Como é usado para comparação

Por Carmen Pimentel

Professora de Língua Portuguesa do Colégio Qi

As figuras de linguagem são recursos estilísticos usados na escrita ou na fala para realçar a mensagem, tornando-a mais expressiva. Ao identificar as figuras de linguagem, a compreensão do texto torna-se mais fácil, ampliando os horizontes do leitor, do ouvinte.

As figuras de linguagem se dividem em grupos:- Figuras de palavras (provocam alterações semânticas)- Figuras de pensamento (ligadas à compreensão do texto)- Figuras de construção (sonoras e de sintaxe)

Comparação e metáfora
Figuras muito recorrentes nos textos literários, a comparação e a metáfora fazem parte do grupo das figuras de palavras, também conhecidas como tropo – emprego figurado de palavra ou expressão.

A comparação e a metáfora são muito parecidas. Ambas empregam as palavras fora do seu sentido normal, por analogia. A diferença entre elas está no uso de termos comparativos.

A comparação usa alguns termos de conexão para comparar características entre dois ou mais elementos. Por exemplo: Os olhos dela eram como duas jabuticabas.

A metáfora é um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo, estabelecendo uma relação de semelhança, usando termos com significados diferentes do habitual. Por exemplo: A menina é um doce!

Nos exemplos, olhos e jabuticabas são comparados por analogia: as jabuticabas são redondas e escuras como os olhos da pessoa em questão. No caso do exemplo de metáfora, a menina é comparada a um doce por ser meiga, gentil, prestativa. Ou seja, doce, aqui, ganha significado diferente do habitual.

Poesia comentada

Desencanto - Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem choraDe desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca, Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca.- Eu faço versos como quem morre.

Observe o primeiro verso do poema:  “Eu faço versos como quem chora”. Neste verso, há uma comparação. O uso de como marca a relação de comparação entre o ato de fazer versos e o ato de chorar.

A segunda estrofe começa com o verso “Meu verso é sangue. Volúpia ardente...”. Aqui, a comparação entre verso e sangue acontece de maneira implícita, sem o uso de termos conectores. É, portanto, uma metáfora. E as metáforas continuam nas expressões volúpia ardente, tristeza esparsa, remorso vão. Todas se remetem à forma como o verso se apresenta para o eu lírico.

O poema termina com uma comparação: “Eu faço versos como quem morre”.

Manuel Bandeira pertence à geração dos modernistas da Semana de 22. Seu poema “Desencanto” reflete o ofício do poeta que, ao escrever seus poemas, sofre com a difícil arte de buscar palavras que expressem seus sentimentos.

Questão comentada

Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor.

Lembro-me de que certa noite, eu teria uns quatorze anos, quando muito, encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam carneado. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...)

Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.
(VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.)

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura, a) criar a fantasia. b) permitir o sonho. c) denunciar o real. d) criar o belo. e) fugir da náusea.

Comentário: Trata-se de uma metáfora, em que a lâmpada ganha significado de conhecimento. É preciso ter conhecimento para enxergar as situações com mais clareza e, assim, poder denunciar o que não está correto por meio da literatura e dos textos de modo geral. A resposta é a letra C.

Flávia Neves

Professora de Português

Comparação é uma figura de linguagem caracterizada pela aproximação entre dois ou mais elementos que apresentam uma característica em comum, podendo essa característica estar ou não salientada. Na comparação há sempre um conectivo comparativo que estabelece a ligação entre os termos comparados, sendo os mais usados: como, feito, tal qual, que nem, igual a,…

Sendo uma comparação simples, é estabelecida uma relação entre elementos do mesmo universo ou contexto. Sendo uma comparação metafórica, ou símile, é estabelecida uma relação entre elementos de diferentes universos ou contextos.

Exemplos de comparação simples:

  • O atleta etíope é mais rápido do que o atleta espanhol.
  • Matemática é tão importante quanto português.
  • Tiago é menos bagunceiro que Filipe.

Nota: Esse tipo de comparação se encontra estruturado nos graus dos adjetivos: grau comparativo de superioridade, grau comparativo de igualdade e grau comparativo de inferioridade.

Exemplos de comparação ou símile:

  • Meu irmão é teimoso como uma mula.
  • Seus olhos brilhavam que nem esmeraldas.
  • Nunca me vergarei e, tal qual uma árvore, morrerei de pé.

Exemplos de comparação ou símile na literatura e na música:

  • “Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)
  • “Para a florista,/as flores são como beijos/são como filhas,/são como fadas disfarçadas.” (Roseana Murray)
  • “A Via Láctea se desenrolava/Como um jorro de lágrimas ardentes.” (Olavo Bilac)
  • “E flutuou no ar como se fosse um pássaro/E se acabou no chão feito um pacote flácido.” (Chico Buarque)
  • “Te ver e não te querer (…)/É como mergulhar no rio/E não se molhar/É como não morrer de frio/No gelo polar.” (Samuel Rosa, Lelo Zanetti, Chico Amaral)

Comparação x metáfora

Essas duas figuras de linguagem estabelecem relações entre elementos que apresentam características comuns. Na comparação há sempre um elemento comparativo que torna a comparação explícita. Na metáfora, a comparação é feita de modo implícito, não havendo termo comparativo que marque essa comparação.

Exemplos:

  • Aquele atleta é forte como um touro. (comparação)
  • Aquele atleta é um touro. (metáfora)

Professora de português, revisora e lexicógrafa nascida no Rio de Janeiro e licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal (2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.

Comparação é a ação e o efeito de comparar, ou seja, observar as diferenças e semelhanças entre dois elementos, sejam pessoas, objetos, lugares ou coisas.

Vem do latim comparare , formado por partículas com , que significa 'reunir', e parare , que significa 'parar'. Assim, comparar significa analisar uma coisa lado a lado.

Fazer uma comparação envolve estabelecer um elemento comum a partir do qual fazer o exercício, uma vez que não faz sentido comparar coisas de natureza diferente.

Assim, uma comparação pode ser estabelecida a partir da observação de características físicas ou visuais. Por exemplo, comparando as diferenças e semelhanças entre duas raças diferentes de cães.

Dois elementos também podem ser comparados, com base em características psicológicas ou subjetivas. Por exemplo, a comparação do temperamento de duas pessoas.

Você também pode comparar a resolução de problemas ou tópicos. Por exemplo, como dois artistas resolvem representar o tema do amor ou da morte em uma obra pictórica.

Comparação gramatical

As comparações são feitas através da intermediação de idiomas. Do ponto de vista da gramática, existem diferentes graus de comparação: o positivo (exemplo: "Juan está cansado"), o comparativo ("Juan está mais cansado que Maria") e o superlativo ("Juan está cansado").

Comparação em retórica

A comparação também é uma questão de retórica, pois ajuda a enriquecer o discurso tanto em termos de conteúdo quanto em termos estéticos.

Assim, existem figuras como o símile . No símile, um significado é reforçado através da comparação com um elemento similar. Os termos que e como são uma parte invariável do símile. Por exemplo: "A criança corre como uma gazela em fuga". "Seu coração está duro como uma rocha."

Veja também:

  • Exemplos de símile ou comparação Figuras literárias.

Estudos comparativos

No final do século XIX, graças ao nascimento da disciplina de história cultural, os primeiros estudos comparativos começaram a ser realizados. Estes são tipos de pesquisa, estudo e análise de fenômenos culturais baseados em comparação.

Assim, capturando as diferenças culturais entre o Ocidente e outras culturas, surgiram disciplinas como mitologia comparada, religião comparada e literatura comparada, cujas abordagens variaram ao longo do tempo.

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