Explique o contexto da derrota de Napoleão que resultou no enfraquecimento e no fim de seu Império

 As grandes personalidades da história caracterizam-se pela capacidade de exercer influência nos campos da mentalidade e das estruturas políticas e sociais, tanto em sua época quanto nas épocas posteriores. Napoleão Bonaparte (1769-1821) foi uma dessas personalidades. Ele foi praticamente o responsável pelo surgimento do que hoje denominamos de “Idade Contemporânea”. Suas habilidades nos campos militar e político transformaram o mundo ocidental e deram um novo mapa ao continente europeu.

A figura de Napoleão foi, por décadas, venerada e execrada com a mesma intensidade, em grande parte em virtude da nova concepção de Estado por ele solidificada, isto é, o Estado Nacional e Cidadão, que começou a ser delineado nos primeiros anos da Revolução Francesa e sobrepôs-se ao modelo absolutista.

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Ascensão de Napoleão Bonaparte

É sabido que o processo da Revolução Francesa, que sobreveio para dar legitimidade política para a burguesia, logo evoluiu para a fase da Convenção Nacional, que teve como característica, a partir de 1793, a política do Terror Jacobino. Na fase do terror, as batalhas revolucionárias já estavam presentes em todos os domínios do ex-Estado Absolutista francês, incluindo os reinos italianos, nos quais atuava o jovem general Napoleão Bonaparte.

Explique o contexto da derrota de Napoleão que resultou no enfraquecimento e no fim de seu Império
Napoleão Bonaparte foi praticamente o responsável pelo surgimento do que hoje denominamos de “Idade Contemporânea”.

Napoleão era italiano, nascido em Córsega – filho de uma família aristocrática decadente, porém súdita do rei francês. Como a maior parte dos jovens aristocratas, Napoleão recebeu formação militar na Escola Militar de Paris, na qual se especializou em artilharia.

A primeira grande manobra militar operada por Napoleão foi o chamado cerco de Toulon (1792), em que esteve no comando da artilharia. Com esse feito, suas habilidades como estrategista de guerra começaram a se tornar notórias. Por estar ligado ao Terror Jacobino, Napoleão foi preso em 1794, quando esse regime de governo começou a ruir.

Porém, a burguesia moderada que lutava pela instalação do Diretório acabou por retirar Napoleão da prisão, pois precisava de sua atuação no campo de batalha. De 1795 a 1799, Napoleão destacou-se sobre os demais generais da França nas batalhas que travou na Itália e no norte da África, como a Batalha das Pirâmides, no vale de Gizé.

Em 1799, a fase do Diretório teve fim por meio do golpe de Estado conhecido como 18 de brumário e teve início o período do Consulado, regido por três cônsules, sendo um deles Napoleão. Os outro dois, Roger Ducos e Emmanuel Sieyès, não possuíam voz ativa frente à autoridade de Napoleão, que passou a combinar as suas habilidades militares com uma grande desenvoltura administrativa (marcada pela criação do Código Napoleônico), atravessada por uma política autoritária.

Nessa fase começou, de fato, a Era Napoleônica. A fase do Consulado durou até 1804, quando, por meio de um plebiscito, houve a restituição da monarquia e Napoleão tornou-se imperador.

Império Napoleônico

Para confirmar o status de imperador da França, em 2 de dezembro de 1804, ocorreu na Catedral de Notre-Dame a cerimônia de coroação, na qual Napoleão tomou das mãos do papa a coroa e autocoroou-se, em um gesto de demarcação política, isto é, ninguém estava acima do imperador, nem mesmo a Igreja. Esse gesto demonstrava ao velho mundo ocidental um novo modelo de império, isto é, um império que não mais precisava da anuência do papado para se sustentar no poder – tal como ocorria com o Sacro Império Romano-Germânico.

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Com o ato de autocoroar-se, Napoleão assinalou que ninguém estava acima do imperador, nem mesmo a Igreja.

No período imperial, o exército napoleônico, conhecido como “Grande Armeè”, conseguiu grandes vitórias até o ano de 1812, considerado o ano do triunfo de Napoleão, haja vista que a extensão de seu império abrangia praticamente toda a Europa. O exército napoleônico caracterizava-se por ser formado de cidadãos, de homens vindos de todas as camadas sociais e de todas as regiões do império. Não era um exército profissional e aristocrático, como ocorria no regime absolutista, nem um exército que lutava por um rei, mas, sim, por uma nação, a “Nação Francesa.”

Com esse exército, Napoleão tornou-se durante uma década praticamente invencível, tendo conseguido expandir seu império por vastas regiões, governando cerca de 50 milhões de pessoas. Entre as principais batalhas travadas pelo exército napoleônico estava a de Austerlitz, na qual Rússia e Áustria enfrentaram a França, em 1805, e perderam.

Uma das principais ações do imperador Napoleão foi o decreto do Bloqueio Continental contra a Inglaterra. A Inglaterra era a força política que mais oferecia resistência ao expansionismo Napoleônico, sobretudo em virtude de sua potente marinha. Os ingleses não concordavam com os métodos de expansão do Império Francês, que era herdeiro das ideias da Revolução Francesa, também encarada com reservas pelos representantes políticos ingleses.

Sendo uma ilha, a Inglaterra impunha-se ao exército napoleônico, que não era capaz de atacá-la pelo entrave geográfico, e impunha-se também à marinha de Napoleão, que não fazia frente às poderosas esquadras britânicas.

Tendo perdido a batalha marítima de Trafalgar, em 1805, e não podendo, então, enfrentar os ingleses por terra, a estratégia que restou a Napoleão foi o bloqueio econômico do continente europeu contra os britânicos. Esse "Bloqueio Continental" consistiu no impedimento das nações europeias que estavam sob a influência de Napoleão de comercializarem os seus produtos com a Inglaterra, bem como de importarem desta os produtos que ela comercializava. Napoleão, com isso, pretendia conseguir por via econômica o que não havia conseguido pela via bélica: enfraquecer e subjugar os britânicos.

Outro ponto importante a se destacar da fase imperial foi o fato de o imperador austríaco, Francisco I, depois de várias derrotas para Napoleão, ceder a mão de sua filha, Maria Luísa da Áustria, em casamento a Napoleão como forma de acordo político e de trégua. Napoleão encarava o casamento com uma nobre austríaca o “passaporte” que legitimaria o seu status de imperador frente às casas aristocráticas tradicionais da Europa. Além disso, Francisco I ainda teve de ceder territórios para a França, o que resultava em um conjunto de humilhações que, posteriormente, serviria de motor para um contra-ataque ao Império Francês.

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Declínio do Império Napoleônico

A partir de 1813, o império napoleônico começou a entrar em declínio. A Rússia havia rompido com Napoleão, negando-se a continuar com o Bloqueio Continental contra os ingleses. Napoleão enviou seu exército para combatê-la, o que resultou em uma derrota histórica, sobretudo pelas condições climáticas oferecidas pelo inverno russo.

O Império Austríaco, aproveitando o enfraquecimento do exército napoleônico, uniu-se com os principados alemães, a Rússia e a Inglaterra para combater Napoleão, o que ocorreu em 1815, quando a França foi invadida. Napoleão conseguiu fugir do exílio e reunir suas tropas para retomar o poder – esse episódio ficou conhecido como “O Governo dos Cem Dias”. A Batalha que pôs fim definitivamente ao império napoleônico foi a de Waterloo, travada em solo belga.

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Napoleão em seu exílio definitivo na ilha de Santa Helena.

Mais uma vez Napoleão foi mandado ao exílio, mas dessa vez na ilha de Santa Helena, no hemisfério Sul do oceano Atlântico, sob supervisão da marinha inglesa. Sua morte ocorreu nessa ilha, em 1821. 

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Pintura que retrata Napoleão Bonaparte (Foto: Reprodução)

Em 1792, com o fim da monarquia e o absolutismo, a França passou a sonhar com a conquista da soberania europeia. Para isso, Napoleão Bonaparte, líder político e militar que se destacou durante os últimos estágios da Revolução Francesa e se tornou imperador dos franceses, tomou para si a causa de transformar o país em um grande império. Mas os países vizinhos se uniram para frear a ambição expansionista e, entre 1804 e 1815, travaram diversas guerras com os franceses, nas chamadas Guerras Napoleônicas. Entenda:

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Origem
As Guerras Napoleônicas foram resultado direto das Guerras Revolucionárias Francesas (1792 a 1802), desencadeadas pelo choque entre os novos ideais revolucionários e a defesa do sistema monárquico nos países europeus, representado principalmente pelo Sacro Império Romano. Adiantando-se a prováveis intervenções externas de seus vizinhos absolutistas, a França tomou a iniciativa de conquistar territórios.

As Guerras Revolucionárias Francesas foram divididas em dois períodos: as guerras contra a Primeira e a Segunda Coalizões. A Primeira Coalizão foi composta pelo Sacro Império Romano (dinastia Habsburgo na Áustria e Prússia), pela Grã-Bretanha, Espanha, Holanda e Portugal e alguns outros reinos menores.

A Segunda Coalizão foi formada pelo Sacro Império Romano (Áustria), Grã-Bretanha (que se tornou Reino Unido em 1801), Rússia, Portugal e Império Otomano. Nos dois confrontos, a Primeira República da França saiu vitoriosa, conquistando os territórios a oeste do Rio Reno, a região de Piemonte, e estabelecendo repúblicas aliadas da Suíça, Itália e Lígure (no território da antiga Gênova).

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Coroação de Napoleão Bonaparte em pintura de Jacques-Louis David (Foto: Wikipedia Commons)

Um novo império
O sucesso de Napoleão nas campanhas das Guerras Revolucionárias deu a ele força para dar um golpe militar e assumir o poder em 1799, tornando a França oficialmente um império. Coube a ele encerrar os conflitos com a Segunda Coalizão com um acordo de paz com o Reino Unido, o Tratado de Amiens, em março de 1802. Mas as tensões originadas das Guerras Revolucionárias ainda estavam latentes em todo o continente.

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A paz durou pouco
O início oficial das Guerras Napoleônicas foi com o rompimento do tratado por parte do Reino Unido em 1803 porque, entre outros motivos, Napoleão se recusou a permitir que os ingleses participassem de assuntos diplomáticos e comerciais com a Europa continental. O conflito começou não nos campos de batalha, mas com guerras comerciais: com a força da marinha, a Inglaterra fez um bloqueio naval à França. Em resposta, os franceses impuseram um embargo econômico em parceria com os países aliados continentais (Dinamarca-Noruega, Prússia, Suécia e Rússia, que formaram a Segunda Liga da Neutralidade Armada).

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Quadro retrata a presença de tropas de Napoleão Bonaparte no Egito (Foto: Reprodução)

Coalizões
Os 12 anos de Guerras Napoleônicas foram divididos de acordo com as cinco coalizões que enfrentaram o império Francês, todas elas lideradas pelo Reino Unido e compostas, cada qual em seu tempo, por países como Áustria, Rússia, Prússia, Espanha, Portugal, Suécia, Império Otomano, Pérsia, Hungria, Países Baixos e reinos onde hoje estão Alemanha e Itália. A primeira grande vitória de Napoleão foi contra a Terceira Coalizão na Batalha de Austerlitz (na atual República Tcheca). No combate, o imperador mostrou sua força ao derrotar um exército maior formado por Áustria e Rússia, expulsando os russos para o leste e dissolvendo o Sacro Império Romano.

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Napoleão venceu também a terceira, a quarta e a quinta coalizão. Perdeu para a sexta ao sair enfraquecido de uma tentativa fracassada de invadir a Rússia em 1812. Após ser exilado na ilha de Elba, retornou à França e fez uma última tentativa de retomar a glória. Porém, sofreu sua derrota final na famosa Batalha de Waterloo, na Bélgica. Superado pelos exércitos inglês e prussiano, reza a lenda que ele terminou a batalha caído do cavalo. Posteriormente, retirou-se de volta à França, onde foi preso pelo Reino Unido e exilado na ilha de Santa Helena até sua morte em 1821.

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Derrota de Napoleão na Rússia (Foto: Reprodução)

Consequências
As Guerras Napoleônicas mudaram as relações geopolíticas da Europa. Na França, a dinastia Bourbon voltou ao poder numa monarquia constitucional. A vitória dos ingleses consolidou o predomínio da Marinha Real, abrindo caminho para que o Reino Unido se tornasse o império mais poderoso do mundo. Aliás, muitas monarquias se viram na obrigação de assumir alguns pressupostos republicanos para se manterem vivas. Com a desintegração do Sacro Império Romano, despertou a noção de nacionalismo e liberalismo em outros países continentais, criando as raízes para os processos de unificação da Alemanha e da Itália, por exemplo. Na América do Sul, a independência da Argentina (1811), uma reação a uma invasão inglesa (na tentativa de enfraquecer a Espanha, então aliada da França), desencadeou nos anos seguintes movimentos semelhantes nas demais colônias ibéricas.

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O conflito europeu também foi responsável por consequências importantes para a história do Brasil: em 1808, a família real portuguesa desembarcou no Rio de Janeiro ao fugir das tropas francesas que estavam prestes a tomar a cidade de Lisboa. Com a presença do rei D. João VI em nossas terras, o Brasil deixou de ser uma mera colônia e foi alçado à condição de "Reino Unido" a Portugal. Os ventos anti-absolutistas da Revolução Francesa também foram responsáveis pelo fortalecimento dos movimentos pró-independência: D. Pedro I, filho do rei português, seria o responsável por conduzir o processo de emancipação do Brasil em 1822.