Mulheres por que será que elas leila ferreira


Por que as mulheres hidratam os cotovelos? Por que insistem em usar roupas com botões nas costas? Por que enlouquecem diante de sapatos e bolsas? Porque confiam tanto na astrologia e no tarô? Por que acham normal fazer quatro coisas ao mesmo tempo? Por que confundem magreza com felicidade? Por que fazem tão pouco o que querem, preferindo fazer tudo o que acham que os homens querem? Ao desenvolver o texto de "Mulheres: Por Que Será Que Elas...?" a partir de perguntas relativas ao cotidiano feminino, a jornalista Leila Ferreira produziu um bem-humorado esboço de resposta para uma questão fundamental: afinal, o que é ser mulher neste início de século 21? O resultado é uma terna (porém aguda) análise das loucuras cotidianas que só as mulheres são capazes de cometer. Moda, consumo, homens, auto-estima, esoterismo, culpa, sexo, hormônios, estética, estresse e – claro – amor estão entre os temas desta panorâmica sobre o comportamento do eu feminino contemporâneo. Experiente entrevistadora, a autora buscou a matéria-prima de seu livro na vida real. Numa peregrinação por bares, restaurantes, salões de cabeleireiro e clínicas de estética, entre uma infinidade de outros locais, Leila conversou com mais de 50 mulheres. Um esforço compensado por depoimentos e histórias tão absurdamente engraçados que, embora sejam de verdade, parecem pura ficção. * Introdução A escritora Isabel Allende disse uma vez que, na cama, prefere os homens, mas em todas as outras situações costuma achar as mulheres mais interessantes. Concordo com ela. Sempre gostei de estar com mulheres, conversar com mulheres, ouvir suas histórias. Foi por isso que decidi escrever este livro. Não é, definitivamente, um livro de auto-ajuda. Não sei, nem quero, ensinar ninguém a se ajudar. Não acredito em receitas, a não ser na cozinha. E sou completamente desajeitada no quesito “ser feliz” – que o digam meus psiquiatras. Mas se há uma coisa em que acredito é no humor como aliado da vida. Adoro pessoas que têm senso de humor. Amo ouvir casos engraçados. Este livro é a soma de várias conversas que tive com mulheres que têm senso de humor e aprenderam a rir delas próprias e de suas adversidades. Todos os casos que conto são verídicos, por mais que lembrem relatos de ficção. Afinal, nós, mulheres, temos cometido loucuras que custam a caber na chamada vida real. Mudei os nomes das personagens, por motivos óbvios, mas as histórias contam o que aconteceu de fato. Cada capítulo é uma pergunta, e nenhuma pergunta tem resposta. Não neste livro. Sou só uma jornalista curiosa pela vida (o que talvez seja uma redundância) e fascinada pelo universo feminino. Deixo as possíveis respostas para os especialistas em comportamento. As análises profundas também ficam para eles. O que está aqui é apenas um registro do lado mais pitoresco, digamos, do cotidiano das mulheres de hoje. A escritora Erica Jong, ao fazer cinqüenta anos, disse que já tinha idade suficiente para saber que a salvação estava no humor, não na raiva. Aos cinqüenta e três, sou obrigada a assinar embaixo. Se a gente não puder rir da vida, e de nós próprias, fica tudo muito sem graça. Mulheres Por que será que elas...? 1...usam roupas de abotoar atrás? “O problema das mulheres não é que elas falam muito – é que elas pensam alto”: li essa frase numa revista feminina dos Estados Unidos na década de 1980 e nunca me esqueci dela. A afirmação chamou-me a atenção por dois motivos. Primeiro, porque concordo plenamente: nós, mulheres, temos a mania incurável de dizer em voz alta aquilo que ninguém está interessado em ouvir e que não temos a menor necessidade de compartilhar com quem quer que seja. Observações como “tenho que passar no sacolão”, “acho que estou ficando resfriada” ou “minha cunhada deve ter se esquecido de me ligar”, que deveriam ficar restritas ao pensamento, são transformadas em fala e dirigidas a interlocutores que certamente prefeririam nosso silêncio. Mas o que eu achei mais interessante na frase é que ela foi dita por um homem. A revista tinha reunido um grupo de representantes da espécie masculina para debater sobre as particularidades da espécie feminina e um deles saiu-se com essa observação sobre nossa mania de “pensar alto”. Imediatamente pensei (baixo): “Nossa! Os homens já estão reconhecendo que a gente pensa?!” Sem dúvida, era uma vitória para nós, mulheres. Naqueles idos de 1980, muitos deles ainda questionavam a existência da inteligência feminina. Hoje, ninguém duvida mais de que as mulheres não só pensam alto como pensam muito e pensam bem. Não é necessário listar aqui as provas da capacidade intelectual feminina. Um homem precisa ter muita coragem, nos dias atuais, para expressar dúvidas em relação a nossa inteligência. Só mesmo um amigo meu, cinqüentão destemido, ousa afirmar, em alto e bom som, que os homens são muito mais inteligentes que as mulheres. E, para quem ameaça se indignar e reagir, ele emenda com um argumento conclusivo: “Nunca vi um homem mandar fazer ou comprar uma roupa de abotoar atrás”. Alguém ousa discordar? O fato é que, quando a vaidade está em jogo, nós, mulheres, acabamos ficando com a inteligência comprometida. Usar roupas com botões nas costas é apenas um dos desatinos que cometemos, e dos desconfortos que nos impomos, em nome da elegância e da beleza. Eu mesma já me esqueci de que morava sozinha e comprei um top tomara-que-caia com uns trinta botõezinhos atrás. Na loja, a vendedora ajudou-me. Em casa, na hora de vestir-me, vi que tinha uma tarefa impossível pela frente: pratiquei todas as formas de contorcionismo, suei, esbravejei e acabei saindo para uma festa com mais da metade do top aberta. A verdade é que a vaidade feminina sempre provocou excessos. E não é de hoje que nós nos esforçamos para parecer mais belas. Cinco mil anos antes de Cristo, as egípcias já enfeitavam os olhos com uma pasta feita de ovos de formigas. Na Idade Média, era costume ingerir arsênico e aplicar sangue de morcego no rosto para embelezar a pele. Durante alguns séculos, na Europa, o “pancake” usado pelas mulheres era feito de chumbo branco, misturado com pó de giz. No Japão, a tez branca das gueixas era obtida graças a excrementos de rouxinol. E por aí vai. Ou por aí vamos nós, mulheres. Na corte de Luiz XI, na França, as damas eram tão vaidosas que suas refeições consistiam basicamente de sopa, porque acreditavam que a mastigação causava rugas. Na Inglaterra do século XVIII, as mulheres usavam sobrancelhas feitas de pele de rato e ostentavam perucas de mais de um metro de altura, enfeitadas com pássaros empalhados e miniaturas de navios e jardins. O conjunto da obra, polvilhado com farinha e coberto por uma camada de banha, era usado meses a fio, em um duplo atentado: ao bom gosto e à higiene. A moda dos dentes pretos também já deu trabalho às mulheres. No Vietnã antigo, para fixar o verniz escuro com que revestiam os dentes, elas ficavam uma semana sem comer alimentos sólidos. Quanto aos chamados “pêlos supérfluos”, um repertório inacreditável de produtos e aparelhos já foi desenvolvido (e utilizado) na tentativa de acabar com eles. O que deixou menos saudades foi um creme depilatório feito à base de veneno de rato, que mandou uma legião de consumidoras para os hospitais na década de 1930, nos Estados Unidos. Era de se esperar que, depois de todos os avanços pósfeminismo, extravagâncias como essas tivessem deixado de existir. Afinal, as mulheres bem informadas de hoje jamais admitiriam usar veneno no corpo, perucas de mais de um metro de altura ou pele de rato no lugar das sobrancelhas, certo? Certo. O que não quer dizer que não somos capazes de fazer coisas piores ou equivalentes. E com um agravante: os desvarios do passado eram cometidos por uma minoria. Hoje, no modelo de sociedade em que vivemos, tudo se transforma em fenômeno de massa, inclusive a busca da beleza. Nunca tantas mulheres se esforçaram tanto para ter pele, cabelos e corpo não somente belos, mas perfeitos. E nunca tantas cometeram tantos desatinos. A imposição de um ideal estético – a chamada ditadura da beleza – tem levado milhares de mulheres a adotar todo tipo de sandice. É como se aquela inteligência que brilha nas empresas, nas universidades, nas artes, na ciência e na política se recolhesse e mergulhássemos numa espécie de embotamento que nos priva de qualquer tipo de discernimento ou bom senso. Há várias situações que provocam esse fenômeno (o terreno sexual e amoroso é pródigo nelas, como veremos), mas é no quesito vaidade que os exemplos parecem ser mais contundentes. Cena 1. Laura, uma estudante de vinte e poucos anos, decidiu numa terça-feira à noite que iria emagrecer dois quilos para ir a uma festa no sábado. Passou quarta, quinta e sexta comendo só abacaxi. No sábado, em vez de à festa, foi para o hospital: a boca tinha virado uma afta só. Ninguém come tanto abacaxi impunemente. Cena 2. Edna, que já deixou de ser estudante há algum tempo, queria, porque queria, estrear uma roupa de inverno numa noite que pedia no máximo um traje de meia-estação. Tomou uma dose generosa de Novalgina em gotas, calculando que, com isso, sua pressão cairia e ela não sentiria calor. Resultado: a pressão de fato baixou, mas foi muito além do esperado, e nossa amiga, que tinha planos de ir a uma festa, passou a noite em casa, comendo pitadas de sal. Cena 3. Um grupo de quatro amigas partiu com entusiasmo para um spa, em uma cidade vizinha, que acabava de ser inaugurado. No segundo dia, o entusiasmo deu lugar à fome, incontrolável. No terceiro, numa atitude de desespero, acabaram comendo parte de uma samambaia que decorava o spa. O problema é que a planta tinha sido borrifada com pesticida, as quatro passaram mal e tiveram que voltar às pressas para casa. São três exemplos apenas do que tem sido o cotidiano das mulheres de hoje. Neste universo feminino – um planeta com lógica própria, não resta a menor dúvida – viver tem sido um exercício alternado de inteligência e seu oposto, uma convivência nada equilibrada de destempero e comedimento . Ou alguém acredita que uma dieta à base de abacaxi, Novalgina e samambaia é sinal de bom senso? 2...precisam de vinte e seis tipos de xampu? De duas, uma: ou nossos cabelos mudaram muito nos últimos trinta anos, ou eles sempre foram extremamente complexos e nós é que nunca percebemos. Do contrário, como explicar que até há pouco tempo só existissem três tipos de xampu, e hoje, conforme constatei em uma visita a uma loja de cosméticos, as prateleiras cheguem a ostentar vinte e seis? Na minha adolescência, nossos cabelos contentavam-se em ser classificados como secos, normais ou oleosos. Atualmente, há xampus para cabelos opacos, volumosos, sem volume, frágeis, tintos, anelados, crespos, de raízes oleosas e pontas secas, danificados, extremamente danificados, delicados, enfraquecidos, quimicamente tratados, xampu de uso diário, xampu iluminador, xampu para cabelos que ficam oleosos ao longo do dia (como se houvesse os que, numa espécie de surto sebáceo, ficassem oleosos subitamente). Vi até um xampu para cabelos cansados, o que me fez pensar (baixo, mais uma vez): “Cansada estou eu de lutar com meus cabelos...”. O mais curioso é que, lá no finalzinho da prateleira, completando a vastíssima seleção de produtos, apareceu uma embalagem em cujo rótulo discreto se lia “xampu para todos os tipos de cabelos”. Ou seja, alguém está mentindo nessa história. Recentemente, na casa de uma amiga, avistei ao lado do chuveiro um “xampu disciplinante”. Fiquei por entender. Minha amiga tem um temperamento extremamente dócil e nunca soube de um ato de indisciplina cometido por seus cabelos. Se continuarmos assim, daqui a pouco vamos ter xampus para cabelos com déficit de atenção, com distúrbio bipolar, com síndrome do pânico, xampus da linha lacaniana, da linha freudiana, xampus de regressão, que detectam as raízes dos nossos problemas capilares em vidas passadas, e por aí vai... Aliás, há pouco tempo comprei um xampu de tília e hamamélis, para cabelos oleosos, e só na hora de usar vi que, acima de “cabelos oleosos”, no rótulo, estava escrito “Equilíbrio e Leveza”. Equilíbrio e leveza? É exatamente o que eu tenho buscado há décadas, com a ajuda de uma meia dúzia de terapeutas. De repente, descubro que meus dois objetivos de vida estão ao meu alcance, ou melhor, ao alcance dos meus cabelos. Quem sabe, ingerindo o xampu... Cheguei a cogitar, mas preferi não correr o risco. A fixação das mulheres pelos cabelos é um fenômeno que a ciência ainda não explica e o mercado, claro, se aproveita disso. O tempo e a energia que investimos em nossas cabeleiras ao longo da vida seriam suficientes para fazer um mestrado ou um doutorado, para aprender a falar meia dúzia de línguas ou a tocar uns dois instrumentos. Lavamos, secamos, tingimos, hidratamos, rodamos toucas (sim, até hoje), prendemos com rolinhos, fazemos escova japonesa, escova definitiva, escova progressiva, alisamento com laser, com chocolate, formol e queratina, recorremos a luzes, reflexos, baby-liss. E, além dos vinte e seis tipos de xampu, achamos essencial utilizar condicionadores de enxágüe ou do tipo leave- in, sprays, pomadas, soro reparador para as pontas, gel, musse modeladora, musse para volume, creme anti-frizz e máscara hidratante, entre outros produtos. Depois de tudo isso – todo o dinheiro, todo o tempo e todo o esforço – continuamos repetindo a frase de sempre: “Meu cabelo hoje está uma droga”. E o problema maior é que, quando ele fica uma droga, nós também ficamos. Nosso humor e nossa auto-estima são diretamente proporcionais ao grau de desempenho dos nossos cabelos. Em inglês, existe até uma expressão, bad hair day, para designar aqueles dias em que nada adianta – nem o secador de última geração, nem a musse, nem a pomada, nem o xampu disciplinante, nem o cabeleireiro caríssimo. Nesses dias, estamos condenadas a nos sentir as piores, as mais inadequadas, as menos atraentes. Às vezes é só aquela onda da franja que se recusa a se alisar – não importa. Temos a sensação (e a presunção) de que o mundo só enxerga nossa franja e nos dá nota zero por ela. Foi num desses dias de briga com os cabelos, provavelmente, que a escritora e colunista de jornal Danuza Leão decidiu experimentar uma receita caseira. “Me disseram que nada era melhor do que passar tutano no cabelo”, conta. “Fui ao açougue, cheguei em casa com montes de ossos, tirei cuidadosamente todo o tutano e passei na cabeça inteira. Como não podia perder tempo e queria ir à praia pegar uma cor, botei um lenço na cabeça e lá fui eu, certa de que nunca, em tempo algum, alguma mulher teria cabelos mais lindos que os meus. Mas, de repente, começou a acontecer uma coisa estranha, e levei uns bons minutos até que a ficha caísse: todos os cachorros da praia começaram a me rodear, atraídos pelo cheiro do tutano.Tive que ir embora, claro, mas eles me acompanharam até a porta do edifício. Foi horripilante.” De uma forma ou de outra, os cabelos estão sempre nos causando contrariedade. Eu me lembro de, na minha adolescência, assistir com a mais absoluta consternação àquelas cenas clássicas de sedução dos filmes hollywoodianos em que a atriz principal usava um coque preso apenas por um grampo: o galã aproximava-se, soltava o grampo com um movimento delicado e aquela cabeleira farta, lisa e brilhante se espalhava pelos ombros da atriz. O próximo passo era o beijo. Eu via aquela seqüência, pensava nos dezoito grampos que prendiam meu coque anelado e sem brilho e concluía, arrasada, que nunca iria encontrar um namorado ou marido. Qualquer candidato que tentasse soltar meu coque iria descobrir que, depois de tirar os dezoito grampos, nada aconteceria. Na era que antecedeu a escova japonesa, nenhum cabelo anelado caía nos ombros com essa desenvoltura. Muito menos o meu. Hoje, quatro décadas e alguns amores depois, vejo que não é essencial ter cabelos de Hollywood para protagonizar um romance. Mas, como qualquer mulher do meu tempo, vivo atormentando-me por causa dos cabelos e, quando encontro um cabeleireiro que tem empatia com eles (comigo não é preciso), viro escrava. Rezo para que ele não adoeça, torço para que não tire férias e, quando ele viaja, fico duplamente frustrada: por sentir que me deixou na mão e por ver que eles, cabeleireiros, vão para todos os lugares com que sonhamos e não podemos conhecer, como Taiti ou ilhas gregas, porque nós, mulheres, tiramos do nosso orçamento para pagar a viagem deles e acabamos ficando em casa – invejando as muçulmanas que usam burcas e, com isso, têm um problema a menos. Fico lembrando-me de quando as mulheres prendiam os cabelos com rolinhos no sábado de manhã, usando como fixador uma mistura de água e limão ou cerveja pura, e só soltavam no sábado à noite. Era assim nas cidades do interior. Só no sábado à noite e no domingo no almoço era preciso caprichar. Hoje acreditamos que nós e nossos cabelos temos que estar impecáveis todos os dias, a qualquer hora. Perdemos meia hora de sono para lavar e secar os cabelos antes de ir para o trabalho. Fazemos escova com a freqüência com que trocamos de roupa. E gastamos horas preciosas nos salões de beleza, certas de que todos (principalmente os homens que nos interessam) sabem distinguir uma escova caseira de uma profissional. Para quem duvida da importância dos cabelos para as mulheres, o Sindicato dos Institutos de Beleza e Cabeleireiros de Senhoras do Estado de São Paulo (Sindibeleza) divulgou um dado interessante: a cidade de São Paulo tem mais salões de beleza do que farmácias, padarias e supermercados somados. São cerca de quarenta e cinco mil salões, contra quatro mil e oitocentas padarias, quatro mil farmácias e setecentos e vinte e cinco supermercados. Os números são claros: para nós, mulheres, uma escova bem-feita, uma tintura que dá certo ou um corte que não nos faz chorar não são luxo – são gêneros de primeira necessidade. Que o diga Andréia, estilista bem-sucedida, quarenta anos, que durante trinta e oito anos brigou com seus cabelos e há dois anos descobriu o prazer de olhar-se no espelho e gostar do que vê. Ela conta que passou uma vida de cabelos “arrepiados, com aquele anelado feio, sem forma, a que nada dava jeito, e que eram sensíveis a qualquer manifestação meteorológica, inclusive trovões”. Uma vez foi participar de um programa feminino de TV, preparando ao vivo, no estúdio, um prato de sua especialidade. Conta que ficou horas no salão e saiu com o cabelo lisinho, no meio das costas, pronto para enfrentar as câmeras. O que ela não sabia era que a temperatura no estúdio, graças a uma pane no ar- condicionado, iria passar dos trinta graus. A estilista diz que, à medida que ia suando, sentia que o cabelo estava “inchando” e não resistiu: ao pegar uma frigideira reluzente para a etapa final do prato, virou-a e fez de espelho. A olhada brevíssima que deu foi suficiente para constatar que não havia mais nenhum vestígio daquela escova do salão: “Eu tinha virado uma bruxa”. Andréia conta que ficou tão nervosa que não sabe até hoje o que falou no resto do programa. Não sabe nem se a receita deu certo. Sabe que seu cabelo não deu. E agora? Agora, garante que tudo mudou e divide sua vida em “antes e depois do formol”. Com os cabelos loiros até a cintura e completamente lisos, diz que não há nada como a escova definitiva: “Hoje sei o que é auto-estima. Aprendi a gostar de mim e a me aceitar. Dizem que é a maturidade que faz isso. Não é nada – é o formol”. Há poucos dias, a estilista estava em uma fila de cinema com a filha adolescente, que, assim como ela, tem cabelos loiros até a cintura – só que naturalmente lisos. Uma mulher que estava atrás delas não se conteve e disse: “Estou aqui encantada com os cabelos das duas. Vocês são mãe e filha?”. Andréia respondeu que sim e a outra concluiu: “Que maravilha que é a genética, não?”. Depois dessa, que ninguém ouse alertar Andréia sobre os riscos do formol para a saúde: “Se antes eu já me recusava a ouvir, agora é que ignoro mesmo”. Alguma mulher agiria de modo diferente? 3...hi...