Como a população mundial esta reagindo ao terrorismo

Legenda: António Guterres condenou o atentado e se solidarizou com os mortos e feridos

Foto: © Evan Schneider/Nações Unidas

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres condenou os atentados terroristas nos arredores do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, depois que uma explosão e tiros foram registrados nesta quinta-feira (26), e manifestou apoio aos feridos e às famílias dos mortos. “Ele condena este ataque terrorista que matou e feriu diversos civis. Ele se solidariza e deseja uma rápida recuperação dos feridos”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, aos jornalistas.

Dujarric ressaltou que era responsabilidade das autoridades proteger os civis e a infraestrutura civil, incluindo o aeroporto. De acordo com relatos da mídia, supostos homens-bomba atingiram os portões do aeroporto de Cabul com pelo menos duas explosões, deixando mais de 100 pessoas mortas, incluindo crianças e 13 militares americanos.

Esperanças frustradas - Os ataques ocorreram em meio a uma multidão fora do aeroporto, onde milhares de afegãos estão se reunindo com a esperança de deixar o país, agora sob o domínio do Talibã.

“Este incidente ressalta a volatilidade da situação local no Afeganistão, mas também fortalece nossa determinação enquanto continuamos a fornecer assistência urgente em todo o país em apoio ao povo afegão”, acrescentou Dujarric.

O porta-voz disse que a ONU está fazendo uma contagem de funcionários, mas até agora, não há nenhuma indicação de fatalidades de pessoal da ONU - embora alguns funcionários estivessem perto do complexo do aeroporto.

Ataque abominável - Outros órgãos e agências da ONU também condenaram o ataque em termos veementes.

“Os membros do Conselho de Segurança reafirmaram que o terrorismo em todas as suas formas e manifestações constitui uma das ameaças mais sérias à paz e segurança internacionais”, afirmou o Conselho de Segurança em um comunicado.

“Visar deliberadamente civis e pessoal que ajuda na evacuação de civis é especialmente abominável e deve ser condenado”, disseram os membros do Conselho.

Os embaixadores expressaram suas mais profundas condolências e condolências às famílias das vítimas e desejaram uma recuperação rápida e total aos feridos.

Legenda: Vista da cidade de Cabul, capital do Afeganistão (foto de arquivo)

O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Afeganistão, Hervé Ludovic De Lys, também se juntou a funcionários da ONU que condenaram o ataque. “Pedimos a todas as partes que garantam que as mulheres e crianças sejam protegidas em todos os momentos”, disse ele em um comunicado divulgado na sexta-feira (27), em que também expressou a "profunda preocupação" do UNICEF com a segurança das crianças e com o aumento de graves violações contra elas nas últimas semanas. Desde o início de 2021, mais de 550 crianças foram mortas e mais de 1.400 feridas no país.

O porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU (ACNUDH), Rupert Colville, chamou o ataque terrorista de um movimento horrendo" do ISIL Khorasan. “Foi claramente calculado para matar e mutilar o máximo de pessoas possível: civis, crianças, mulheres, pais, mães, bem como o Talibã e as forças estrangeiras que protegem o aeroporto”, disse.

“Foi um ataque projetado especificamente para causar carnificina e causou carnificina. Este foi um ataque hediondo a civis desesperados e esperamos que os responsáveis ​​sejam capturados e levados à justiça o mais rápido possível”, completou Colville.

O alto-comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, também reagiu aos ataques terroristas. “O horrível ataque à bomba em Cabul deve nos deixar ainda mais determinados a não deixar o povo afegão”, disse ele, em sua conta oficial no Twitter. Grandi acrescentou que agora é a hora de fazer mais pelos afegãos em risco e necessitados, e pelos que estão deslocados ou refugiados nos países vizinhos.

Afegãos enfrentam a fome - Uma crise de proporções sem precedentes está se desenrolando no Afeganistão à medida que o conflito, combinado com a seca e a pandemia da COVID-19, empurram o povo afegão para uma catástrofe humanitária. Na quarta-feira (25), o Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP) relatou que um em cada três afegãos, ou 14 milhões de pessoas, passam fome. Dois milhões de crianças desnutridas precisam urgentemente de tratamento.

Apelo da OIM - Em resposta à situação humanitária, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) lançou um apelo urgente de 24 milhões de dólares para ajudar as centenas de milhares de pessoas deslocadas dentro do país nos últimos dois meses.

O apelo do IOM é baseado em dados e avaliações de suas equipes de resposta rápida e monitores de proteção. Ele faz parte de uma necessidade de financiamento geral de 1,3 bilhão de dólares para todos os parceiros de ajuda sob o Plano de Resposta Humanitária do Afeganistão, que está em andamento.

Segundo o chefe da Missão da OIM no Afeganistão, Stuart Simpson, a agência está trabalhando para aumentar as operações e atender às necessidades mais urgentes que salvam vidas. As prioridades incluem abrigo e ajuda não alimentar; água, saneamento e higiene, conhecidos coletivamente como WASH (da sigla em inglês); saúde, proteção e assistência humanitária nas áreas de fronteira, bem como apoio emergencial aos meios de subsistência e coesão social.

Atualmente, cerca de 5,5 milhões de afegãos estão deslocados internamente, sendo que mais de 550 mil passou a integrar as estatísticas em 2021. Deste número, quase metade abandonou suas casas com o avanço do Talibã a partir de julho. 

Mais de 18 milhões de afegãos, ou quase metade da população, já precisavam de assistência humanitária, incluindo 10 milhões de crianças, com expectativa de aumento das necessidades.

Vinte anos se passaram desde os ataques de 11 de Setembro. A grande torre de um novo World Trade Center foi erguida no Marco Zero, onde ficavam as Torres Gêmeas, com um memorial às quase 3.000 vítimas dos ataques que atingiram os Estados Unidos e o mundo.

Nova York se recuperou do choque dos atentados. Hoje ela tem mais habitantes do que em 2001 e, até a pandemia de covid-19, a economia estava crescendo.

Mas nada é como antes, como poderia ser? Não só nos EUA, onde eventos e homenagens marcam esse dia que nunca será esquecido. Mas também em grande parte do Oriente Médio e no Afeganistão. A bandeira do Talibã está hasteada novamente, exatamente como há 20 anos.

Mas, quando um ataque terrorista matou recentemente cerca de 170 afegãos e mais de uma dúzia de soldados americanos durante a operação de evacuação no aeroporto de Cabul, o braço local do "Estado Islâmico" (EI) assumiu a autoria do crime.

Essa organização nem existia há 20 anos, quando começou a "guerra ao terror". No entanto, suas origens estão intimamente relacionadas a esta guerra - e a como ela foi travada.

"Sabemos muito bem que a ascensão do EI foi resultado direto da queda de Saddam Hussein em 2003", afirma Bernd Greiner.

Em entrevista à DW, o historiador de Hamburgo explica que grande parte da primeira geração de combatentes do EI veio do antigo exército de Saddam Hussein.

George W. Bush declarou o fim da guerra do Iraque, em maio de 2003

"O exército foi dissolvido pelos Estados Unidos. Centenas de milhares de jovens estavam nas ruas, sem nenhuma perspectiva de emprego. Isso é um terreno fértil para a radicalização", afirma.

Estiletes que começaram uma guerra

Em 2001, terroristas da Al-Qaeda derrubaram o World Trade Center, um símbolo de poder econômico, e atacaram o Pentágono, o centro do poder militar. Com o assassinato em massa, eles desencadearam um trauma nacional. E tudo usando apenas estiletes, com os quais transformaram aviões de passageiros em armas, guiados por um árabe saudita chamado Osama bin Ladende uma caverna no Afeganistão.

Uma humilhação sem precedentes para um país que, na época, talvez estivesse no auge de seu poder, que se sentia quase invulnerável, doze anos após sua vitória na "Guerra Fria" e o colapso da União Soviética.

Os EUA reagiram com perplexidade e luto - e tiveram a solidariedade de todo o mundo. Os americanos reagiram com raiva e buscaram vingança - e receberam apoio.

Uma ação policial ou uma operação com forças especiais, como ocorreria dez anos depois na eliminação do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, no Paquistão, estava fora de questão para o governo dos Estados Unidos.

Pela primeira vez na história da OTAN, foi declarado Casus foederis. Em uma ação militar legitimada pelo Conselho de Segurança da ONU como um ato de autodefesa, o Talibã no Afeganistão foi derrubado em poucos meses.

Quando George W. Bush atacou o Iraque em 2003, já não havia mais tal legitimidade. Houve apenas falsas alegações sobre as ligações de Saddam Hussein com os terroristas de 11 de setembro, bem como mentiras sobre o o ditador iraquiano estar produzindo armas de destruição em massa.

A "Nação Indispensável" demonstra seu poder

Muitos políticos americanos viram a oportunidade, após o 11 de Setembro, de demonstrar ao mundo que os Estados Unidos eram a "nação indispensável", afirma o historiador americano Stephen Wertheim em entrevista à DW.

"E eles demonstraram essa 'indispensabilidade' tentando redesenhar um país e uma região.

Bernd Greiner vê outro motivo. "Em sua impotência e incapacidade diante desse tipo de ataque assimétrico, os EUA queriam demonstrar ao mundo, e especialmente ao mundo árabe: qualquer um que mexer conosco no futuro, perderá seu direito de existir".

Para o historiador, esse foi "basicamente um ato simbólico, tanto no Afeganistão quanto no Iraque".

Ex-secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, ficou apreensivo com operação no Afeganistão.

Corroborando a hipótese de Greiner, apenas algumas semanas após o 11 de Setembro, a Casa Branca encarregou o Pentágono de desenvolver cenários para uma guerra contra o Iraque. E em seu livro, Bush at War, Bob Woodward relatou que o então secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, estava preocupado por não ter alvos suficientes para armas de alta tecnologia dos EUA no Afeganistão.

"Não queremos parecer que estamos martelando na areia", disse Rumsfeld. "Precisamos de algo para atacar. Mas não há tanta Al Qaeda para atacar".

Essa atitude era generalizada em outras partes do establishment político. Quando, por exemplo, o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger foi questionado por Michael Gerson, redator de discursos de George W. Bush, por que apoiava a guerra do Iraque, a resposta recebida foi: "Porque o Afeganistão não foi o suficiente".

Os opositores radicais dos EUA no mundo muçulmano queriam humilhar os Estados Unidos, "portanto, devemos humilhá-los".

Para o historiador Stephen Wertheim, o Iraque representou mais um palco para demonstrar força do que uma reação a uma ameaça.

Quase 1 milhão de vítimas da guerra

A "guerra ao terror" proclamada pelo presidente George W. Bush tornou-se uma guerra sem fronteiras. Uma guerra "que não é definida com precisão, nem temporal nem geograficamente. É travada globalmente", como explica Johannes Thimm, da Fundação de Ciência e Política de Berlim (SWP, na sigla em alemão).

O projeto Cost of War, da Brown University, apontou recentemente que os Estados Unidos aplicam iniciativas antiterrorismo em 85 países.

A equipe, que consiste em mais de 50 pesquisadores, juristas e ativistas de direitos humanos, levantou vários números assustadores. Na "guerra ao terror", quase 930.000 pessoas foram mortas diretamente em combate - quase 400.000 delas eram civis.

A cidade síria de Mossul em junho de 2018, um ano após ser libertada das mãoes do EI

Os números lançam uma luz diferente sobre as palavras do general americano Stanley A. McCrystal em seu discurso de posse como comandante da Força Internacional de Apoio à Segurança (ISAF, na sigla em inglês) no Afeganistão, em 2009.

"Eu acredito que a percepção pública de civis mortos é um dos inimigos mais perigosos que enfrentamos", disse na época.

Como consequência disso, a face mais sinistra da guerra foi amplamente escondida.

O público mundial reagiu com choque quando a plataforma Wikileaks revelou, em 2010, a verdadeira face das guerras no Iraque e no Afeganistão, com a divulgação do vídeo "Assassinato Colateral", evidências muito drásticas do assassinato de civis em Bagdá.

Perda de reputação

A reputação dos EUA já estava abalada. Não era a primeira vez que os líderes do país rasgavam a lei em sua guerra. Em uma entrevista à DW, o especialista do SWP Johannes Thimm lembra da reintrodução oficial da tortura.

"Porque a tortura era, na verdade, uma violação completa da lei. Há também uma razão pela qual não é chamada de tortura, mas sim de ‘técnicas aprimoradas de interrogatório'. Porque a tortura é simplesmente inequivocamente proibida pelo direito internacional”.

Houve, ainda, a detenção de suspeitos por décadas em áreas completamente à margem da lei, como a base naval dos EUA em Guantánamo. E, acima de tudo, a morte de suspeitos de terrorismo em ataques de drones: o Bureau Of Investigative Journalism contabilizou pelo menos 14.000 ataques com drones. Estima-se que entre 9.000 e 17.000 pessoas morreram, incluindo 2.000 civis e centenas de crianças.

"Mesmo que isso não possa ser provado empiricamente, minha impressão é que os assassinatos dirigidos por drones provavelmente produziram mais jihadistas no Afeganistão do que mataram", avalia Johannes Thimm.

Ataques com drones americanos já mataram vários civis

Não apenas no Afeganistão. O cientista político Julian Junk, da Fundação Hessian para Pesquisa em Paz e Conflitos (HSFK, na sigla em alemão), afirmou à DW que "podemos afirmar que os métodos extrajudiciais da 'guerra ao terror' tiveram um efeito mobilizador sobre os grupos salafistas e jihadistas”.

Um erro de oito trilhões de dólares?

De acordo com o Cost of War, os 20 anos da "guerra ao terror" custaram apenas aos Estados Unidos a soma inimaginável de oito trilhões de dólares. Com esse valor, é possível facilmente pagar pelo programa de infraestrutura de Joe Biden várias vezes.

É por isso que o especialista norte-americano Bernd Greiner chega à conclusão de que, mesmo desconsiderando as consequências para o resto do mundo: "Os EUA causaram imensos danos para si com essas despesas insanas nas guerras no Iraque e no Afeganistão". 

"Portanto, há tantos outros esforços dignos para os quais os Estados Unidos poderiam ter direcionado seus vastos recursos", lamenta o historiador americano Stephen Wertheim, "em vez de reagir destrutivamente aos ataques de 11 de Setembro”.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Lembrança silenciosa

Desde a inauguração em 2014, o Memorial e Museu Nacional do 11 de Setembro atrai milhões de visitantes. Ele homenageia as quase 3.000 vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001 e as vítimas do atentado à bomba ao World Trade Center em 1993. Todos os anos, em 11 de setembro, parentes se reúnem e leem os nomes dos mortos. Turistas e visitantes também fazem suas homanagens.

11/09: Nova York, 20 anos depois

World Trade Center em chamas

A imagem do segundo avião se aproximando do já em chamas World Trade Center para atingir a torre sul é uma das muitas que estão gravadas em nossas memórias coletivas. Um pouco depois, as torres sul e norte desabaram. Em seguida, uma terceira aeronave atingiu o Pentágono. O mundo inteiro acompanhou tudo ao vivo pela televisão.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Guerra contra a Al-Qaeda

Osama bin Laden e a rede terrorista que ele fundou, a Al-Qaeda, foram responsáveis pelos piores ataques da história dos Estados Unidos. Poucas semanas após a tragédia, em outubro, os EUA começaram seus esforços de guerra, com ataques aéreos ao Afeganistão. O objetivo declarado era destruir a Al Qaeda. Osama bin Laden foi encontrado e morto em Abbottabad, no Paquistão, dez anos depois, em 2011.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Novo arranha-céu

O One World Trade Center, construído no Marco Zero, local onde ficavam as Torres Gêmeas, se impõe sobre os outros edifícios de Nova York. Os 417 metros, sem contar a antena sobre ele, corresponde à altura do marco destruído em 2001. O lançamento da pedra fundamental acorreu em 4 de julho de 2004, feriado da Independência dos EUA. Menos de dez anos depois, ele foi inaugurado, em maio de 2013.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Memória, Educação e Arquitetura

O Memorial e Museu Nacional do 11 de Setembro se dedica a documentar, pesquisar e ensinar sobre os ataques ao World Trade Center. Projetado pelo arquiteto israelense-americano Michael Arad, atrai milhões de visitantes todos os anos. Só em 2018, mais de três milhões de pessoas visitaram o museu e mais de seis milhões o memorial.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Selfies no Marco Zero

A vida está quase de volta ao normal no local onde milhares de pessoas de diferentes origens e religiões perderam a vida há 20 anos. Selfies, turistas e um memorial fazem parte, hoje em dia, do lugar que mudou a história de Nova York, dos EUA e do mundo.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Um dos rostos da tragédia

Em 31 de agosto de 2021, uma pequena foto lembra o aniversário de Lauren Grandcolas. Ela morreu aos 38 anos, a bordo do vôo 93 da United Airlines. Passageiros atacaram os terroristas, que derrubaram o avião na Pensilvânia, antes de atingir o alvo. A história de Lauren sempre foi contada como um das muitas vidas perdidas no triste 11 de setembro de 2001.

11/09: Nova York, 20 anos depois

Memoriais por todo lugar

O Memorial Hudson Riverfront 11/9, em Nova Jersey, foi construído com os restos do World Trade Center e erguido no local onde as pessoas deixaram a balsa depois de serem evacuadas. Ele é um dos muitos memoriais em Nova York e seu entorno.

11/09: Nova York, 20 anos depois

20 anos depois

Nova York duas décadas depois do 11 de setembro: a cidade lamenta mais de 30.000 mortes devido ao coronavírus e dezenas de vítimas em tempestades históricas. Ainda assim, o mito da cidade que está constantemente se reinventando continua vivo.