Como comparar cristo com lula ridiculizado

• WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

  

  O ex-presidente Lula em comício da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), candidata a prefeita do Rio de Janeiro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a comparar a sua trajetória de vida com a de Jesus Cristo durante comício da candidata a prefeita do Rio de Janeiro Jandira Feghali (PCdoB), nesta segunda-feira (26), no bairro de Bangu. E voltou a insinuar que pode ser candidato a presidente nas eleições de 2018.

Citando o que chama de perseguição do MPF (Ministério Público Federal) e do juiz Sergio Moro, que está responsável pela análise dos pedidos relativos à Operação Lava Jato, Lula disse que não queria se comparar a Jesus Cristo, "mas ele também foi perseguido. Herodes mandou matá-lo antes de nascer. Tiradentes lutou pela independência e mataram o bichinho. Mas eles mataram a carne, e as ideias ficaram. Eles aguentaram o Getúlio 30 anos como ditador, mas não o aguentaram quatro anos de democracia e o obrigaram a se matar."

Em tom de galhofa, mas também em tom de "ameaça", o ex-presidente, que ignorou a prisão do ex-ministro da fazenda Antonio Palocci, disse que estava quieto no canto dele. "Eu não era candidato, mas vocês se tornaram meu maior cabo eleitoral uma força quase impossível de parar."

Aos procuradores do MPF, Lula dirigiu várias críticas. "Há um ódio acumulado contra mim. Vejo nesses meninos procuradores esse ódio. Eu não prestei concurso, tenho diploma de torneiro mecânico. O concurso não mede caráter, ética. É como a carteira de motorista. Não é porque você tirou a carta que sabe dirigir. Sou um cidadão indignado. Não posso aceitar as ofensas de um menino procurador que diz que formei uma quadrilha, que diz que não tem provas, mas que tem convicção."

Houve também mágoas em relação aos concorrentes de Jandira e seus apoiadores. "Tô aqui por lealdade, uma palavra pouco usada nesse país. Tô aqui por gratidão. Muita gente esquece a gratidão rapidamente. O [Marcelo] Crivella (PRB) é cristão, e como cristão a gente não pode trair. Ele foi ministro da [ex-presidente] Dilma [Rousseff], escolhido por ela. Na primeira vez que a Dilma precisou dele, ele se recusou a ser honesto pela Dilma e votou pela cassação da mulher que o tornou Ministro da Pesca. Crivella se tornou um pescador de águas turvas. Crivella, que apoiei contra o candidato do [ex-governador Sérgio] Cabral, você não me deve nada. Deve a sua consciência."

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), também alvo do ressentimento de Lula. "Paes foi um dos deputados federais que mais atacou meu filho. Já Cabral foi pedir apoio a mim para o Paes. Minha mulher se recusou a receber o Eduardo Paes. Eu conversei com Cabral e apoiei Paes no Rio contra a vontade da minha mulher. Qual não foi o meu dissabor quando Cabral liberou o filho deputado [Marco Antonio Cabral] para votar contra Dilma. Poderiam não ter ido votar. Vocês não me devem nada. Mas é importante saber que o mundo é redondo é ele dá voltas."

(Colaborou Marcelo Moreira)

Padre Waldir é prefeito de Picos, no Piauí

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi comparado neste sábado (2.set.2017) a Jesus Cristo durante sua passagem pela cidade de Picos, no interior do Piauí. A analogia foi feita por seu correligionário Padre Waldir, prefeito da cidade. Antes, Lula recebeu o título de “cidadão picoense”.

“No Brasil tem-se a mania de dar o título de rei. Somente a 1 homem foi dado o título de rei por reconhecimento, por merecimento. E a este também foi dado o castigo de ser preso e a ser morto na cruz. Quem foi?”, questionou o prefeito.

“Jesus!”, clamou a plateia.

“Ele cantou muito? Não. Ele jogou muito futebol? Não. Ele falava bonito? Ele estava junto aos pobres. Somente a este foi dado o título de rei. E também a este foi botado na cruz”, afirmou.

Padre Walmir fez uma comparação de Lula e Jesus com outras personalidades consideradas “reis” em suas categorias, como o ex-jogador de futebol Pelé e o cantor Roberto Carlos.

“Digamos: Luiz Inácio Lula da Silva, o rei do Brasil. Esse título, pelo que eu sei, presidente, não foi porque o senhor canta bem, não porque joga futebol muito bem [nesse momento, Lula faz 1 gesto ironizando a fala: “mais ou menos”], não porque ele anda sorrindo bonito para as pessoas. É 1 homem normal como qualquer 1 de nós”, disse, completando:

“Que briga, que xinga, que diz palavrão. Jesus também se zangava. Quem não conhece a passagem lá no templo quando ele se zangou e chicoteou muita gente?”, declarou.

Ao final do discurso, o prefeito puxou a oração do Pai Nosso. Lula o acompanhou de mãos dadas ao governador do Piauí, Wellington Dias (PT).

RETA FINAL

A caravana do ex-presidente pelo Nordeste já está na reta final. Lula fica no Piauí até a manhã de 2ª feira (4.set). Antes de embarcar para São Luís, ele receberá o título de doutor honoris causa da UFPI (Universidade Federal do Piauí).

Lula tem diminuído a duração de seus discursos nos atos. Sua voz está cansada. “A minha garganta já está feita caminhão velho. Está fazendo uêm, uêm, uêm”, disse Lula durante o ato em Picos.

Assista à íntegra do ato em Picos (PI):

Adesão popular

Até a publicação deste texto, não havia imagens mostrando com clareza o tamanho do público que acompanhou a passagem do ex-presidente por Picos, que tem cerca de 76.000 habitantes.

A caravana do ex-presidente tem dado ao político destaque na imprensa. A adesão popular, porém, ainda é duvidosa. Circulam na internet vídeos que seriam de recepções esvaziadas ao ex-presidente.

“Ele (Bolsonaro) disse que se no tempo de Jesus Cristo tivesse pistola, ele teria comprado uma. Não é possível que uma pessoa que pensa algo assim – e fala uma cretinice dessa – diga que é cristão ou crê em Deus. Vocês podem ter certeza que o Deus de uma pessoa dessa não é o teu Deus e não é o meu. Meu Deus significa amor, humanismo, bondade, carinho e respeito pelos outros seres humanos”, disse Lula aos apoiadores durante o evento que aconteceu em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

Depois, o petista afirmou que, caso vença as eleições, assumirá o compromisso de combater a garimpagem em terras indígenas. “É importante a gente nunca esquecer que não são os índios que estão ocupando a nossa terra. Foram os portugueses que ocuparam a terra deles em 1500. Portanto, a demarcação da terra indígena é um compromisso moral e ético daqueles que são humanistas”, avaliou.