Sobre o desperdício comente Cite alguns exemplos de desperdícios e como se pode combatê-los

Desde que somos crianças, nos acostumamos a ouvir de nossos pais que não devemos desperdiçar comida, pois existem muitas pessoas que necessitam e não têm o que comer. Assim, acabamos nos esforçando para comer aquele resto que fica em nosso prato. Dessa forma, de qualquer maneira fica marcado em nossa mente a questão do desperdício alimentar.

Sobre o desperdício comente Cite alguns exemplos de desperdícios e como se pode combatê-los

Entretanto, nos enganamos que sabemos bem sobre isso, pois esse problema vai muito além dos vegetais que nos recusamos a comer quando pequenos ou do excesso de comida que colocamos em nosso prato nos restaurantes self-service. Esse problema é bastante amplo e nos convida a conhecer mais sobre ele para entender melhor o que realmente é e quais são as suas causas e consequências.

Causas do desperdício de alimentos

Para entender melhor as causas, devemos separar bem alguns conceitos sobre o tema. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) orienta que se deve fazer uma certa distinção no conceito de desperdício de alimentos. Primeiro que, de uma forma geral, esse conceito está associado a um tipo de perda na cadeia produtiva dos alimentos, que vai da produção até o consumo propriamente dito.

Entretanto, são consideradas apenas as perdas intencionais. Ou seja, os alimentos que são descartados ou não consumidos. Porém, como é difícil separar o que é ou não intencional, a FAO prefere utilizar o termo “perda e desperdício de alimentos”. Dessa forma, vemos que o conceito de desperdício é muito mais amplo do que aquilo que de fato vem a nossa cabeça quando paramos para pensar sobre o tema.

A partir disso, podemos buscar entender melhor a respeito das causas do desperdício de alimentos. Existem diferentes momentos do “ciclo de vida” do alimento que podem ser divididos para entender melhor o desperdício.

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Esse ciclo se inicia na colheita, passa pelo transporte e armazenamento, segue pela exposição em comércio e varejo até chegar nas casas das pessoas. Aproximadamente 10% do que se produz é perdido já no início do ciclo, na colheita. Em países pobres, isso é intensificado pelo uso de tecnologia obsoleta ou insuficiente, o que resulta nessa perda.

Armazenamento e transporte correspondem a 30%. Aqui, o problema passa por condições precárias, tanto de armazenamento quanto de transporte. No caso do armazenamento, está incluído, por exemplo, uma refrigeração inadequada. Comércio e varejo representam a grande perda da cadeia de produção, com uma parcela de 50%.

As condições desses lugares, além de uma possível falta de interesse dos consumidores no produto, por inúmeros fatores, contribuem para turbinar esses números. É quase impossível de ver alimentos que foram completamente comprados pelo consumidor. Em último caso, o desperdício acontece nos domicílios, com uma parcela de 10% do total.

Prejuízos econômicos e ambientais do desperdício de alimentos

O que o desperdício de alimentos causa no ambiente é tão ruim quanto o prejuízo econômico gerado. Os dois lados são bastante afetados por essa situação e, por isso, é importante entender melhor sobre cada um.

Desperdício de alimentos: prejuízos econômicos

Uma das leis do mercado que quase todos conhecem diz respeito à oferta e demanda. Se a oferta for maior que a demanda, então os preços baixam. A demanda por comida não apresenta grandes alterações, afinal todos precisam comer.

Portanto, quando há alguma alteração na oferta, ela reflete no preço dos alimentos. Ou seja, quando há o desperdício, a oferta diminui, aumentando o preço dos alimentos. Resumindo, quanto mais comida se perde, mais cara ela fica para o consumidor final.

Apesar disso, para o pequeno produtor, ter tantas perdas em suas produções representa uma perda de dinheiro. De uma forma geral, a FAO calcula que o impacto do desperdício gire em torno de 750 bilhões de dólares anualmente.

Desperdício de alimentos: prejuízos ambientais

O custo ambiental do desperdício é enorme. Para que se consiga produzir alimentos em uma escala comercial, é necessário um grande gasto com transporte, agrotóxicos, água, desmatamento e gastos de energia. Imagine, então, que uma grande parcela desses recursos utilizados acabe se perdendo, ou seja, ainda mais recursos não renováveis são consumidos para produzir esse excedente, tendo que contar com o que se perde.

Cada um desses elementos pode representar um grande impacto no planeta. Maior necessidade de transporte e geração de energia representa uma maior emissão de CO², por exemplo. Mais agrotóxicos no meio ambiente pode afetar espécies nativas, rios e lençóis freáticos. Um gasto maior de água pode ser algo muito impactante quando se pensa na importância e na limitação desse recurso. Isso sem falar do desmatamento para áreas de agropecuária.

O desperdício de alimentos de origem animal é ainda mais impactante por conta de sua necessidade de maiores áreas para o gado, causando ainda mais desmatamentos que as plantações. Os impactos ambientais, portanto, são enormes.

Desperdício de alimentos no mundo

Dados sobre o desperdício de alimentos nos dão uma ideia de quanta comida é desperdiçada no mundo. A ONU lançou, em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Um desses objetivos diz respeito ao desperdício alimentar. Ele determina que a fome deve ser erradicada até 2030, considerando que cerca de 840 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo.

Uma meta traçada diz que é necessário reduzir em 50% a perda de alimentos. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente pelo globo. Esse índice de desperdício de alimentos é de praticamente um quarto do que se produz no mundo. A FAO estipula que, com a quantidade de comida perdida, seria possível erradicar a fome mundialmente. A fome e o desperdício de alimentos estão intimamente ligados.

O desperdício de alimentos no Brasil tem grande influência da cultura de que é melhor sobrar do que faltar no âmbito domiciliar. Aqui, as comprar são realizadas para o mês todo e alguns alimentos acabam se estragando. O brasileiro médio joga cerca de 41,6 kg de comida fora por ano. Juntando tudo o que se desperdiça no país, seria possível alimentar 13 milhões de pessoas.

Como evitar o desperdício de alimentos

O que pode ser feito para evitar o desperdício de alimentos é melhorar a produção. Melhorias no armazenamento, treinamento de produtores, investimento em embalagens, entre outras ações, que seriam de custo relativamente baixo, mas que já resultariam em certos cuidados para diminuir esse problema.

Mesmo representando apenas 10% das perdas, o consumidor também pode ajudar nessa causa e passar a diminuir o desperdício de comida. Você pode passar a consumir alimentos produzidos localmente, o que estimularia a venda de alimentos que não precisem ter tanto transporte. Além disso, você pode passar a utilizar partes não tão convencionais dos alimentos para consumo, como cascas e sementes. É possível, por exemplo, reaproveitar a casca da banana, ou até mesmo a do limão.

Se todos se empenharem em alcançar o objetivo proposto pela ONU, será possível diminuir o impacto causado pela perda de alimentos. Porém deve partir de todos a consciência da necessidade de mudança e união. Os governos podem auxiliar na produção, as empresas podem melhorar a cadeia e os consumidores podem tomar atitudes em suas casas para, assim, conseguir diminuir o desperdício alimentar no mundo.

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 (Foto: Dreamstime)

Uma das bases do sistema lean, ou mentalidade enxuta, é a busca pelos desperdícios que podem ocorrer cotidianamente numa empresa. O conceito é extremamente simples: desperdício é tudo que consome recursos, mas não agrega valor ao cliente. Difícil é eliminá-lo.

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Um grande problema dos desperdícios é que eles, na grande maioria das vezes, ficam escondidos em meio aos processos produtivos. E como encontrá-los é obviamente o primeiro passo para combatê-los e eliminá-los, isso muitas vezes não é uma tarefa das mais simples, pois eles se disfarçam de diversas formas.

Processos confusos misturam trabalho útil (que agrega valor) com desperdícios, perpetuando formas “antigas”, que são “herdadas”. As pessoas estão sempre atarefadas e passam a considerar “normais” ou “aceitáveis” formas extremamente ineficientes de realizar o trabalho – simplesmente porque sempre foi assim.

Uma boa dica para combater isso é tentar visualizar os “7 tipos de desperdícios” que podem ocorrer cotidianamente numa empresa. Trata-se de um conceito pioneiramente desenvolvido por Taiichi Ohno (1912-1990), um dos principais executivos da trajetória da Toyota, considerado um dos criadores do inovador sistema de gestão da montadora que deu origem à filosofia lean, autor de diversos livros sobre o tema.

Pois vamos tentar entender, então, os “7 desperdícios” explicitados por Ohno:

1. Produção em excesso

É quando a empresa produz mais do que precisa para atender o cliente. Cada etapa deve produzir exatamente, nem mais nem menos, o que pede ou exige o processo seguinte, de forma que a cadeia de valor atenda à demanda real. Trata-se da “mãe” de todos os desperdícios, pois acaba agravando todos os demais. Produzir em quantidade ou ritmo maior do que o necessário utiliza recursos desnecessariamente, gera estoques, deslocamentos etc., consumindo capacidade que deveria ser utilizada para fazer o que o cliente deseja.

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2. Espera

O ideal do sistema lean é que todos os processos ocorram em fluxo contínuo, entregando rapidamente para o cliente, sem interrupção. Esse desperdício ocorre quando alguém ou algum equipamento que deveria estar produzindo não está fazendo nada. Pessoas paradas, máquinas paradas... uma grande ineficiência. Observe atentamente em qualquer local de trabalho, seja chão de fábrica ou escritório. É fácil ver pessoas esperando materiais, informações etc. Isso acontece de forma bem mais frequente do que parece. Um dos principais motivos é a instabilidade e o desbalanceamento entre etapas, que fazem com que ocorra o “corre-para” ao longo de toda a cadeia.

3. Processamento desnecessário

É quando fazemos, para se produzir algo, ações que não precisariam ser feitas. Que mesmo que fossem eliminadas, não fariam a menor falta. Por exemplo, pessoas conferindo coisas que já foram conferidas anteriormente. Ou processos que faziam sentido em determinadas situações, mas foram mantidos, mesmo tendo sido mudadas as condições. Por exemplo, tratamentos estéticos em partes que não são visíveis, proteções que eram necessárias quando as peças aguardavam muito mais tempo em estoque, furações para acessórios que não são mais utilizados etc.

4. Estoque

Produtos ou serviços são feitos para serem consumidos. É assim que a empresa atende os clientes e tem sua remuneração. Se o que é produzido não é consumido – seja pelo consumidor final, seja pelo processo seguinte numa cadeia produtiva – temos estoques, um dos principais indicadores de um sistema com problemas. O custo financeiro de capital parado e não vendido é o desperdício mais evidente. Mas o estoque esconde vários outros problemas, por exemplo, ao retardar a detecção de defeitos, gerando muitas vezes retrabalhos em grandes lotes.

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5. Transporte

Quem atua com logística sabe o trabalho e o custo que se tem para movimentar materiais numa organização – seja interna ou externamente. Então, é um grande desperdício fazer qualquer tipo de transporte que poderia ser evitado. É quando, por exemplo, há movimentos de matérias-primas dentro de uma fábrica sem necessidade, frutos de fluxos truncados, estoques intermediários e distantes das linhas de produção, e esquemas de abastecimento ineficientes.

6. Movimentação

De forma similar, movimentos de pessoas sem necessidade também são desperdícios: consomem tempo que não está sendo usado para produzir, para criar valor. O ideal é que todo o movimento de um trabalhador seja usado para produzir, para criar valor. Por exemplo, ficar procurando uma ferramenta dentro de uma fábrica é perda de tempo. Ou estações de trabalho distantes, decorrentes de layouts que comportam enormes estoques entre operações, e que exigem que as pessoas deem muitos passos desnecessários, várias vezes, chegando a andar quilômetros num dia.

7. Correção

O ideal, num processo produtivo, é produzir certo “da primeira vez”. Pois assim, é claro, não será preciso produzir de novo. O sétimo desperdício identificado por Ohno é um dos que mais ocorrem nas organizações tradicionais: gastar tempo, gente e recursos para refazer, corrigir ou retrabalhar o que foi feito

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de forma errada. Isso envolve uma série de desperdícios típicos de processos produtivos cheios de falhas: necessidades de inspeções, manejos de refugos etc.

Os exemplos são muitos e diversificados. Vão depender do tipo de empresa, do produto, do serviço... mas os desperdícios mais comuns são esses.

Agora, então, é a sua vez. Vamos colocar a mão na massa? Quais desses 7 desperdícios ocorrem cotidianamente na sua organização? Dar consciência a todos sobre a existência desses desperdícios e criar uma sensação de inconformismo são os primeiros passos para eliminá-los.

*Flávio Picchi é presidente do Lean Institute Brasil e Prof. Dr. da Unicamp
 

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