O que você conclui ao observar os gastos militares

A tensão entre Irã e os Estados Unidos da América iniciada na última quinta-feira, após o assassinato do general iraniano Qasem Al-Soleimaini, revelou novos questionamentos acerca da necessidade da ação militar dos EUA no Oriente Médio. O jornalista Jamil Chade, do UOL, levantou dados que indicam que o custo da presença do Exército americano no país seria suficiente para eliminar a fome e o aquecimento global.

Desde 2001, os Estados Unidos gastaram cerca de 6 trilhões com o Pentágono (o Departamento de Defesa dos EUA) segundo o Watson Institute, da Universidade de Brown. Essa quantia (equivalente a 3 vezes o Produto Interno Brasileiro em 2019) seria capaz de literalmente acabar com a fome no mundo e com o aquecimento global.

O que você conclui ao observar os gastos militares

Soldado americano na Guerra do Iraque, em 2003

Desde 2001 – após os ataques terroristas ao World Trade Center -, os EUA mantiveram uma política contínua de “Guerra ao Terror”, causando instabilidade a regimes dentro do Oriente Médio e intensificando a tensão na região. Com início na Guerra do Afeganistão – que já dura 18 anos-, continuada pela Guerra do Iraque, a morte de Saddam Hussein, além da derrubada de Muam,ar Al-Gaddafi na Líbia, o financiamento de grupos rebeldes contra o governo de Bashar Al-Assad, na Síria, e o mais recente bombardeio à bases Iranianas na região pérsica, as administrações Bush, Obama e Trump mantém  um modus operandi de desestabilização de inimigos na região.

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Os 6 trilhões apurados pelo estudo não incluem gastos preparativos com a guerra, como treinamento contínuo ou testes em solo americano,nem os gastos trilhonários que os EUA terão com o pagamento de pensões aos veteranos de guerra. Além disso, mais de 4 mil vidas foram perdidas e 32 mil soldados americanos foram gravemente feridos desde então.

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O Pentágono gastou mais de 6 trilhões com intervenções no Oriente Médio nos últimos anos

“O elevado nível de gastos com a guerra e outros preparativos militares pode não ser proporcional às ameaças que os EUA enfrentam. Quando associados à retórica agressiva que tem caracterizado a política externa dos EUA nos últimos anos, estes elevados níveis de gastos e a expansão das operações antiterror dos EUA em todo o mundo podem ser muito alarmantes para estados e povos que, de outra forma, não teriam motivos para aumentar os seus próprios gastos militares e forças armadas”, afirma o estudo da Universidade de Brown, colocando em cheque os gastos militares da potência.

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Gasto suficiente para eliminar com a fome e aquecimento global

Segundo Ban-Ki Moon, ex-secretário geral da ONU, e Kristalina Giorgeva, diretora do Banco Mundial, cerca de 1,8 trilhão de dólares seriam necessários para extinguir os impactos do aquecimento global a curto prazo. Além disso, os investimentos trariam retornos em mais dinheiro. O investimento em novas formas de agricultura, energia sustentável e gestão hídrica poderiam trazer retorno financeiro e prorrogariam a existência da humanidade no planeta Terra.

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As administrações Obama e Bush mantiveram a política de intervenção militar no Médio Oriente

Estudos mais conservadores dizem que um pequeno investimento de 300 bilhões de dólares – algo como o Produto Interno Bruto do Chile – já poderiam conter os impactos dos gases de efeito estufa na atmosfera, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O diretor geral assistente da organização, René Castro Salazar, afirma que isso já seria o suficiente.

“Com vontade política e investimento de cerca de US$ 300 bilhões, é factível. Usando as opções de menor custo que temos, enquanto aguardamos as tecnologias de energia e transporte amadurecerem e ficarem totalmente disponíveis no mercado. Isso estabilizará as mudanças atmosféricas, a luta contra as mudanças climáticas, por 15 a 20 anos. Nós precisamos muito disso”, afirmou Salazar.

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Dos 6 trilhões já gastos pelos EUA, dois planos de ação para eliminar o aquecimento global já teriam sido postos em prática e ainda sobrariam 3,9 trilhões de dólares, certo? Vamos observar, então, quanto custa para que nenhuma pessoa no mundo passasse fome:

Segundo a FAO, os governos ao redor do mundo, unidos, deveriam investir cerca de 265 bilhões de dólares por ano durante 15 anos em programas de combate à fome para que nenhuma pessoa no planeta passasse necessidades alimentares. A somatória do valor dá 3,9 trilhões de dólares.

No total, os Estados Unidos poderiam não ter ido à guerra do Iraque, Afeganistão e comandado ações militares diversas em uma dúzia de países no Oriente Médio. Sobraria dinheiro para acabar com dois dos maiores problemas que a humanidade tem: alimentação e clima. Mas esse dinheiro não é gasto à toa. Ele vai para o bolso de alguém.

Os senhores da guerra

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George Bush (dir.) e Dick Cheney (esq.), articulador da guerra do Iraque que lucrou mais de 40 bilhões com o conflito

Os EUA não tem empresas estatais que fabricam armas e equipamentos de guerra. O dinheiro gasto em treinamento e equipamento militar para desestabilizar regimes e conquistar reservas de petróleo no Oriente Médio vão diretamente para empresas fabricantes de armas, aviões, mísseis e diversos outros tipos de serviços envolvidos nas guerras.

As companhias armamentistas nos EUA chega a 54 milhões de dólares para políticos americanos defenderem seus poderes na última eleição para o Congresso. Em 2016, o presidente Donald J. Trump recebeu 30 milhões de dólares da NRA, uma espécie de ONG que defende o interesse das fabricantes de armas instaladas na maior potência do mundo.

O ex-vice-presidente Dick Cheney lucrou mais de 40 bilhões após os EUA declararem guerra ao Iraque, após ter sua empresa de logística prestando serviço direto para o governo Bush. As reservas de petróleo Iraquianas, que, em 2003, estavam sobre domínio do governo de Hussein, foram privatizadas e hoje estão nas mãos de empresas americanas como a Exxon.

“É politicamente inconveniente reconhecer o que todos sabem: a guerra no Iraque é, em grande parte, por conta do petróleo”, afirmou o ex-presidente do Banco Central Americano.

Somente no Iraque, a extração de petróleo pode gerar mais de 5 bilhões para as contas dos empresários americanos. E o investimento, pode, no fim das contas, valer a pena. Portanto, a quem interessa eliminar o aquecimento global e a fome, quando se pode ganhar bilhões de dólares a custo da morte de inocentes?

23 de Abril, 2017 - 20:00 ( Brasília )

Nota DefesaNet

English version:


SIPRI - Trends in World Military Expenditure - 2016 [DefesaNet Link]

(Estocolmo, 24 de abril de 2017) O total de gastos militares no mundo aumentou para US$ 1,686 Trilhão, em 2016, um aumento de 0,4% em termos reais a partir de 2015, de acordo com novos dados do Instituto Internacional de Pesquisa para Paz, de Estocolmo (Stockholm International Peace Research Institute - SIPRI) As despesas militares na América do Norte viram seu primeiro aumento anual desde 2010, enquanto as despesas na Europa Ocidental cresceram pelo segundo ano consecutivo. A atualização anual abrangente do Banco de Dados de Despesas Militares do SIPRI está disponível a partir de hoje em www.sipri.org. As despesas militares mundiais aumentaram, pelo segundo ano consecutivo, para um total de US$ 1,686 trilhão, em 2016 - o primeiro aumento anual consecutivo desde 2011, quando os gastos atingiram seu pico de US$ 1,699 Trilhão.  As tendências e os padrões de gastos militares variam consideravelmente entre as regiões. As despesas continuaram a crescer na Ásia e Oceania, na Europa Central e Oriental e no Norte da África. Em contrapartida, os gastos caíram na América Central e no Caribe, no Oriente Médio (com base nos países para os quais existem dados disponíveis), na América do Sul e na África subsaariana.

Os gastos dos EUA voltam ao crescimento; Os gastos da Arábia Saudita caem significativamente

Os Estados Unidos continuam a ser o país com o maior gasto militar anual no mundo. Os gastos militares dos EUA cresceram 1,7 por cento entre 2015 e 2016 para US $ 611 bilhões. As despesas militares da China, que foi o segundo maiores gastos, em 2016, aumentaram 5,4 por cento para US$ 215 bilhões, uma taxa de crescimento muito menor do que em anos anteriores. A Rússia aumentou seus gastos em 5,9% em 2016 para US$ 69,2 bilhões, tornando-se o terceiro maior orçamento. A Arábia Saudita foi o terceiro maior orçamento, em 2015, mas caiu para a quarta posição, em 2016. As despesas da Arábia Saudita caíram 30 %, em 2016 para US$ 63,7 bilhões, apesar de seu contínuo envolvimento em guerras regionais. As despesas militares da Índia cresceram 8,5% em 2016 para US$ 55,9 bilhões, tornando-se o quinto maior investimento.

O que você conclui ao observar os gastos militares

O crescimento das despesas militares dos EUA em 2016 pode sinalizar o fim de uma tendência de diminuição dos investimentos, resultante da crise econômica (2008) e da retirada das tropas dos EUA do Afeganistão e do Iraque. Os gastos dos EUA em 2016 permaneceram 20% abaixo do seu pico de 2010. "Apesar das contínuas restrições legais ao orçamento geral dos EUA, os aumentos nos gastos militares foram acordados com Congresso", disse o Dr. Aude Fleurant, Diretor do SIPRI Arms and Military Dispenditure (AMEX). "Os padrões de gastos futuros permanecem incertos devido à mudança da situação política nos EUA".

Aumentos na Europa ligados à percepção crescente de ameaças

As despesas militares na Europa Ocidental aumentaram pelo segundo ano consecutivo e subiram 2,6 por cento em 2016. Houve aumentos de gastos em todos os países, menos em três, na Europa Ocidental. A Itália registrou o aumento mais notável, com os gastos subindo 11% entre 2015 e 2016. Os países com os maiores aumentos relativos das despesas militares entre 2015 e 2016 estão na Europa Central. Os gastos globais na Europa Central cresceram 2,4% em 2016. "O crescimento das despesas de muitos países na Europa Central pode ser parcialmente atribuído à percepção de que a Rússia representa uma ameaça maior", disse Siemon Wezeman, pesquisador sênior do programa SIPRI AMEX . "Isto apesar do fato de que os gastos da Rússia em 2016 foram apenas 27 por cento do total combinado de membros europeus da OTAN."

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Grandes quedas nas despesas militares em muitos países exportadores de petróleo "A queda das receitas do petróleo e os problemas econômicos associados ao choque do preço do petróleo obrigaram muitos países exportadores de petróleo a reduzir os gastos militares", disse o Dr. Nan Tian, ??pesquisador do programa SIPRI AMEX. "Por exemplo, entre 2015 e 2016 a Arábia Saudita teve a maior queda absoluta em gastos de US $ 25,8 bilhões". Os maiores cortes nas despesas militares em 2016 relacionaram-se com a queda das receitas petrolíferas nacionais na:

-  Venezuela (-56 %); -  Sul do Sudão (-54 %); -  Azerbaijão (-36 %); -  Iraque (-36 %), e,

-  Arábia Saudita (-30 %).


Outras diminuições notáveis ??foram observadas em Angola, Equador, Cazaquistão, México, Omã e Peru. Apenas 2 dos 15 países com maiores quedas em gastos em 2016 não são exportadores de petróleo. No entanto, uma minoria de países exportadores de petróleo, como a Argélia, o Irã, o Kuwait e a Noruega, estão mais bem equipadas economicamente para lidar com os choques do preço do petróleo e poderão continuar com os seus planos de despesas existentes em 2016.

Outros desenvolvimentos notáveis

• As despesas militares mundiais em 2016 representaram 2,2% do PIB mundial. As despesas militares em percentagem do PIB foram as mais elevadas no Oriente Médio (para os países onde existem dados disponíveis), com uma média de 6,0 por cento do PIB em 2016, enquanto a mais baixa foi nas Américas, com uma média de 1,3 por cento do PIB. • As despesas na África diminuíram 1,3% em 2016, um segundo ano de queda após 11 anos consecutivos de aumentos. Isto se deveu principalmente aos cortes de gastos nos países exportadores de petróleo da África Subsaariana (por exemplo, Angola e Sudão do Sul). • Na Ásia e Oceania, as despesas militares aumentaram 4,6% em 2016. Os níveis de despesa estão relacionados com as muitas tensões na região, tais como os direitos territoriais no Mar da China Meridional. • As despesas militares na América Central e no Caribe e na América do Sul combinadas diminuíram 7,8 por cento para um nível não observado desde 2007. A queda é explicada em grande parte pelas reduções de gastos por países exportadores de petróleo, como Equador, México, Peru e Venezuela. Os gastos do Brasil continuaram a cair em consequência do agravamento da crise econômica. O Brasil caiu uma posição relativa de 12 para 13 como o maior orçamento (US$ 23,7 bilhões). • Não existe uma estimativa para o Oriente Médio, uma vez que os dados não estão disponíveis para vários gastadores importantes, como os Emirados Árabes Unidos. Para países onde os dados estão disponíveis, aumentos substanciais foram observados no Irã e Kuwait, enquanto diminuições consideráveis ??foram observadas no Iraque e na Arábia Saudita.

* Todas as variações percentuais são expressas em termos reais (preços constantes de 2015).

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