A transição demográfica é uma premissa social elaborada pelo demógrafo estadunidense Frank Notestein, na primeira metade do século XX, para refutar, por meio de números e dados, a teoria populacional malthusiana, que afirmava que o crescimento demográfico ocorria em ritmo exponencial. Na concepção da transição demográfica, verifica-se que, na verdade, existe uma tendência em que as populações de diferentes lugares crescem conforme ciclos que se intensificam e depois se reduzem sob as mais diversas razões. Show
A teoria da transição demográfica afirma que não existe um processo único e constante de explosão demográfica ou crescimento populacional muito elevado. Quando esse fenômeno ocorre, postula-se que a tendência por parte dos diversos lugares é que haja uma posterior estabilização, sobretudo pelas sucessivas modificações nas taxas de natalidade e mortalidade. O principal efeito da transição demográfica, nesse sentido, seria o processo de envelhecimento populacional. De acordo com os principais teóricos da teoria populacional em questão, a transição demográfica pode ser segmentada em quatro diferentes fases. 1ª fase – Pré-transição A primeira fase da transição demográfica, também chamada de pré-transição, ocorre quando há um certo equilíbrio entre as taxas da natalidade e mortalidade, porém ambas com valores muito altos. Nesses casos, são sociedades que contam com um baixo desenvolvimento econômico e social, onde nascem muitas pessoas anualmente e, ao mesmo tempo, perdem-se muitas vidas em razão de epidemias, baixa expectativa de vida e precárias condições sanitárias. Um cenário como esse pôde ser visto na Europa na fase inicial de sua industrialização. 2ª fase – Aceleração ou explosão demográfica Na segunda fase ocorre aquilo que muitos denominam por explosão demográfica, o crescimento acentuado da população em um curto período de tempo. Mas a teoria da transição demográfica demonstra que esse processo não ocorre pelo aumento das taxas de natalidade, e sim pela diminuição brusca das taxas de mortalidade, em razão das melhorias sociais em termos de saúde, saneamento, acesso à água e outros fatores. Esse processo ocorreu na Europa ao longo do século XIX, em boa parte dos países emergentes ao longo do século XX (inclusive no Brasil) e atualmente acontece nos países periféricos, com destaque para a Nigéria e outras nações em desenvolvimento. O continente europeu também acompanhou uma explosão demográfica acentuada no período pós-guerra, o que gerou a expressão “geração baby boom”. 3ª fase – Desaceleração demográfica À medida que as sociedades se desenvolvem, a tendência geral é haver uma redução nas taxas de natalidade, o que se explica pela difusão do planejamento familiar, a inclusão da mulher no mercado de trabalho, a intensiva urbanização (no campo, as taxas de fecundidade são sempre maiores), entre outros fatores. Por esse motivo, há um gradativo processo de declínio do número de nascimentos, o que acontece em uma velocidade inferior à queda da mortalidade. Esse processo passou a ser vivido no Brasil na segunda metade do século XX, sobretudo a partir da década de 1970. Atualmente, as taxas de natalidade do Brasil são baixíssimas, quase sempre inferiores a 1% por ano. 4ª fase – Estabilização demográfica A estabilidade demográfica é atingida quando as taxas de natalidade e mortalidade finalmente se equilibram, mantendo patamares que, embora possam apresentar oscilações conjunturais, mantêm-se em médias muito baixas. Nesse cenário, diz-se que há um total controle do crescimento demográfico. Observe o gráfico a seguir:
Diante desse panorama, nota-se que o crescimento populacional é contido, o que representa, de certa forma, uma vantagem. Por outro lado, quando isso acontece, há também o processo do envelhecimento populacional, pois a elevada expectativa de vida e a baixa natalidade geram um aumento médio da idade da população, o que proporciona a queda da população economicamente ativa e a possibilidade crescente de uma crise econômica e social. Em muitos países europeus, a realidade do envelhecimento populacional bate à porta, pois o número médio de filhos por casal é inferior a dois e o número de idosos é cada vez maior. Muitos países – como França e Alemanha – realizam diversas campanhas e até fornecem incentivos financeiros para os casais que desejam ter um segundo ou terceiro filho. O Brasil também se vê ameaçado por esse problema, de modo que deixamos de ser considerados como um “país jovem” para nos tornarmos um “país adulto”.
Taxa de natalidade e taxa de mortalidade são importantes indicadores estatísticos do crescimento demográfico. O estudo dos dados fornecidos por esses indicadores ajuda a compreender a dinâmica populacional e a entender sua relação com variáveis que influenciam o desenvolvimento, como migrações, qualidade de vida, fatores socioeconômicos e localização. Taxa de natalidadeEsse indicador representa o número de nascidos vivos no período de um ano, excluindo o número de crianças que nasceram mortas ou que morreram logo após o nascimento. Representa a relação entre os nascimentos em um ano e o número total da população. Essa taxa é calculada a cada mil habitantes, e seu resultado é apresentado em permilagem (número por mil). Observe abaixo um exemplo hipotético de cálculo de taxa de natalidade: População total do país: 1 300 000 habitantes Nascimentos em um ano: 10 000 Taxa de natalidade: 10 000 x 1000 = 7,69‰ O resultado do cálculo acima indica que nascem, no país em questão, aproximadamente 8 crianças a cada 1000 habitantes no período de um ano. → Taxa de natalidade nos países desenvolvidos e subdesenvolvidosPaíses subdesenvolvidos apresentam elevadas taxas de natalidade em decorrência da ineficácia das políticas públicas relacionadas à saúde, à educação e ao mercado de trabalho. Boa parte da população enfrenta condições de vida miseráveis e falta de acesso a recursos básicos. Já nos países desenvolvidos, é comum que essa taxa apresente-se em declínio ou reduzida. Nesses países, as políticas públicas normalmente atendem com eficiência à população: há planejamento familiar, o número de mulheres inseridas no mercado de trabalho é maior e o acesso à saúde e a métodos contraceptivos faz parte da realidade da maioria das famílias. Taxa de mortalidadeEsse indicador representa o número de óbitos ocorridos no período de um ano. Essa taxa é calculada a cada mil habitantes e reflete a relação entre o número de mortos anuais e a população total de um determinado lugar. Esse resultado é dado em permilagem. Observe abaixo um exemplo hipotético de cálculo de taxa de mortalidade: População total do país: 5 500 000 habitantes Óbitos em um ano: 30 000 Taxa de mortalidade: 30 000 x 1000 = 5,45‰ O resultado do cálculo indica que morrem, no país em questão, aproximadamente 5 pessoas a cada 1000 habitantes no período de um ano. → Taxa de mortalidade nos países desenvolvidos e subdesenvolvidosOs países subdesenvolvidos, geralmente, apresentam essa taxa elevada, visto que a população carece de políticas públicas eficientes que garantam uma boa qualidade de vida, educação e inserção no mercado de trabalho. Já nos países desenvolvidos, essa taxa apresenta-se reduzida, já que nesses países o acesso às políticas públicas, à saúde, ao saneamento básico e à educação é eficaz, possibilitando uma boa qualidade de vida à maioria da população. Taxa de mortalidade infantilA taxa de mortalidade infantil representa o número de crianças que morrem antes de completar um ano de idade e é calculada a cada mil crianças nascidas vivas no período de um ano. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)1, a redução da mortalidade infantil é uma das mais importantes metas nas políticas para a infância de todos os países. Leia também: Principais causas da mortalidade infantil Número de óbitos no primeiro ano de vida: 100 Nascimentos em um ano: 10000 Taxa de mortalidade infantil: 100 x 1000 = 10‰ O resultado do cálculo indica que morrem, antes de completarem um ano de vida, 10 crianças a cada 1000 crianças nascidas vivas no período de um ano, no país em questão. Crescimento vegetativoPor meio das taxas de natalidade e de mortalidade, é possível calcular o crescimento vegetativo de uma população. Também chamado de crescimento natural, representa a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade no período de um ano. Se em um determinado local o resultado da taxa de natalidade é maior que o de mortalidade, a população está crescendo. Se a taxa de mortalidade for maior que a de natalidade, a população do local está diminuindo. Caso as taxas apresentem-se iguais, significa que a população mantém-se estável e há um crescimento demográfico zero. Taxa de fecundidadeTaxa de fecundidade representa a média de filhos por mulher ao longo de seu período fértil, entre 15 e 49 anos aproximadamente. Os países subdesenvolvidos, geralmente, apresentam elevação dessa taxa. É comum que as mulheres desses países procriem mais em decorrência da falta de acesso à saúde, a métodos contraceptivos e à educação. Já nos países desenvolvidos, há um declínio dessa taxa, refletindo no envelhecimento populacional e na diminuição da população economicamente ativa (população inserida no mercado de trabalho). Taxas de natalidade e de mortalidade no mundoO crescimento populacional é expressivo no mundo todo, apesar de estudos - como a revisão apresentada em 2017 por meio das Perspectivas da População Mundial elaborado pelas Nações Unidas2 - indicarem uma queda nas taxas de crescimento, principalmente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Algumas previsões da Organização das Nações Unidas3 apontam que, por volta de 2050, após atingir 10 bilhões de habitantes, a população do mundo começará a diminuir. Em países como a China, é possível encontrar políticas de controle de natalidade com o objetivo de diminuir a população do país, que é o mais populoso do mundo. O governo chinês acredita que conter o número de nascimentos afetará positivamente na melhoria de vida dos habitantes, na diminuição da pobreza e na garantia de alimentação. A diminuição dessas taxas, no entanto, acarreta problemas, pois há um elevado número de idosos nesses países, o que demanda maiores gastos com sistemas de saúde e de previdência. Outro reflexo é a redução da população economicamente ativa e, consequentemente, a redução do número de adultos em idade pró-ativa. → Países com maiores taxas de natalidade1. Níger – 50‰ 2. Mali – 47‰ 3. Uganda – 44‰ 4. Zâmbia – 43‰ 5. Burkina Faso – 41‰ → Países com maiores taxas de mortalidade1. Ucrânia – 17‰ 2. Letônia - 16‰ 3. Lituânia - 16‰ 4. Bulgária – 16‰ 5. Lesoto – 15‰ Dados IBGE - 20144 Taxas de natalidade e de mortalidade no BrasilA análise das taxas de natalidade e de mortalidade no Brasil permite identificar algumas tendências demográficas. Uma delas é a diminuição da taxa de natalidade, consequente de uma significativa melhora na qualidade de vida dos brasileiros. Outro fator relevante nessa redução é o aumento da urbanização, que alterou o modo de vida da maioria das famílias brasileiras. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística5, a taxa de natalidade no Brasil apresenta decréscimo ao longo dos anos. No ano de 2000, a taxa de natalidade era de 20,86 por mil habitantes. Em 2005, a taxa caiu para 18,15 a cada mil habitantes, chegando a 14,16 por mil habitantes em 2015. A taxa de mortalidade também apresenta uma queda, apesar de ser menos expressiva do que a taxa de natalidade. No ano 2000, a taxa de mortalidade era de 6,67 a cada mil habitantes, caindo para 6,20 por mil habitantes em 2005. Em 2015, o número caiu para 6,08 por mil habitantes. Outro aspecto relevante para análise da dinâmica populacional brasileira refere-se ao número de jovens, que apresenta tendência de diminuição, um reflexo da queda das taxas de natalidade e de fecundidade. Em contrapartida, o aumento do número de idosos aponta uma melhoria na expectativa de vida dos brasileiros, mas não descarta a dificuldade para sobreviverem, visto que o Brasil enfrenta problemas na esfera previdenciária. _______________________________ 1 https://www.unicef.org/brazil/pt/Pags_008_019_Mortalidade.pdf |