é estabelecido um traço de semelhança, no caso, de forte ou de violento.

Nas metáforas lexicalizadas, mortas, o termo B substitui o termo A, com perda do teor expressivo; a metáfora torna-se um processo denominativo (catacrese) como em minhocão (elevado na cidade de São Paulo), orelhão (telefone), borboleta (catraca ou roleta dos ônibus), tartaruga (saliência nas ruas para forçar os carros a diminuírem a velocidade) etc.

No caso de metáforas de adjetivo e de verbo, estas se caracterizam pela inadequação lógica ou não pertinência ao substantivo com que se relacionam sintaticamente. São exemplos: palavras ocas, caráter reto, nota preta, mesada gorda, arrotar grandeza etc.

Na atribuição de juízos de valor, a metáfora pode ser utilizada para expressar exagero, indicando exaltação ou depreciação, e tem um papel importante na expressão da ironia.

Segundo Michel Le Guerri [...] é a figura pela qual uma palavra (substantivo) que designa uma realidade A é substituída por outra palavra que designa uma realidade B, em virtude de uma relação de vizinhança, de coexistência, de interdependência, que

une A e B, de fato ou no pensamento.

Vemos, portanto, que a metáfora se estabelece por semelhança, ao passo que a metonímia se dá por contiguidade. No dia a dia encontramos expressões metonímicas e nem nos damos conta desse recurso expressivo da língua. É o caso de “ter um teto para morar”, “o pão nosso de cada dia”, entre outras.

Todavia, trata-se de um recurso muito utilizado para produzir a beleza de um texto poético.

“Na verdade a mão escrava passava a vida limpando o que o branco sujava, ê” (A mão da limpeza, de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil).

É a troca de palavras com significado de diferente extensão, havendo entre elas uma relação de inclusão. A parte que na sinédoque é destacada do todo é, em geral, a que tem mais relevância no fato expresso. Assim, no exemplo abaixo, o ato de assassinar é atribuído à mão e não ao homem, porque foi com a mão que ele lhe cravou o punhal. “Ai pobre mão de loucura que mataste por amar!” (MEIRELES, 1987, p. 419).

As figuras metáfora, metonímia e sinédoque, com grande frequência, constituem uma

personificação, a qual se pode considerar como um tipo de metáfora, por ser uma alteração do traço significativo (sema) inanimado para animado, ou não humano para humano.


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